Israel intensifica o genocídio em Gaza usando a arma da fome

A Faixa de Gaza continua a ser cenário de uma grave crise humanitária, com um crescente número de vítimas mortais e de feridos em consequência dos ataques das forças israelitas. Ao mesmo tempo, no domingo, 27, começou a entrar lentamente no enclave ajuda humanitária, manobra que a resistência palestiniana acusa ser parte da política de Telavive de «gerir a fome, não de acabar com ela».

Resistência palestiniana acusa Telavive de «política para gerir a fome, não para acabar com ela»

Lusa

Tropas israelitas continuam a matar na Faixa de Gaza. No fim de semana, houve notícia de palestinianos baleados junto de um centro de ajuda em Netzarim e de um menor de idade assassinado em Khan Yunis. A violência genocida das forças sionistas atingiu também campos de deslocados, com bombardeamentos que ceifaram vidas em Al-Mawasi, Al-Barakah e Asdaa.

O Hospital Baptista reportou a morte de uma mulher palestiniana num bombardeamento israelita próximo da mesquita Salah Al-Din, no bairro de Al-Zeitoun, na cidade de Gaza. No Complexo Médico Nasser morreu outra pessoa, em resultado de um ataque israelita a noroeste de Khan Yunis. Outras duas pessoas morreram e muitas ficaram feridas num bombardeamento israelita na zona de Rumeida, em Bani Suhaila, no leste da Faixa de Gaza. Por outro lado, o Hospital Al-Shifa registou a morte de um homem de 46 anos causada pela inanição e desnutrição.

Entretanto, perante a crescente condenação internacional de Israel e das pressões para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, o governo de Telavive anunciou uma «pausa táctica» diária para permitir a entrada de ajuda urgente. Fontes locais confirmaram que começaram a entrar no enclave camiões carregados com produtos de primeira necessidade através da passagem em Rafah, no sul, na fronteira com o Egipto. Segundo informou o exército israelita num comunicado, «esta decisão foi coordenada com as Nações Unidas e outras organizações internacionais após conversações mantidas sobre o assunto».

«Gerir a fome, não acabar com ela»

A resistência palestiniana denunciou, no dia 27, que Israel não está interessado em pôr fim à fome deliberada a que submeteu mais de dois milhões de civis na Faixa de Gaza e que as suas recentes «ofertas» de ajuda humanitária são parte de uma estratégia enganadora para apaziguar as críticas internacionais contra a sua campanha de extermínio.

O recurso do «regime criminoso israelita» a lançamentos aéreos limitados de «ajuda» em certas zonas de Gaza não é mais do que «uma manobra enganosa e falsa para melhorar a sua imagem perante a comunidade internacional», afirma um comunicado das organizações da resistência palestiniana. Sobre as operações de lançamento aéreo de ajuda e os chamados «corredores humanitários» israelitas, representam «uma política para gerir a fome, não para acabar com ela», refere o texto divulgado.

A única solução para pôr fim ao uso da fome como arma para exterminar a população palestiniana é parar a agressão israelita, levantar o criminoso bloqueio, abrir totalmente as passagens fronteiriças e garantir o fluxo de ajuda no quadro dos mecanismos de distribuição concebidos pela Organização das Nações Unidas e suas agências especializadas, defendem os palestinianos.

O comunicado palestiniano assegura que o mecanismo idealizado pelo gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, para distribuir «ajuda», através da chamada Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) – vinculada a Israel e aos Estados Unidos da América (EUA) – perpetua a fome e põe a distribuição de bens de primeira necessidade que permitem salvar vidas sob o controlo da ocupação israelita, que já assassinou mais de mil palestinianos na Faixa de Gaza e feriu quase seis mil junto a essas instalações, consideradas armadilhas mortais.

 

«Nenhum lugar é seguro, ninguém está a salvo»

Nenhum lugar é seguro na Faixa de Gaza como consequência da agressão israelita, ninguém está a salvo, nem sequer os trabalhadores dos serviços de saúde ou o pessoal da ONU.

Ali, as pessoas suportam desde há mais de 650 dias assassinatos implacáveis sem fim, a destruição e o desespero, denunciou o Organismo de Obras Públicas e Socorro das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (Unrwa). Uma vez mais, a população vê-se obrigada a fugir dos seus lares pelas ordens das forças israelitas.

No dia 25, o comissário geral da Unrwa, Philippe Lazzarini, condenou o mecanismo criado por Israel e pelos EUA para entregar ajuda humanitária no enclave costeiro. «Hoje, mais crianças morreram, com os seus corpos marcados pela fome», referiu o responsável.

Lazzarini criticou o sistema de distribuição de auxílio, que considerou defeituoso e realçou que o mesmo não está desenhado para responder à crise humanitária. «Esse mecanismo está a servir objectivos militares e políticos. É cruel, porque tira mais vidas do que salva. Israel controla todos os aspectos do acesso humanitário, fora ou dentro da Gaza», alertou.

Um terço dos palestinianos de Gaza passa dias sem comer

A desesperada necessidade de comida na Faixa de Gaza alcançou níveis sem precedentes, as pessoas estão a morrer ali devido à falta de assistência humanitária, advertiu, no dia 26, o Programa Mundial de Alimentos (PMA).

Apesar destes esforços, a quantidade de alimentos distribuídos até à data é uma pequena parte do que uma população de mais de dois milhões de pessoas necessita para sobreviver, alertou o organismo em comunicado. Só para cobrir as necessidades básicas requerem-se mais de 62 mil toneladas cada mês, mas, desde 21 de Maio passado, foram entregues apenas 26 mil toneladas, explicou.

O PMA revelou que uma avaliação feita indica que «uma em cada três pessoas não come durante dias». Lembrou que uns 470 mil palestinianos de Gaza sofrem de fome e 90 mil mulheres e crianças estão afectadas pela desnutrição. Realçou que a ajuda alimentar é a única forma real para que as pessoas comam. E advertiu que cada atraso imposto à entrada dos camiões de ajuda em Gaza «significa mais pessoas esfomeadas».

Segundo dados oficiais, desde o início da agressão genocida israelita, em Outubro de 2023, mais de 59 700 palestinianos morreram e outros 144 mil ficaram feridos na Faixa de Gaza, estimando-se que haja ainda cerca de 10 mil desaparecidos debaixo dos escombros das cidades e aldeias destruídas.

 

 



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