Crescimento sustentável de Vidigueira coloca o concelho no coração do mundo

O con­celho de Vi­di­gueira é re­co­nhe­cido pelo pa­tri­mónio de tra­balho, obra e re­a­li­zação da CDU à frente dos des­tinos do mu­ni­cípio ao longo das úl­timas dé­cadas. A gestão deste ter­ri­tório do dis­trito de Beja tem sido mar­cada por in­ves­ti­mentos em áreas es­sen­ciais, como infra-es­tru­turas, apoio so­cial, cul­tura e de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico. O Avante! falou com o pre­si­dente da Câ­mara Mu­ni­cipal (CMV), Rui Ra­poso, que a CDU re­can­di­data nas pró­ximas elei­ções.

«A po­pu­lação re­co­nhece o tra­balho re­a­li­zado»

O ac­tual man­dato ficou mar­cado pela inau­gu­ração, no dia 5 de Maio de 2024, do Parque Verde Ur­bano de Vi­di­gueira, con­ce­bido para servir toda a co­mu­ni­dade, com es­paços verdes, es­pe­lhos de água, áreas de jogos, um po­li­des­por­tivo e co­ne­xões a per­cursos pe­do­nais e ci­clo­vias. O pro­jecto, com um in­ves­ti­mento de apro­xi­ma­da­mente 2,6 mi­lhões de euros, foi par­ci­al­mente fi­nan­ciado pelo pro­grama Alen­tejo 2020 (FEDER).

A cri­ação deste parque visou não apenas a re­ge­ne­ração ur­bana e a qua­li­fi­cação am­bi­ental, mas também a pro­moção de eventos cul­tu­rais e des­por­tivos que re­forçam as tra­di­ções lo­cais e in­cen­tivam a fi­xação de re­si­dentes e em­presas na re­gião.

«Esta foi uma ideia com mais de 30 anos, que vem de man­datos an­te­ri­ores. O mu­ni­cípio era de­tentor do es­paço, dentro da malha ur­bana, com uma área con­si­de­rável, de cerca de três hec­tares», sa­li­entou Rui Ra­poso.

Mas foi no pro­grama elei­toral apre­sen­tado pela CDU em 2017 que a ideia se trans­formou em pro­posta. «Na al­tura tí­nhamos que apro­veitar os fundos do pro­grama ope­ra­ci­onal» e, pe­rante a «de­sis­tência de um outro pro­jecto», a re­cu­pe­ração da Praça da Re­pú­blica, que «tinha que ser re­visto» pela pro­xi­mi­dade à Igreja Ma­triz, com a pos­si­bi­li­dade de ser in­vi­a­bi­li­zada a obra, de­cidiu-se avançar com o Parque Verde Ur­bano de Vi­di­gueira, pen­sado pela equipa da Câ­mara Mu­ni­cipal, re­cordou o jovem au­tarca.

A epi­demia de COVID-19 não travou a con­cre­ti­zação deste equi­pa­mento, apesar do au­mento dos custos de pro­dução, em vir­tude das in­ter­rup­ções na ca­deia de abas­te­ci­mento e da es­cassez de mão-de-obra. «Con­ti­nuámos em ne­go­ci­a­ções com a Co­missão de Co­or­de­nação e De­sen­vol­vi­mento Re­gi­onal do Alen­tejo (CCDRA) e ti­vemos a co­ragem de avançar. Em 2024 inau­gu­rámos o es­paço e con­ti­nuámos a criar uma di­nâ­mica muito forte, quer a nível des­por­tivo, quer a nível cul­tural», en­vol­vendo todas as fre­gue­sias (Pe­drógão, Selmes, Vi­di­gueira e Vila de Frades), clubes e as­so­ci­a­ções do con­celho, des­tacou Rui Ra­poso.

Con­ti­nuar a tra­ba­lhar
No parque in­fantil está uma ré­plica da Nau São Ga­briel, em­bar­cação que fez parte da frota de Vasco da Gama na sua pri­meira vi­agem à Índia em 1497-1499, com a com­po­nente «de en­sinar a brincar».

Mas o es­paço ainda não está ter­mi­nado. «Ainda nos falta re­a­bi­litar o edi­fício cen­tral, que tem duas com­po­nentes, de ho­te­laria/​ca­fe­taria, para dar apoio a todo o es­paço, e mu­se­o­ló­gica», re­feriu, adi­an­tando estar já for­ma­li­zado um pro­to­colo com a Ma­rinha Por­tu­guesa para as­so­ciar o nome de Vasco da Gama ao con­celho, tendo em conta que em 1519 foi no­meado Conde da Vi­di­gueira pelo Rei D. Ma­nuel I. A sua fa­mília passou a re­sidir ali e o na­ve­gador foi se­pul­tado ini­ci­al­mente no Con­vento de São Fran­cisco, lo­ca­li­zado na vila. Só mais tarde, os seus restos mor­tais foram trans­fe­ridos para o Mos­teiro dos Je­ró­nimos, em Lisboa.

