Um grito de raiva e um apelo solidário: «somos todos Palestina!»

A so­li­da­ri­e­dade com a Pa­les­tina voltou às ruas de Lisboa, dia 4, numa vi­brante ma­ni­fes­tação: «em cada ci­dade, em cada es­quina, somos todos Pa­les­tina»; «fim ao ge­no­cídio, fim à ocu­pação» e «Is­rael é cul­pado por um povo mas­sa­crado» foram al­gumas das pa­la­vras de ordem en­to­adas. Há mais ac­ções mar­cadas.

CPPC, CGTP-IN, MPPM e Pro­jecto Ruído já pro­mo­veram largas de­zenas de ini­ci­a­tivas contra o ge­no­cídio

Cresce em todo o mundo a in­dig­nação pelos bár­baros crimes co­me­tidos di­a­ri­a­mente por Is­rael contra o povo pa­les­ti­niano, in­ten­si­fi­cados nas úl­timas se­manas: o mas­sacre de cri­anças pelas bombas e pela fome; o de­sa­pa­re­ci­mento de fa­mí­lias in­teiras; a des­truição de hos­pi­tais, es­colas, abrigos, cen­tros de dis­tri­buição ali­mentar, bairros re­si­den­ciais e acam­pa­mentos; o as­sas­si­nato de mé­dicos e en­fer­meiros, jor­na­listas e tra­ba­lha­dores hu­ma­ni­tá­rios.

No dia 4, em Lisboa, foram uma vez mais o CPPC, a CGTP-IN, o MPPM e o Pro­jecto Ruído a dar ex­pressão a essa in­dig­nação, ao con­vo­carem uma ma­ni­fes­tação em Lisboa, entre o Chiado e o Rossio, a que com­pa­re­ceram mi­lhares de pes­soas. Uma ma­ni­fes­tante em­pu­nhava um cartaz feito à mão onde se lia «Cessar-fogo, cessar fome!» e outra in­for­mava: «Mais de 17 mil cri­anças as­sas­si­nadas por Is­rael.» «Fim ao ge­no­cídio!», «Fim à ocu­pação!», «Pela paz no Médio Ori­ente!» e «Pa­les­tina livre!» eram ou­tras frases ins­critas em car­tazes, faixas e pan­cartas.

Às pa­la­vras im­pressas so­mavam-se as en­to­adas a mi­lhares de vozes, com emoção e até raiva: de­nun­ci­avam crimes, apon­tavam res­pon­sá­veis e cúm­plices («Is­rael mata, a Eu­ropa cala»), re­a­fir­mavam so­li­da­ri­e­dades. «Pa­les­tina ven­cerá!» foi por­ven­tura a que mais se ouviu, ex­pres­sando não apenas um de­sejo, mas uma con­vicção: afinal, como po­derá não vencer um povo que dá provas diá­rias de uma in­que­bran­tável re­sis­tência e que conta com tantos e tão sin­ceros e de­di­cados amigos em todo o mundo?

Ami­zade sin­cera
E se é de amigos que fa­lamos, é for­çoso re­ferir João Mo­rais, co­nhe­cido do pú­blico como “O Gajo”, que fez questão de ofe­recer o seu ta­lento e cri­a­ti­vi­dade à causa da so­li­da­ri­e­dade com a Pa­les­tina. Um dos temas que in­ter­pretou foi “Mar de Gente”, in­cluído no seu mais re­cente disco: «Passo a passo, rua após rua, car­tazes es­critos à mão. Frases que ecoam na ci­dade an­tiga, le­vadas por uma canção.»

De amigos falou também Idália Tiago, des­ta­cando a ini­ci­a­tiva da Fun­dação José Sa­ra­mago (que ali re­pre­sen­tava) de unir «cerca de 300 es­cri­tores, de vá­rios países e de vá­rios con­ti­nentes, à volta de um grito de hu­ma­ni­dade», num Ma­ni­festo pela Pa­les­tina. Sa­li­en­tando que «ne­nhum di­reito hu­mano está com­pleto sem a si­me­tria dos seus de­veres», lem­brou al­guns de­veres hu­manos: im­pedir que se faça si­lêncio, re­cusar a in­di­fe­rença, não des­viar o olhar, de­nun­ciar o ci­nismo, ma­ni­festar in­dig­nação.

Isabel Bar­bosa, en­fer­meira e di­ri­gente sin­dical, ga­rantiu que «não que­remos mais di­nheiro para armas quando sa­bemos que um caça F35 equi­vale ao custo de um hos­pital médio com 300 camas, a 40 mil tra­ta­mentos re­la­ci­o­nados com di­a­betes, a 2 mil ci­rur­gias car­díacas». Em Gaza, acres­centou, Is­rael re­a­lizou 1200 ata­ques a hos­pi­tais, clí­nicas e am­bu­lân­cias só em 2024 e de Ou­tubro de 2023 a Se­tembro de 2024 foram con­fir­mados 1151 tra­ba­lha­dores da saúde mortos pelas forças de ocu­pação is­ra­e­litas.

