Recursos, para quem e para quê?

Manuel Rodrigues

Questionado directamente pelo Secretário-Geral do PCP, num dos primeiros debates com este Governo na AR sobre a necessidade de aumentar os salários e as pensões, o primeiro-ministro respondeu com outra questão: e os recursos? Onde estão os recursos?.

Ora, ao contrário do que o PM quis insinuar, o que a realidade mostra é que o problema não está na falta de recursos. Está, antes, na sua injusta distribuição. Está no fim a que os mesmos estão a ser destinados. É só ver os colossais lucros dos grupos económicos, como ainda esta semana ficou demonstrado na divulgação dos lucros do Novo Banco, em 2024 – 744,6 milhões de euros, os mais elevados da sua história – ou, há poucos dias, nos lucros da GALP: 961 milhões de euros, só no último ano.

Ainda a comprovar que não passa de uma falácia a alegada falta de recursos está a notícia que no passado dia 3 de Março o jornal Público divulgava, referindo que «Portugal será chamado a contribuir com pelo menos 300 milhões de euros para um novo pacote adicional de apoio militar à Ucrânia no valor de 20 mil milhões de euros que está a ser desenhado em Bruxelas». Refere o jornal que Portugal “fará parte” do acordo com o apoio militar à Ucrânia com o contributo de 300 milhões de euros. E acrescenta que esse contributo português poderá mesmo chegar aos 450 milhões de euros.

Não há recursos? Há, sim, mas não para salários e pensões ou para assegurar as funções sociais do Estado. Há recursos, e muitos, desde que se destinem à acumulação dos lucros brutais pelos grupos económicos, ou às armas que engrossam fortunas, armas que causam a destruição e a morte em todos as partes do mundo onde o imperialismo entenda desencadear ou instigar conflitos e guerras para impor a sua rapina.

Sim, há recursos e são produzidos pelos trabalhadores. Será assim tão descabido exigir que, nessa distribuição, sejam estes a ter a parte mais substantiva, reflectida no aumento dos salários e das pensões?

É isso que os trabalhadores reclamam quando desenvolvem, como está a acontecer, uma luta sem tréguas. Luta que é necessária e é preciso intensificar.

 



Mais artigos de: Opinião

Um Partido necessário e insubstituível

Uma vez mais, já lá vão 104 anos, o nosso Partido comemora o seu aniversário. Um Partido que, orgulhoso do seu passado, convicto e confiante na sua acção e intervenção presentes, se mostra de olhos postos no futuro – e que faz deste Partido, o Partido Comunista Português, um Partido necessário...

Miséria de pensamento

Desorientação, desconcerto, fuga para a frente. Assim se poderia reduzir a reacção de Bruxelas e das principais potências europeias às mudanças adoptadas pela nova administração em Washington relativamente à guerra na Ucrânia e ao relacionamento com Moscovo, naquela que se afigura como uma potencial inflexão de 180 graus...

Para lá dos casos

Por mais que os casos envolvendo o primeiro-ministro e outros membros do Governo sejam reveladores da promiscuidade existente entre o poder político e os grupos económicos e de uma governação ao serviço de interesses particulares, não é sobre eles esta crónica. Ou não o é apenas. A questão é bem mais funda do que estes...

Vidas em comum

Nestes dias ficámos com a sensação de estar a assistir, ao vivo, a um desentendimento de velhos namorados, daqueles que partilham vidas em comum, mas andam permanentemente amuados um com o outro. Os apelos lancinantes dos mais variados dirigentes do PS, ao PSD e ao Governo para retirarem a moção de confiança e destes ao...

Macron... a TAP... nem assim?

A eliminação do pensamento crítico já foi tão longe que as classes dominantes já conseguem com que a maioria acredite em duas ideias completamente opostas ao mesmo tempo, sem que a crença numa leve a questionar a outra, ou a questionar as fontes de informação. É assim com a Rússia, da qual (quase) toda a gente sabe duas...