«Os pro­jectos, para além de cres­cerem e de se adap­tarem à re­a­li­dade, têm sempre que ter uma no­vi­dade, uma outra atrac­ti­vi­dade», para que «con­ti­nuem a ser vi­si­tá­veis» e isso passa pela in­te­rac­ti­vi­dade, como acon­tece já com o Museu Mu­ni­cipal e o Centro In­ter­pre­ta­tivo do Vinho da Talha.

Vol­tando ao Parque Verde: «Aquilo que nós sen­timos é que a po­pu­lação re­co­nhece o tra­balho re­a­li­zado» e «zela para o manter sempre em per­feitas con­di­ções». «Também quem nos vi­sita é sur­pre­en­dido», va­lo­rizou.

In­verter o ciclo de de­ser­ti­fi­cação
Na­quela «zona nobre», junto do Centro de Saúde, da Pis­cina Mu­ni­cipal, do Agru­pa­mento de Es­colas, a au­tar­quia ad­quiriu um ter­reno para cons­trução de ha­bi­tação a custos aces­sí­veis, pra­ti­ca­mente apro­vada pelo Ins­ti­tuto da Ha­bi­tação e da Re­a­bi­li­tação Ur­bana (IHRU), para ar­ren­da­mento de 34 vi­vendas, nas ti­po­lo­gias de v2 e v3, de modo a fixar jo­vens.

A es­tra­tégia já deu re­sul­tados, e dados ofi­ciais mos­tram uma in­versão da si­tu­ação, com o nú­mero de ha­bi­tantes a subir no con­celho. «Tudo isto é uma con­sequência do tra­balho feito an­te­ri­or­mente» pela CDU, pro­cu­rando «in­verter» a de­ser­ti­fi­cação do Alen­tejo, a partir da «di­vul­gação dos nossos pro­dutos de ex­ce­lência e do ter­ri­tório» com «in­ves­ti­mentos no eno­tu­rismo» e na Casta Antão Vaz, com «um peso muito grande a nível na­ci­onal e in­ter­na­ci­onal».

 

Centro In­ter­pre­ta­tivo do Vinho de Talha di­na­miza eco­nomia local

Outro equi­pa­mento que veio re­forçar a iden­ti­dade do con­celho como um dos grandes guar­diões da tra­dição do vinho da talha [um mé­todo de vi­ni­fi­cação in­tro­du­zido pelos ro­manos há mais de dois mil anos] foi o Centro In­ter­pre­ta­tivo do Vinho de Talha (CIVT), inau­gu­rado a 11 de No­vembro de 2020 na fre­guesia de Vila de Frades, que co­locou o con­celho de Vi­di­gueira no mapa do eno­tu­rismo e da va­lo­ri­zação do pa­tri­mónio ima­te­rial li­gado à pro­dução an­ces­tral do vinho.

O CIVT ofe­rece aos vi­si­tantes uma ex­pe­ri­ência imer­siva, uti­li­zando tec­no­logia de re­a­li­dade au­men­tada para narrar a his­tória do vinho de talha. O es­paço conduz os vi­si­tantes através do ciclo pro­du­tivo do vinho, desde a cul­tura da vinha, pas­sando pela pro­dução nas ta­lhas, até à tra­di­ci­onal ta­berna. Além disso, o centro pro­move eventos cul­tu­rais e ci­en­tí­ficos re­la­ci­o­nados com o pa­tri­mónio ima­te­rial do vinho de talha.

Neste con­celho existem ou­tros es­paços de­di­cados à his­tória e cul­tura do vinho na re­gião, como a Adega-Museu Cella Vi­naria An­tiqua e a Casa das Ta­lhas. Em 2024, o mú­sico An­tónio Zam­bujo foi no­meado em­bai­xador dos Vi­nhos da Vi­di­gueira.

Pro­jecto de ex­ce­lência
Se­gundo Rui Ra­poso, o Centro In­ter­pre­ta­tivo – inau­gu­rado em plena pan­demia de COVID-19 – já foi vi­si­tado por perto de 20 mil pes­soas. «É um pro­jecto muito in­te­res­sante» que foi cor­ri­gido e me­lho­rado, após o Tri­bunal de Contas ter re­cu­sado o visto ao con­trato de em­prei­tada em Se­tembro de 2017, re­cordou, acres­cen­tando que aquela de­cisão deu-lhe tempo – com três se­manas de exer­cício do cargo – de «olhar para o pro­jecto e adaptá-lo». Antes, «era só um es­paço de eventos; uma sala ampla para servir re­fei­ções e uma ta­berna. Não tinha mais nada. Um in­ves­ti­mento de 600 mil euros que ia servir para duas ini­ci­a­tivas anuais», re­feriu, con­si­de­rando não fazer sen­tido que o Centro «não fosse de in­ter­pre­tação e de co­nhe­ci­mento», com «con­teúdos de re­a­li­dade au­men­tada e di­gi­tais», onde não é es­que­cido «o pa­tri­mónio ar­que­o­ló­gico e a li­gação às ruínas ro­manas de São Cu­cu­fate» e «a tra­dição e iden­ti­dade do vinho de talha».

