JCP promove quatro dias de luta, debate e alegria na Atalaia

No “Agit” e na vida, juventude é protagonista dos seus sonhos

Mais de duas centenas de jovens, vindos de norte a sul, participaram no AgitAtalaia, iniciativa promovida pela JCP que decorreu entre 17 e 20 de Julho na Quinta da Atalaia (e não só), e que envolveu convívio, debate e, claro, a construção do maior evento político-cultural do País, a Festa do Avante!.

«Não há gente que pense pelos jovens»

A manhã do último dia do AgitAtalaia (ver caixa) – carinhosamente chamado, pelos participantes, apenas de “o Agit” – foi passada na Sociedade Filarmónica Operária Amorense, para uma conversa que decorreu sob o lema «A força que derrotou o fascismo. A coragem que enfrenta a direita. O partido da juventude e do futuro!», e que contou com o Secretário-Geral do PCP.

Paulo Raimundo foi claro, ao destacar que «a alegria com que vocês [jovens] estão na vida» permite, apesar dos problemas, fazer frente aos apertos e conseguir que, «perante a luta da juventude, o capital desespere».

«Aproveitemos o desespero do nosso inimigo de classe» para alargar forças, sugeriu.

O Secretário-Geral explicou, ainda, o porquê de o PCP ser o «partido da juventude»: é que, além de ser o único com um real projecto para a juventude, tem, na sua história, a riqueza de ter tido entre os seus mais reconhecidos dirigentes, muitos (como Álvaro Cunhal) que assumiram elevadas responsabilidades ainda bastante jovens.

Ensino, trabalho, democracia...

Na sua intervenção, Paulo Raimundo destacou que, numa organização como é a JCP, autónoma e com direcção, reflexões e formas de actuação próprias, «não há gente que pense pelos jovens».

Por isso, a conversa contou com mais de duas dezenas de intervenções que abordaram uma multiplicidade de temas. Coube a Inês Guerreiro, do Secretariado da JCP e do CC do Partido, dirigir e dar início ao encontro, apresentando os seus objectivos fundamentais.

Maria Rita, estudante na ES Carolina Michaelis, Porto, foi a primeira a intervir, valorizando o crescimento da JCP na sua escola, apesar de problemas como faixas retiradas abusivamente e à força. Situações similares, ainda que noutro contexto, foram abordadas por André, trabalhador do BNP Paribás, Lisboa, que destacou os impedimentos impostos à realização de um plenário na empresa – o que só contribuiu para o crescimento da consciência de classe entre os colegas.

Miguel, estudante no ISCTE, Lisboa, criticou as graves limitações à democracia nas faculdades, bem como o caminho de aprofundamento da mercantilização do ensino superior, numa intervenção que foi secundada por Paula, estudante em Coimbra, que denunciou problemas estruturais como a falta de camas em residências públicas, psicólogos ou bolsas.

A falta de democracia foi assunto recorrente nas intervenções, com o estudante Afonso, da ES Sampaio, Sesimbra, a denunciar os atropelos à legalidade na escola, cujos alunos tiveram graves limitações, por parte da direcção, ao direito de se reunirem em RGA.

João, que estuda numa escola profissional em Setúbal, criticou fortemente a sobre-carga horária dos estudantes destes cursos que, enquanto os colegas do “ensino regular” já estão de férias, têm ainda de estar a estudar.

Os problemas do secundário foram, igualmente, abordados por Ana, da ES Mães D’Água, Amadora, que denunciou as desigualdades criadas pelos exames nacionais, e Miguel, da ES João de Barros, Seixal, e Lucas, da Escola Profissional de Almada, que criticaram a falta de condições nos respectivos estabelecimentos – em ambos os casos, a diversos níveis, incluindo nos espaços desportivos.

Manuel, trabalhador no Porto, sublinhou a necessidade de não se ter medo e ir à conversa com todos os estudantes e jovens trabalhadores – uma postura que, no entender de Rafael, da FLUL, Lisboa, parece já estar a dar frutos, com cada vez mais colegas a defender o fim das propinas. Por seu lado, Vitória, da Universidade do Minho, concordou com a exigência de a JCP continuar a estar ao lado dos jovens, em defesa do que referiu ser o direito a sermos felizes.

