Uma utopia que ultrapassa fronteiras, assim foi definida a “República das letras”, expressão usada pelos humanistas a partir de finais do séc. XV e no séc. XVI para designar um espaço virtual em que os intelectuais partilham ideais e valores comuns, apoiando-se mutuamente. A própria designação de “República”, numa Europa monárquica, acentua a ideia de que no seu seio todos são iguais, sem distinção de classes. Embora não seja possível datar o aparecimento da expressão, as referências à “República das letras” tornam-se frequentes na Renascença. Aparecendo nos escritos de Erasmo de Roterdão, entre outros humanistas, a “República das letras” começa por ser uma rede de letrados da Europa que mantêm relações epistolares regulares, trocando ideias, manuscritos, conselhos, agregando depois pensadores de todas as áreas. Esta ‘rede’ só é possível pela partilha de uma língua comum entre os eruditos, o latim, e pelo facto de os seus membros terem o privilégio de poder viajar, encontrando-se em eventos tão importantes como as feiras do livro de Frankfurt, Veneza e Paris. Surgindo como um ideal utópico de comunhão e partilha, a “República das letras” assenta na comunicação e na circulação de ideias, e no ideal de uma comunidade de intelectuais de todos os países e de todos os tempos.