- Nº 2694 (2025/07/17)

Israel planeia confinar e expulsar a população da Faixa de Gaza

Internacional

Organizações palestinianas e diversas ONG denunciaram um hediondo plano de Israel, apoiado pelos EUA e outros cúmplices, para criar no sul da Faixa de Gaza um campo onde seriam concentrados à força centenas de milhares de palestinianos.

Enquanto prossegue e intensifica os ataques na Faixa de Gaza e a repressão na Cisjordânia, Israel torna público um hediondo plano para criar o que designa cinicamente de «cidade humanitária» no sul da Faixa de Gaza, que, na realidade, seria uma gigantesca prisão para centenas de milhares de palestinianos, denunciou o Conselho Nacional Palestiniano (CNP).

O plano de Israel, que contará com o apoio dos EUA, representa mais um passo visando a expulsão forçada e massiva do povo palestiniano da sua terra, sob o manto hipócrita de ditas “acções humanitárias”, denuncia o CNP.

O Conselho Nacional Palestiniano assinala que tal plano constitui uma extensão directa dos crimes de genocídio por parte de Israel assegura, realçando que este centro de detenção não tem qualquer relação com os falsamente “valores humanitários” proclamados pelas autoridades israelitas, bem pelo contrário, está a ser construído sobre as ruínas de massacres e pretende confinar centenas de milhares de palestinianos em condições desumanas, como parte de uma política sistemática de expulsão da população palestiniana da sua terra.

O CNP acusou os EUA e outras potências ocidentais de proporcionarem cobertura política e militar a esse projecto, que qualificou de racista. Apontou que mais de 58 mil palestinianos morreram nos últimos 21 meses como consequência da agressão israelita, enquanto centenas de milhares de outros se vêem obrigados a viver debaixo de ameaças, bombardeamentos e fome, numa flagrante violação dos valores humanos mais básicos. Estimou que as tentativas de vender o projecto como um pretenso “refúgio humanitário” procuram enganar e confundir a opinião pública mundial.

Diversas ONG acusaram Israel de planear a criação de um campo de detenção massivo no sul da Faixa de Gaza para ali encerrar uma grande parte da população palestiniana, denunciando que o plano israelita de transferir os residentes no território para uma dita «zona humanitária» representa uma perigosa escalada no genocídio em curso. O projecto prevê a deslocação forçado de centenas de milhares de palestinianos, depois de os submeter a «controlos de segurança», impor-lhes rigorosas restrições aos movimentos e proibir a sua saída para outras áreas. É um movimento deliberado para esvaziar a Faixa de Gaza e impor uma nova realidade demográfica pela força, alertam.

Sanção «inaceitável»
As Nações Unidas exigiram aos EUA que revoguem a sanção que impuseram à relatora especial da ONU sobre a Situação dos Direitos Humanos nos Territórios Palestinianos Ocupados desde 1967, Francesca Albanese. Um porta-voz da ONU qualificou a medida de «inaceitável» e advertiu que gera um «perigoso precedente» para o trabalho dos relatores especiais de direitos humanos da organização.

A proibição de entrada nos EUA e congelamento de contas nesse país, caso existam, foi aplicada por Washington pelo facto de Francesca Albanese ter cooperado com a investigação sobre os crimes de Israel.

A jurista italiana, perita em direitos humanos, apresentou um relatório em que denunciou o que chamou de «provas esmagadoras» de que Israel está a cometer um genocídio na Faixa de Gaza. Identificou ainda companhias multinacionais, como a Lockheed Martin, IBM, Microsoft e Amazon, que lucram com as acções militares israelitas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia e instou essas e outras grandes empresas a deixar de fazer negócios com Israel, no quadro daquilo a que chamou uma «economia de genocídio e de apartheid».

Em resposta à «punição» que lhe foi imposta por Washington, Francesca Albanese reafirmou o compromisso com o seu trabalho: «Hoje, mais do que nunca, mantenho-me firme e convincentemente ao lado da justiça, como sempre o fiz».

Além disso, nas redes sociais, a diplomata exigiu aos governos de Itália, França e Grécia que prestem contas por permitir a passagem de Benjamin Netanyahu pelo seu espaço aéreo durante uma viagem a Washington, tendo em conta mandados de captura contra o primeiro-ministro israelita por crimes de guerra e contra a humanidade na Faixa de Gaza.

«Engenharia de genocídio»
Na Faixa de Gaza, mais de 800 palestinianos foram assassinados e outros 5252 feridos por ataques de militares nas proximidades dos centros de distribuição de alimentação da responsabilidade de Israel e dos EUA, desde a sua abertura, em 27 de Maio, até ao passado domingo, 13. As autoridades palestinianas na Faixa de Gaza denunciam ainda que 42 pessoas desapareceram, nessas áreas, em consequência das agressões perpetradas junto dos centros criados por Washington e Telavive e geridos por uma denominada «Fundação Humanitária de Gaza».

Tais ataques representam uma «engenharia de genocídio» sob os auspícios do governo norte-americano e com a participação de vários países cúmplices, acusam.

Quase diariamente são reportados tiros de militares e mercenários uniformizados contra palestinianos que se aproximam em busca de comida nesses centros, muito criticados pelas Nações Unidas e por organizações não governamentais. O comissário geral da Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA) denunciou que este sistema está longe de respeitar o princípio de humanidade e, em lugar de uma distribuição ordenada de alimentos, gera desumanização caos e morte.

Até ao princípio desta semana, segundo dados das autoridades sanitárias da Faixa de Gaza, o número de palestinianos assassinados ali pelas tropas ocupantes israelitas subiu para 58.026, enquanto 138.520 pessoas foram feridas, havendo ainda registados 10 mil desaparecidos.