Os EUA são o país capitalista mais avançado e desenvolvido do mundo: vão, no sentido histórico, à frente de todos os demais, no mesmo sentido em que um cancro avança e se desenvolve. Quer isto dizer que, da nossa Europa moribunda e subalterna, podemos ver no paroxismo imperial o que – se nada fizermos – nos reservam iguais avanços e desenvolvimentos. E numa altura em que por cá tanto se fala da promiscuidade entre negócios privados e gestão dos interesses públicos, talvez seja bom conhecer o que já se faz na América, que no que toca a estes avanços e desenvolvimentos está sempre à nossa frente.
Na passada quinta-feira, Trump organizou um jantar curioso no seu clube de golfe da Virgínia: 220 comensais gastaram 394 milhões de dólares para comprar um convite bizarro para a orgia de corrupção: moedas-meme do presidente dos EUA – uma espécie de criptomoeda que não tenta disfarçar o esquema Ponzi. Se, segundo o site da $Trump, o negócio pessoal de cripto-moedas-memes de Trump, os 220 maiores compradores recebem um convite para o jantar com Trump, os 25 primeiros licitadores ganham «um cocktail com acesso ao presidente». O primeiro lugar, por 19 milhões de dólares, valeu a Justin Sun «uma conversa privada com Trump depois do cocktail».
Trump é dono de cerca de 300 empresas avaliadas em cerca de 8 mil milhões de dólares mas, garante a Casa Branca, não há conflito de interesses porque «a gestão é feita unicamente pelos filhos». De todos os negócios de Trump, contudo, nenhum é mais ilustrativo do que o negócio das cripto-moedas. Trump fez dos EUA o primeiro país do mundo em «mineração» de cripto. A actividade já é responsável por 3 por cento do consumo eléctrico nacional e já representa mais de 40 por cento de toda a produção mundial deste estranho minério. Sem exageros, Trump anunciou o desejo de «transformar a América na cripto-capital do mundo».
Isto diz muito sobre o desenvolvimento e avanço de um país: a «mineração» de cripto-moedas não produz nada; não acrescenta qualquer valor, não inventa nada, não cria nada útil; nem sequer emprega mineiros: são só super-computadores a fazer operações matemáticas complexas que gastam energia e desperdiçam água, enquanto dinheiro virtual gera mais dinheiro virtual e a bolha especulativa cresce. O declínio histórico dos EUA não está só patente na sua crescente incapacidade de inventar, inovar, produzir ou acrescentar utilidade; é também visível nas actividades económicas em que ainda lhe sobra liderança no mundo: cripto-moedas, armas, chantagem, corrupção e, enfim, tudo o que há de estéril, desnecessário ou destrutivo.