Mar de gente e de vontades para afirmar os valores de Abril
Foi um imenso Abril, este que encheu as ruas das principais cidades do País na sexta-feira, 25, em manifestações, concentrações, desfiles, concertos, festas populares, a que se somaram almoços, jantares, sessões, homenagens, provas desportivas e iniciativas para a infância. Foram milhares, muitos e muitos milhares, os que reafirmaram a sua determinação em defender e afirmar os valores de Abril.
Os que querem desvirtuar e destruir Abril não terão êxito
A Avenida da Liberdade foi uma vez mais o retrato perfeito do apego do povo a Abril e às suas conquistas. A multidão compacta que desfilou durante mais de três horas deixou bem claro que Abril veio para ficar e que aqueles que o querem desvirtuar e destruir não terão êxito. E mais: exigiu que ele se cumpra no dia-a-dia e nas vidas de cada um.
Nas comemorações do 51.º aniversário do 25 de Abril estiveram os que diariamente lutam para defender aquilo que se conquistou em Abril e se batem pelo aprofundamento da democracia nas suas vertentes política, económica, social e cultural. E muitos outros que, não estando integrados em organizações e movimentos, fizeram questão de demonstrar que também contam para essa luta. Se nas várias acções esteve gente de diferentes experiências e idades, a juventude marcou forte presença, deixando claro que, como o PCP há muito afirma, «Abril é mais futuro!».
Em panos, faixas, cartazes e palavras de ordem, defendeu-se o aumento de salários e pensões, a valorização do SNS e da Escola Pública, o cumprimento efectivo do direito à habitação, à cultura e ao desporto, um rumo de desenvolvimento soberano para o País, a paz e o desarmamento. E não faltaram os recados aos que, de forma mais ou menos assumida, afrontam a liberdade, a democracia e os direitos que o povo português conquistou há 51 anos. Variadas foram as referências ao Papa Francisco, cujas cerimónias fúnebres constituíram pretexto para alguns sectores procurarem pôr em causa as comemorações de Abril. Contudo, como salientou oportunamente o PCP, o falecido Papa bateu-se durante todo o seu pontificado por valores semelhantes àqueles que a Revolução portuguesa corporiza.
Se foi assim em Lisboa, não foi diferente no Porto, com a Avenida dos Aliados cheia, transbordante, depois de um desfile iniciado simbolicamente junto à antiga sede da PIDE, que os democratas e antifascistas lutam para que seja um museu da resistência. E em tantas outras localidades do País, na noite de 24 e durante o dia 25, em múltiplas acções promovidas pelo movimento sindical e associativo, por autarquias e, quando nada disto foi possível, pelo PCP e a CDU.
Muita gente e determinação de sobra. Numa grandiosa afirmação dos valores de Abril.
Cultura e alegria
Foram muitos os municípios que promoveram programas culturais comemorativas do 51.º aniversário da Revolução de Abril. Os concertos da noite de 24 foram particularmente expressivos, com ampla participação popular em muitos deles, desde logo nos municípios geridos pela CDU.
No de Setúbal esteve presente o Secretário-Geral do PCP, Paulo Raimundo, acompanhado por Paula Santos, primeira candidata da CDU ao círculo eleitoral de Setúbal, André Martins, presidente da Câmara Municipal de Setúbal, e vários outros eleitos, candidatos e activistas da coligação.
«A esperança que não fica à espera»
«Há 51 anos, os militares de Abril, culminando a longa resistência do povo português, libertaram Portugal de uma ditadura terrorista de 48 anos que, baseada na corrupção, na supressão das liberdades e num odioso aparelho repressivo ao serviço de uma oligarquia monopolista, condenou o País à miséria e ao obscurantismo, e sacrificou toda uma geração de jovens portugueses numa guerra sem fim à vista». Foi com estas palavras que António Filipe iniciou a sua intervenção na sessão solene comemorativa do 25 de Abril na Assembleia da República (AR).
O deputado recordou, ainda, que neste dia, há 50 anos, os portugueses puderam, pela primeira vez, votar em eleições livres e democráticas, com a ida às urnas de 91,6 por cento dos eleitores.
Da Assembleia Constituinte eleita, lembrou, resultaram membros que «souberam desempenhar com sabedoria, e em consonância com os sentimentos profundos do povo que os elegeu, a honrosa tarefa de elaborar a primeira Constituição verdadeiramente democrática da nossa História».
«Para muitos portugueses, o momento que vivemos pode ser de desencanto, decepção e descrença», afirmou, referindo que «a democracia está hoje sob a ameaça dos que tentam denegrir e destruir as suas conquistas».
«Mas», sublinhou, «a luta de muitas décadas do povo português pela liberdade e a democracia, as [conquistas] da Revolução, a capacidade de luta já demonstrada em numerosas situações […] são razões de confiança de que a democracia portuguesa tem força suficiente para derrotar os seus inimigos».
Esta é uma luta, destacou, que, hoje, se traduz em muitos combates (dos salários à defesa do SNS), e que tem de ter nas legislativas, tradução em votos, «dando mais força aos que na AR, nos versos do poeta comunista e deputado constituinte Manuel Gusmão, representam “a esperança que não fica à espera”».