Causou justificado espanto um inquérito dirigido pela embaixada dos EUA a várias instituições universitárias. Como a atenção tem estado centrada em apenas em algumas das questões formuladas – e noutras sem nada a ver – merece a pena investigar um pouco mais, e sobretudo ler a totalidade dos 36 pontos inquiridos.
Estarão em causa os 6 American Corners (Recantos Americanos) existentes em polos universitários: Lisboa (3), Aveiro, Porto, Açores. Integram a engrenagem daquilo que os EUA designam como «diplomacia pública», uma rede que em 2013 contava 853 American Spaces (Espaços Americanos). Têm início há mais de um século, mas ganharam grande aceleração após o final da II Guerra Mundial. Sendo parte essencial da chamada «guerra-fria cultural», as suas bibliotecas foram até expurgadas pelo macartismo.
São polos de propaganda e de confronto político, cultural e ideológico. Houve quem acusasse de «ideológico» este inquérito. Mas, na sua grotesca forma e conteúdo, terá sido muito distante das razões que levaram à instalação destes «corners» onde estão? Será de agora a vontade de exercer uma influência de condicionamento político, ideológico (e até religioso), de imposição do interesse dos EUA com exclusão de qualquer outro, incluindo o interesse nacional?
É certo que existem linhas especialmente repugnantes neste inquérito. Como a questão 7, sobre o cumprimento da «Política da Cidade do México mais recente». Para quem não esteja a par, trata-se da política EUA de bloquear qualquer apoio à descriminalização, aconselhamento ou assistência à IVG. Mas é o conjunto que é elucidativo.
A arrogância e prepotência de Trump e dos seus tem a virtude de formular à bruta o que outros gostariam de apresentar discretamente. Neste caso, roçando a imbecilidade. Mas nunca esquecer que imbecis armados e com poder são particularmente perigosos.