Pre­sente na ma­ni­fes­tação, Paulo Rai­mundo re­a­firmou a so­li­da­ri­e­dade de sempre dos co­mu­nistas por­tu­gueses com o povo pa­les­ti­niano e lem­brou que o PCP voltou a apre­sentar na As­sem­bleia da Re­pú­blica uma pro­posta vi­sando o re­co­nhe­ci­mento do Es­tado da Pa­les­tina por Por­tugal (ver pág. 14).

Do lado certo
In­ter­vindo em nome das quatro or­ga­ni­za­ções pro­mo­toras da ma­ni­fes­tação, André Levy re­alçou que esta «não é uma guerra comum. Aqui, o alvo, além das pes­soas, são as ár­vores e as pe­dras, os edi­fí­cios, es­colas, hos­pi­tais e cen­tros de saúde, as pa­da­rias, os par­ques in­fantis e os clubes des­por­tivos, os ce­mi­té­rios, as ha­bi­ta­ções, os ca­mi­nhos, a água, os ani­mais e as plantas, a pai­sagem, as cores e o per­fume dos lu­gares, a me­mória, a pró­pria ima­gi­nação e com ela a pos­si­bi­li­dade de pensar uma exis­tência que vá além do in­ter­valo de tempo que me­deia entre dois bom­bar­de­a­mentos».

E disse mais: «Com­pre­en­demos bem, desde o início, a na­tu­reza par­ti­cular desta guerra e desde então que com co­ragem e de­ter­mi­nação, en­fren­tando in­ti­mi­da­ções e chan­ta­gens, as­su­mimos as nossas res­pon­sa­bi­li­dades, to­mámos par­tido pelo ocu­pado contra o ocu­pante, pelo opri­mido contra o opressor. Em­pu­nhámos a ban­deira da Pa­les­tina e le­vámo-la a todos os lu­gares deste país, de norte a sul até às ilhas. Fa­zemo-lo hoje e assim con­ti­nu­a­remos, mesmo que a voz nos doa, que amiúde as lá­grimas se soltem e a raiva nos con­suma.»

Foi, pois, com «de­ter­mi­nação e cla­reza», que CPPC, CGTP-IN, MPPM e Pro­jecto Ruído in­sis­tiram na de­núncia do apoio e cum­pli­ci­dade dos que, dos EUA à UE, «per­mitem que con­tinue a cha­cina le­vada a cabo por Is­rael» e na exi­gência de um «cessar-fogo ime­diato» e ga­ran­tiram que «não dei­xa­remos que a causa na­ci­onal do povo pa­les­ti­niano, com o seu di­reito a viver em paz na sua terra, livre de vi­o­lência, de opressão, de dis­cri­mi­nação e de co­lo­ni­zação, seja posta em causa e es­que­cida».

Re­a­fir­mada foi a exi­gência da cri­ação do Es­tado da Pa­les­tina nas fron­teiras an­te­ri­ores a 1967 e com ca­pital em Je­ru­salém Ori­ental, con­forme de­ter­mi­nado pelas re­so­lu­ções da ONU, «e o seu re­co­nhe­ci­mento por Por­tugal, que já peca por tardio».

 

Mi­lhares de cri­anças as­sas­si­nadas

O Pro­jecto Ruído re­a­lizou, no dia 1 – Dia In­ter­na­ci­onal da Cri­ança –, em Sete-Rios, Lisboa, uma tri­buna pú­blica com a afi­xação, no muro da es­tação, dos nomes de al­gumas das 10 mil cri­anças pa­les­ti­ni­anas as­sas­si­nadas às mãos de Is­rael. Na ini­ci­a­tiva, Ma­riana Me­telo, di­ri­gente da as­so­ci­ação ju­venil, lem­brou que, àquela data, havia já «17 mil fa­mí­lias des­tro­çadas, mais de 17 mil so­nhos por cum­prir».

«Re­lem­bramos hoje estes nomes e iremos con­ti­nuar a fazê-lo, pois nunca será de­mais olhar e dizer os seus nomes», frisou, afir­mando que «nunca será de­mais re­lem­brar as ví­timas da bru­ta­li­dade de Is­rael».

A tri­buna, contou, igual­mente, com in­ter­ven­ções de Rawan Su­laiman, em­bai­xa­dora da Pa­les­tina, e José Oli­veira, do MPPM.

 



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