A política securitária e de guerra sustentada pelo medo
O Parlamento Europeu discutiu, numa mesma tarde, os relatórios de execução da Política Externa e de Defesa Comum (PEDC) e da Política Comum de Segurança e Defesa (PCSD), a nova estratégia europeia de segurança interna e a estratégia da União Europeia (UE) de preparação para crises.
Neste tríptico encontramos uma expressão evidente das orientações políticas da UE no sentido do aprofundamento do militarismo e da criação de um ambiente securitário e de ameaça a direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Tudo sustentado num discurso de promoção do medo, transformado em cavalo de Tróia dos tempos modernos para impor aos povos o que não lhes serve.
A PESC e a PCSD mantêm as suas orientações para o militarismo, para a guerra, para a política de ingerência e de confrontação como instrumentos de intervenção da UE à escala global.
Orientações, de resto, coerentes com o historial de desprezo pelos princípios do Direito Internacional e de cumplicidade da UE com guerras de agressão (como na Síria, na Líbia, no Iraque ou no Afeganistão) e com o silêncio igualmente cúmplice com o genocídio do povo palestiniano às mãos de Israel.
A estratégia europeia de segurança interna, por seu lado, não garante a segurança nem defende a democracia.
Nela encontramos a prioridade às agências europeias quando devia ser a do apoio ao investimento nas forças e serviços de segurança de segurança nacionais.
Reforçam-se mecanismos de vigilância das pessoas, apontam-se perspectivas de mais restrições de direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, desconsidera-se o combate à criminalidade económica e financeira (incluindo aquela que se desenvolve utilizando a liberdade de circulação de capitais e modernos meios e capacidades tecnológicos).
Instrumentalizam-se a religião e os migrantes, fazendo deles bodes expiatórios da criminalidade, enquanto se fecha os olhos a práticas criminais e ameaças que têm origem em forças de extrema-direita.
Na designada estratégia de preparação para crises apagam-se responsabilidades dos Estados e promove-se o medo e a ideologia da guerra.
Concebendo a preparação para as crises como uma responsabilidade individual dos cidadãos, a Comissão Europeia secundariza o papel dos Estados e a importância do investimento em estruturas e serviços públicos essenciais ou entidades centrais na garantia da protecção civil, como é o caso dos bombeiros.
Metendo no mesmo saco a preparação da resposta a dar a situações de catástrofes naturais (como sismos, incêndios ou inundações) com a resposta a situações de guerra, a Comissão Europeia promove sentimentos de medo nos povos para que, amendrontados, assimilem e aceitem o que naturalmente recusariam por se opor aos seus direitos e interesses.
Denunciar estas políticas é uma urgência que se impõe. Sacudir o medo em que se sustentam é o primeiro passo para as derrotar.