Can­di­da­tura à UNESCO
O pró­ximo passo foi avançar com uma can­di­da­tura da téc­nica de pro­dução do vinho de talha a Pa­tri­mónio Cul­tural Ima­te­rial da Hu­ma­ni­dade pela UNESCO, num pro­cesso que en­volve 22 mu­ni­cí­pios e sete en­ti­dades, que já foi sub­me­tido para ava­li­ação à Di­recção-Geral do Pa­tri­mónio Cul­tural, vi­sando a ins­crição no In­ven­tário Na­ci­onal do Pa­tri­mónio Cul­tural Ima­te­rial.

A «es­tra­tégia» foi «mos­trar o vinho de talha, atrair mais vi­si­tantes para o con­celho e dar sus­ten­ta­bi­li­dade aos pro­jectos que vão sur­gindo, de re­cu­pe­ração de adegas, de pro­dução de vinho e cri­ação de marcas de vinho de talha».

«Foi um pro­cesso de oito anos, de pro­moção e di­vul­gação, também com uma com­po­nente in­ter­na­ci­onal, com me­mo­randos de en­ten­di­mento com vá­rios países, como a Itália, o Japão ou a Geórgia. Hoje es­tamos ca­pa­ci­tados para poder apre­sentar uma can­di­da­tura na­ci­onal e trans­na­ci­onal», re­forçou Rui Ra­poso.

Aguarda-se pela de­cisão de a can­di­da­tura na­ci­onal ser apre­sen­tada à UNESCO. Se for apro­vada, para além da di­vul­gação mun­dial, o pro­duto vinho de talha terá um valor acres­cido e sur­girão novos pro­jectos no ter­ri­tório.

Vá­rias atrac­ti­vi­dades
As res­tantes fre­gue­sias in­te­gram este plano de acção mu­ni­cipal. Em Selmes aposta-se no tu­rismo re­li­gioso e no Pe­drógão no de na­tu­reza. «Criámos vá­rias atrac­ti­vi­dades para ajudar a ho­te­laria, os tu­rismos ru­rais, as pa­da­rias, os cafés, os res­tau­rantes, as lojas, e, desta forma, criar novos em­pregos. Este é um cres­ci­mento sus­ten­tável», frisou.

Pre­tende-se também criar um Centro Ex­pe­ri­mental do Pão Alen­te­jano, tendo a au­tar­quia já ad­qui­rido um edi­fício com o forno mais an­tigo da vila. O pro­jecto já está no Tu­rismo de Por­tugal a aguardar apro­vação.

Num fu­turo muito pró­ximo, este exe­cu­tivo pre­tende ainda criar me­lhores con­di­ções nos ser­viços de saúde; re­novar todas as es­colas do con­celho; cons­truir um ci­ne­te­atro; re­a­bi­litar a Praça da Re­pú­blica, a malha ur­bana [na sede do con­celho e nas fre­gue­sias] e a As­so­ci­ação Hu­ma­ni­tária dos Bom­beiros Vo­lun­tá­rios de Vi­di­gueira; criar um centro de co­mando de Pro­tecção Civil. De­pois, con­ti­nuar pro­jectos como o «Vi­di­gueira Fé­rias», que chega a cen­tenas de cri­anças [até de ou­tros con­ce­lhos vi­zi­nhos] ou o «Vi­di­gueira Mais In­clusão», de ocu­pação tem­po­rária de pes­soas de­sem­pre­gadas.

Em todas estas «de­ci­sões» estão «os va­lores da CDU», de «pre­o­cu­pação com o bem-comum», num ter­ri­tório que está a «crescer de forma sus­ten­tável, equi­li­brado e in­te­grado para toda a gente», as­se­gurou o pre­si­dente da Câ­mara.

 

An­tónio Rocha, na­tural de Vi­di­gueira, é o único ar­tesão es­pe­ci­a­li­zado na cons­trução de ta­lhas de barro na pro­dução do vinho de talha. Cada peça pode levar se­manas para ser con­cluída, exi­gindo um tra­balho mi­nu­cioso de mo­de­lagem, se­cagem e co­ze­dura em fornos es­pe­ciais, pen­sados e cons­truídos pelas suas mãos. A sua ofi­cina, o Te­lheiro Ar­te­sanal, é um es­paço de referência para quem de­seja com­pre­ender o pro­cesso de pro­dução das ta­lhas e a tra­dição vi­ní­cola da re­gião

 



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