Perfídia
O imperialismo exibe a sua natureza agressiva
Junho foi repleto de desenvolvimentos que confirmam a extrema volubilidade e perigosidade do momento actual no mundo. O mês abriu com um ataque de dimensão inédita à aviação estratégica russa, uma das componentes da sua tríade nuclear, reivindicado pelos serviços secretos ucranianos. Uma operação sofisticada realizada na profundidade do território russo, inconcebível sem a participação e supervisão de meios dos EUA e NATO, atingindo capacidades da dissuasão nuclear da Rússia e, portanto, o equilíbrio estratégico de forças mundial. Ataque que, à luz da doutrina de defesa russa em vigor, prevê uma resposta com o possível emprego de armas nucleares. Imagina-se como reagiria Washington a um ataque semelhante às suas forças estratégicas… Num quadro de tal gravidade, passa para um plano acessório, apesar de não ser irrelevante, a questão de saber se Trump estava ao corrente e autorizou a operação, por sinal efectuada na véspera da segunda ronda das negociações de Istambul, em que a narrativa de força carregada nos média era a falta de vontade de Moscovo em negociar a paz.
Menos de duas semanas volvidas foi a vez de Israel lançar um ataque surpresa de larga escala ao Irão, numa altura em que ainda decorriam as conversações com os EUA em torno do programa nuclear iraniano (de cujo acordo Trump retirou unilateralmente os EUA em 2018). Tel Aviv não o poderia ter feito sem a luz verde e apoio bélico dos EUA. Assistiu-se, então, a uma sinistra campanha para legitimar um ataque sem precedentes contra instalações nucleares, até prova em contrário, do programa civil iraniano. Com o requinte de o posicionamento ostensivamente ambíguo da AIEA e do seu director ter sido usado pelo regime sionista para legitimar o ataque “preventivo” ao Irão. Um acto de agressão frontalmente contrário ao direito internacional pelas mãos do único país detentor da arma nuclear no Médio Oriente e que, ao invés do Irão, não é signatário do TNP. Para além dos cálculos mesquinhos da política genocida do gabinete de Netanyahu, o ataque a que os EUA se juntaram directamente através dos bombardeamentos de 22 de Junho – data que marca o 84.º aniversário da agressão da Alemanha nazi à URSS – persegue o objectivo de mudança de regime em Teerão e a fragmentação do país, um dos maiores exportadores de petróleo e membro de organizações multilaterais como a OCX e os BRICS, seguindo o figurino empregue na região nas últimas décadas. O fracasso da operação blitzkrieg dá início a uma escalada bélica, em que os demenciais objectivos expansionistas do regime sionista encaixam no grande tabuleiro da confrontação do imperialismo contra a Rússia e, sobretudo, a China. A permissividade dos EUA, NATO e UE com a matança metódica em Gaza e a intensificação da ocupação israelita da Palestina apenas o confirma.
O imperialismo exibe em toda a linha a sua natureza agressiva e predadora. Os EUA não desistem da supremacia militar absoluta para contrariar a estagnação e declínio económico. Enquanto o aprofundamento da crise estrutural do sistema atiça contradições e pugnas internas, é no desespero para travar a marcha inexorável da história que Trump anuncia um orçamento militar recorde de um bilião de dólares, a NATO carimba servilmente a fasquia dos 5% e a Alemanha regressa “em grande” ao militarismo. A doutrina do Pentágono de “Ataque Global Imediato”, em nova fase de testes práticos, aproxima a Humanidade do abismo. Unir forças para o impedir é vital.