«Poderei eu alguma vez esquecer o sol?»

Manuel Rodrigues

«Quando orbitei a Terra numa nave espacial, vi pela primeira vez o quão bonito é o nosso planeta»

«Poderei eu alguma vez esquecer o Sol, fonte da vida do nosso planeta, exuberante de um branco azulado, completamente diferente da sua imagem observável desde a Terra? Os que o viram tal como ele é são ainda pouco numerosos. De todas as maneiras, estou certo de que muitos o verão, dezenas, centenas de terrestres, homens de todas as profissões e cidadãos de todos os países. Procurando decifrar os mistérios do Universo, eles sonharão com o bem dos homens.»

Foi com estas palavras que, por ocasião do cinquentenário da Revolução de Outubro, Iúri Gagárin se referiu ao primeiro voo humano no Espaço, que ele próprio tinha protagonizado a 12 de Abril de 1961 a bordo da nave Vostok-1, lançada do Cosmódromo de Baikonur, dando uma volta inteira em órbita da Terra, a 315 km de altitude, durante uma hora e 48 minutos.

Foi um acontecimento de extraordinário alcance e significado histórico, não só por se tratar do primeiro voo tripulado por um ser humano em órbita da terra – experiências anteriores haviam sido realizadas, também pela União Soviética: em 1957 havia lançado o primeiro satélite artificial, o Sputnik; e, no mesmo ano, colocou em órbita, a bordo do Sputnik-2, o primeiro ser vivo, a cadela Laika e, antes do Vostok-1, efectuou dois voos não tripulados (Korabl-Sputnik-4 e Korabl-Sputnik-5) –, mas também porque este voo confirmava os espantosos avanços conseguidos pela União Soviética nos planos tecnológico e científico, deixando verdadeiramente surpreendidos os EUA e o mundo. Traduzia ainda, sobretudo, as novas capacidades e potencialidades da construção de um sistema alternativo ao capitalismo, o socialismo, tarefa histórica iniciada com a Revolução de Outubro, em 1917, sob a direcção do Partido Comunista encabeçado por Lénine.

Foi de tal modo espantoso o feito de Iúri Gagárin que a Assembleia Geral da ONU viria a proclamar o 12 de Abril como o Dia Internacional do Voo Espacial Tripulado.

O voo de Iúri Gagárin foi, de facto, um feito notável. A mostrar o extraordinário avanço proporcionado pelo novo Estado, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), abrindo caminho a uma nova época histórica e a um mundo novo.

O voo de Iúri Gagárin tem ainda um outro significado que importa sublinhar: ele mostra as potencialidades que encerra para a felicidade do ser humano, a construção de uma nova sociedade sem exploradores nem explorados; a sublime importância do progresso técnico e científico quando colocado ao serviço da Paz e da Humanidade – e não da guerra, como faz sistematicamente o imperialismo, como se está a ver hoje nas guerras e na escalada armamentista que instiga, incluindo no espaço.

A paz, a cooperação e a amizade entre os povos é tão da sua natureza do socialismo, como a agressão, o conflito e a guerra marcam indelevelmente a natureza do capitalismo e do imperialismo que, alimentando-se da exploração, usam todos os meios para a sua insaciável acumulação de riqueza e sede de domínio. Nem que para isso tenham que destruir o ambiente, pilhar e massacrar os povos, lançar a barbárie e até, em última instância, pôr em causa a própria sobrevivência da Humanidade.

A 14 de Abril de 1961, já depois da sua pioneira viagem espacial, Iúri Gagárin afirmaria: «Quando orbitei a Terra numa nave espacial, vi pela primeira vez o quão bonito é o nosso planeta. Povo, vamos preservar e aumentar esta beleza e não destruí-la!»

Este é o grande desafio que está colocado a todos os povos que aspiram a um mundo de progresso social, de cooperação e de paz.

É também este o objectivo que o Partido Comunista Português assume e que esteve e está presente na sua luta de sempre e que hoje prossegue: pelos objectivos imediatos que norteiam a sua acção, pela ruptura com a política de direita, pela alternativa patriótica e de esquerda, que é parte integrante de uma democracia avançada vinculada aos valores de Abril, com o socialismo e o comunismo no horizonte.

Uma luta que, hoje como sempre, assume a defesa da paz como questão central e condição imprescindível para a construção da sociedade nova a que o futuro pertence.

E, nesta luta, ganha mais força todo o sentido e significado da afirmação de Gagárin: «poderei eu alguma vez esquecer o Sol, fonte da vida no nosso planeta?»

 



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