Nos 100 anos de Lumumba
Os imperialistas assassinaram Patrice Lumumba mas não mataram as suas ideias
Passaram agora 100 anos sobre o nascimento de Patrice Lumumba, combatente pela independência da sua pátria, o Congo, lutador anticolonialista e anti-imperialista e defensor da emancipação dos povos da África e de todo o mundo.
Nasceu a 2 de Julho de 1925, na aldeia de Onalua, na província do Kasai, na então colónia do Congo belga (mais tarde República do Congo, depois Zaire e hoje República Democrática do Congo). Estudou numa escola católica e, muito jovem, começou a trabalhar e a participar activamente na vida política da sua terra, consolidando os ideais independentistas e progressistas e sofrendo com isso a repressão do colonialismo belga – foi várias vezes preso. Sindicalista, escreveu em jornais e, em 1958, fundou e tornou-se líder do maior partido congolês, o Movimento Nacional Congolês (MNC).
No começo de 1960, em Bruxelas, participou na conferência belga-congolesa em que foi acordada, entre os nacionalistas congoleses e a potência colonial, a independência do Congo, conquistada pela longa resistência popular e pelas reivindicações das forças patrióticas. Nas eleições legislativas de Maio, o MNC e partidos aliados conquistaram a maioria dos votos.
A 30 de Junho de 1960 o Congo tornou-se independente e Patrice Lumumba foi nomeado primeiro-ministro. No discurso que proferiu nesse dia, em Léopoldville (a capital congolesa, mais tarde rebaptizada Kinshasa), perante governantes da Bélgica e os novos dirigentes congoleses, denunciou explicitamente os bárbaros crimes do colonialismo belga contra o povo congolês e traçou as perspectivas do futuro Congo, liberto das grilhetas da dominação estrangeira.
Na sua intervenção, depois de descrever «a humilhante escravidão» sofrida pelo povo congolês, afirmou: «Nós, que sofremos nos nossos corpos e nos nossos corações a opressão colonialista, dizemos em voz alta: tudo isto terminou!». E, voltando-se para o futuro, delineou o que queria para o seu país: «A República do Congo foi proclamada e nosso querido país está agora nas mãos de seus próprios filhos. Juntos, meus irmãos e irmãs, começaremos uma nova luta, uma luta sublime que levará o nosso país para a paz, a prosperidade e a grandeza. Estabeleceremos juntos a justiça social e garantiremos que todos recebam um pagamento justo pelo seu trabalho. Mostraremos ao mundo o que o homem negro pode fazer quando trabalha em liberdade e faremos do Congo o centro que brilha em toda a África. Vamos garantir que a terra de nossa pátria beneficie realmente seus filhos. Vamos rever todas as leis do passado e fazer novas que sejam justas e nobres. E por tudo isso, meus compatriotas, tenham a certeza de que poderemos contar não somente com as nossas enormes forças e imensas riquezas, mas também com a ajuda de muitos países estrangeiros cuja cooperação aceitaremos sempre que for leal e não pretenda nos impor nenhum tipo de política. Assim, o novo Congo que o meu governo criará será um país rico, livre e próspero».
Os derrotados colonialistas belgas, respaldados pelo imperialismo norte-americano, uns e outro interessados em prosseguir a pilhagem das riquezas minerais congolesas e conluiados com dirigentes congoleses que atraiçoaram os ideais da independência – desde o presidente Joseph Kasabuvu até ao separatista Moise Tshombe, passando pelo chefe do exército, Joseph Mobutu, líder nos anos seguintes de dois golpes de Estado –, não permitiram que Lumumba e seus apoiantes governassem o jovem país de acordo com a vontade do povo e sem tutelas estrangeiras.
Em Setembro de 1960, Lumumba – considerado pela CIA um «simpatizante da União Soviética» e por isso um alvo a abater – foi demitido do cargo de primeiro-ministro. Em Novembro foi preso e, em 17 de Janeiro de 1961, depois de semanas de detenção ilegal, foi barbaramente torturado e assassinado por separatistas do Katanga e mercenários belgas. Não tinha ainda completado 36 anos de idade.
Os imperialistas assassinaram Patrice Lumumba mas não mataram as suas ideias, muito actuais – a urgência dos povos lutarem contra o colonialismo, o neocolonialismo e o imperialismo, pela genuína independência e soberania dos seus países, pelo progresso social, pela paz –, nem o seu exemplo de vida e o seu legado de revolucionário íntegro.