- Nº 2697 (2025/08/7)

Hiroshima, Nagasáqui e a urgência da luta pela paz

Temas

No dia de ontem, Rui Fernandes, membro da Comissão Política do Comité Central do PCP, apresentou uma comunicação em torno dos 80 anos volvidos dos bombardeamentos atómicos a Hiroshima e Nagasáqui. A luta pela paz é uma urgência de sempre, para que os crimes de ontem fiquem para sempre no passado.

Foi há 80 anos, mais especificamente nos dias 6 e 9 de Agosto de 1945, que choveu a destruição nuclear sobre as cidades nipónicas de Hiroshima e Nagasáqui, deixando «um inenarrável rasto de destruição e sofrimento» assim como um «impacto imediato de 200 mil mortos». Um Japão «militarmente derrotado» via o seu povo ser alvo de um dos mais bárbaros crimes de guerra alguma vez perpetrados, com o claro «propósito de impor ao mundo a hegemonia dos EUA», com uma «demonstração do poderio militar norte-americano».

A luta pela verdade histórica e pela memória das vítimas da desumanidade da guerra é indissociável, nos dias de hoje - «num tempo em que a corrida armamentista se desenvolve sem freio» - da denúncia do «horror e o sofrimento que o sionismo israelita e o imperialismo norte-americano estão a infligir ao povo palestiniano». A História já várias vezes demonstrou que «para impor os seus interesses», «o imperialismo é capaz dos crimes mais monstruosos», cabendo assim aos povos e aos trabalhadores de todo o mundo o papel de, através da sua luta, «obrigá-los a recuar.»

Construir a paz
Passadas oito décadas, os povos de todo o mundo estão hoje confrontados com uma «avassaladora campanha de propaganda do militarismo e da guerra, de normalização do fascismo e mesmo de banalização do recurso à arma nuclear.»

Neste delicado e perigoso quadro, é «necessário persistir no desmascaramento do imperialismo norte-americano que pretende impor ao mundo a sua hegemonia totalitária». Os Estados Unidos da América, sendo «até hoje o único País que recorreu ao uso da arma nuclear», continua a ser o «principal responsável pelo agravamento da situação internacional e pelo real perigo de uma guerra de incalculáveis proporções.» Face às crescentes ameaças nucleares que se têm intensificado, «as decisões das recentes cimeiras da NATO e da União Europeia sobre o brutal aumento das despesas militares exigidas pela administração Trump revestem-se de particular gravidade.»

O PCP mantém-se firme no compromisso de sempre com a «luta pelo desarmamento» e «pela solução política dos conflitos»; assim como «pelo respeito da Carta da ONU e em defesa dos princípios consagrados na Acta Final da Conferência de Helsínquia».

Uma política alternativa
Portugal tem as condições para assumir um importante papel no quadro internacional, guiando a sua acção pelo respeito pela soberania dos povos e pela construção da paz. Estas decisões não podem ser reféns de uma «política de submissão de Portugal aos ditames dos EUA, da NATO e da UE». Aquilo que se exige ao Governo é o respeito pela Constituição, assumindo uma «política de independência nacional e de paz e amizade com todos os povos.»

 

A Rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexactas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioactiva
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

Vinícius de Moraes

 

 

Armas nucleares

O que são?
Armas nucleares são dispositivos explosivos cuja força destrutiva provém de reacções nucleares, tanto de fissão como de uma combinação de reações de fissão e fusão. Libertam grandes quantidades de energia a partir de quantidades relativamente pequenas de matéria. Uma explosão nuclear gera poderosas ondas de choque, temperaturas de vários milhares de graus Celsius e ventos com velocidades superiores a 1000 km/h: o resultado é a formação de tempestades de fogo de enorme poder destrutivo que varrem tudo à sua passagem. Conduz também a sequelas desfasadas no tempo, que afectam a saúde, pela exposição a radiações e pela contaminação do meio ambiente.

São as mais destrutivas, desumanas e indiscriminadas armas já criadas.