Apesar do desânimo parecer, por vezes, ser a única resposta a uma situação que “sufoca” os sonhos da juventude, para o trabalhador Guilherme, de Lisboa, esse é um sentimento que deve ser combatido. E que forma mais eficaz de encetar esse combate há do que fazê-lo ao lado dos nossos colegas de escola, faculdade ou trabalho, tornando a organização numa verdadeira “semente” da luta, como destacou o trabalhador Nuno, da mesma região.

igualdade, cultura, ambiente…

O combate às diferentes formas de discriminação foi tema de várias intervenções, como a de Sara, trabalhadora de Lisboa, que denunciou a divisão entre trabalhadores promovida pelo capital com as culpas pelos “males” do País atiradas para cima dos imigrantes, ou Dinis Santiago, da Comissão Política da JCP, que denunciou o discurso de ódio e o racismo.

Também Catarina Menor, da Comissão Política, abordou a temática da igualdade, destacando a necessidade de se pôr os “pontos nos ii” em matérias como as discriminações baseadas na identidade e na orientação sexual – com uma clara raiz de classe, referiu.

João, trabalhador de Aveiro, considerou que, na JCP, cada camarada não é apenas “mais um número”, visão que mereceu a concordância de Inês Reis, da Comissão Política, que sublinhou que a juventude quer discutir e participar. Uma perspectiva coincidente com a de Manuel Calejo, do mesmo organismo, que valorizou a construção da Festa e do AgitAtalaia como espaços de participação dos jovens.

Diversos direitos foram sendo abordados ao longo do encontro, de que são exemplo o ambiente – destacado por Miguel Félix, do Secretariado da JCP, que sublinhou que esta questão não pode ter políticas só para “inglês ver” e encher os bolsos de uns poucos – ou a cultura – que levou Violeta, da ESAD.CR, Caldas da Rainha, a exigir respeito pelos trabalhadores do sector cultural.

Toda uma miríade de direitos e temáticas que estão, sabemos, plasmados na Constituição da República Portuguesa, cujo cumprimento foi exigido por Inês, da FCSH, Lisboa, a par do combate à revisão e desvirtuação desta lei fundamental, nascida da Revolução de Abril.

 

Alegria e convicções no AgitAtaiaia

A conversa com o Secretário-Geral foi, certamente, um ponto alto do programa do AgitAtalaia. Mas esteve longe, muito longe, de ter sido o único motivo de interesse.

Para além do convívio constante, das amizades descobertas e dos vínculos reforçados, da festa e da música, das aprendizagens teóricas e práticas e do reforço das convicções, foram muitas as iniciativas realizadas ao longo dos quatro dias. No âmbito das eleições autárquicas, teve lugar um desfile e um arraial da Juventude CDU, no Coreto da Amora, com a participação de jovens do concelho. Estiveram presentes as candidatas jovens da CDU Catarina Menor e Maria José, dirigente da Ecolojovem, e o presidente da Câmara Municipal do Seixal, e candidato a um novo mandato, Paulo Silva.

O desporto, esse direito por que lutam tantos jovens, fez também parte do programa, com a realização de um torneio de futebol no polidesportivo Soeiro Pereira Gomes, um torneio de sueca e um torneio de voleibol, este na praia da Fonte da Telha. Houve uma sessão de cinema ao ar livre, com a exibição do filme “Saudações, cubanos!”, de 1963, seguida de um debate com um representante da Embaixada de Cuba. Realizaram-se ainda festas temáticas de solidariedade internacionalista, pelo aumento dos salários e pelo direito a viver e a ser feliz.

O AgitAtalaia, cujo nome é inspirado no jornal da Juventude Comunista Portuguesa, o Agit, realizou-se no âmbito da preparação do 13.º Congresso da JCP e da Festa do Avante!. Os jovens presentes deram o seu contributo – e que contributo! – para a construção da Festa.