Já foram utilizadas?
Por duas vezes foram utilizadas armas atómicas sobre populações: a 6 e a 9 de Agosto de 1945, os EUA bombardearam as cidades japonesas de Hiroxima e Nagasáqui, provocando a morte imediata a duzentas mil de pessoas. Muitas outras viriam a morrer – de queimaduras e dos efeitos da radiação – nos dias, semanas e meses que se seguiram. Estima-se que tenham sido mortas, nestes dois bombardeamentos, 38 mil crianças. Os efeitos da radiação fazem-se sentir ainda hoje, oito décadas passadas, nas elevadas taxas de malformações e doenças oncológicas que ali se registam, pelos elevados níveis de radiação. Mais do que a última arma da Segunda Guerra Mundial, foi sobretudo a primeira arma da chamada “Guerra Fria”. A chantagem nuclear foi uma peça fundamental da estratégia do imperialismo norte-americano nos primeiros anos do pós-guerra.

Quem as possui?
São nove os países detentores de armas nucleares: EUA, Federação Russa, França, Inglaterra, República Popular da China (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas) e ainda Índia, Paquistão, Israel e República Popular Democrática da Coreia. Outros cinco países – Turquia, Itália, Bélgica, Alemanha e Países Baixos – acolhem formalmente armas nucleares norte-americanas no seu território e vários, mesmo não tendo armas nucleares, incluindo Portugal, integram alianças militares com capacidade e “vocação” nuclear, como a NATO. A Rússia informou que deslocaria algumas para a vizinha Bielorrússia.

Quantas existem?
Existirão cerca de 12 mil ogivas nucleares no mundo. EUA e Rússia possuem, juntas, cerca de 90% delas. A grande maioria das ogivas nucleares existentes estão preparadas para potencial utilização e para cima de 2100 mantêm-se em estado de “alerta operacional”, ou seja, instaladas em mísseis balísticos e prontas a serem utilizadas de imediato. Os EUA, que gastam mais no seu arsenal nuclear do que todos os outros países juntos, instalaram em vários pontos do mundo sistemas ditos “antimíssil” com os quais tencionam romper a paridade nuclear com a Federação Russa.

Se fossem usadas hoje, o que aconteceria?
Uma única bomba nuclear detonada sobre uma grande cidade poderia matar milhões de pessoas e a utilização de dezenas ou centenas levaria milhões à morte imediata e perturbaria o clima global, provocando fome generalizada. Cientistas estimam que a utilização de apenas 1% das armas nucleares existentes poderia ameaçar até dois mil milhões de pessoas.

Pela dimensão e poderio dos arsenais existentes, pela tensão internacional que hoje se vive e pela inevitável resposta a um primeiro ataque (ou até mesmo a uma simples ameaça), a utilização de armas nucleares não ficaria confinada a um território limitado. Assim, não se limitaria a replicar o terror de Hiroxima e Nagasáqui – antes os multiplicaria por muito, ameaçando a própria sobrevivência da Humanidade.

Devia existir este tipo de armamento?
A luta contra as armas nucleares é praticamente tão antiga quanto elas próprias. Em 1950, o Conselho Mundial da Paz lançou o Apelo de Estocolmo, pela proibição das armas nucleares, que recolheu dezenas de milhões de assinaturas em todo o mundo.

A pujança das forças da paz, do socialismo e da libertação nacional forçaram a celebração de acordos de controlo armamentista e desarmamento. Por exemplo, em 1968 foi aprovado o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), que visa prevenir a proliferação e caminhar para a eliminação de armas nucleares; em 1972 e 1987, EUA e URSS assinaram respectivamente o Tratado sobre a Limitação das Armas Estratégicas Ofensivas e o Tratado sobre Forças Nucleares Intermédias (do qual os EUA se desvincularam de modo unilateral, em 2017, uma conferência das Nações Unidas aprovou o Tratado de Proibição de Armas Nucleares, apontando à sua proibição e eliminação total. Em vigor desde Janeiro de 2021, na sequência da sua ratificação por 50 Estados, aderiram já a ele 73 – nenhum deles detém armas nucleares nem pertence à NATO e só dois, a Irlanda e a Áustria, integram a União Europeia.