Arre macho!

Henrique Custódio

Ca­vaco Silva, Pre­si­dente da Re­pú­blica, e UGT, cen­tral sin­dical, mar­caram a se­mana com in­ter­ven­ções po­lí­ticas as­si­na­lá­veis.

O pri­meiro, di­zendo que os 10 mil euros men­sais, que re­cebe de duas re­formas as­su­midas, «não dão para as des­pesas» e forçam-no a «re­correr às pou­panças».

A UGT acei­tando for­ma­lizar, «em nome dos tra­ba­lha­dores», um acordo com pa­tro­nato e Go­verno que pre­tende des­re­gu­la­mentar mor­tal­mente a ge­ne­ra­li­dade das leis la­bo­rais con­quis­tadas com a Re­vo­lução de Abril.

Pode dizer-se que ambos cum­prem (mais uma vez) ve­lhos pa­péis.

Ca­vaco Silva exi­bindo o seu es­pesso et­no­cen­trismo lar­ga­mente evi­den­ciado numa longa car­reira po­lí­tica, desde o pe­tu­lante «não tenho dú­vidas e ra­ra­mente me en­gano» dos tempos go­ver­na­men­tais, ao ina­cre­di­tável quei­xume pre­si­den­cial de que re­formas de 10 mil euros/​mês «não dão para as des­pesas».

Já agora, acon­se­lhamos o pre­si­den­cial eco­no­mista a não mexer nas pou­panças antes de con­sumir os vá­rios mi­lhares de euros que a função de Pre­si­dente da Re­pú­blica lhe atribui men­sal­mente para des­pesas – e que Ca­vaco Silva, pru­den­te­mente, se es­queceu de acres­centar aos 10 mil euros men­sais das «re­formas de mi­séria» de que se queixa.

Quanto à UGT, cum­priu mais uma vez o papel que se lhe co­nhece desde a sua fun­dação: a de «cen­tral sin­dical» sempre dis­po­nível a ofi­ci­a­lizar, com a sua as­si­na­tura, todos os ata­ques ao Có­digo do Tra­balho e aos di­reitos dos tra­ba­lha­dores pro­mo­vidos pelas su­ces­sivas po­lí­ticas de di­reita dos go­vernos PS ou PSD, todas também sempre ze­losas a sa­tis­fazer a in­sa­ciável pre­dação do pa­tro­nato na ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores.

Por isso a UGT ficou logo co­nhe­cida, no mundo do tra­balho, por epí­tetos es­cla­re­ce­dores, como «cen­tral ama­rela» ou cen­tral di­vi­si­o­nista, que a dita sempre con­firmou ao longo do tempo.

To­davia, desta vez a UGT deu uma pas­sada muito para além da perna.

Pri­meiro, ao as­sumir-se como o que nunca foi: uma «cen­tral sin­dical» que pode re­pre­sentar «os tra­ba­lha­dores por­tu­gueses». Toda a gente sabe – em­bora já quase nin­guém o diga na co­mu­ni­cação so­cial – que a UGT está muito longe de re­pre­sentar a mai­oria dos tra­ba­lha­dores. Essa mai­oria sempre es­teve na CGTP-IN, a cen­tral sin­dical que mer­gulha as ori­gens na luta contra o fas­cismo, ao con­trário da UGT, ge­rada opor­tu­nis­ti­ca­mente após o 25 de Abril com a missão de sa­botar a luta dos tra­ba­lha­dores. Lem­bram-se do Go­nelha, do PS, a gin­char que «hei-de que­brar a es­pinha à In­ter­sin­dical»?

Se­gundo, ao cau­ci­onar com a as­si­na­tura do seu se­cre­tário-geral, o mi­moso Pro­ença, a mais de­vas­ta­dora ofen­siva contra os di­reitos dos tra­ba­lha­dores con­sa­grados no Có­digo do Tra­balho, e ja­mais ou­sada pelo pa­tro­nato e as go­ver­na­ções de di­reita. Esta «caução» da UGT – como todas as an­te­ri­ores – não re­pre­senta a mai­oria es­ma­ga­dora dos tra­ba­lha­dores sin­di­ca­li­zados, mas per­mite ao Go­verno e ao pa­tro­nato pro­cla­marem a vi­tória tem­pe­rada pelo «apoio dos tra­ba­lha­dores».

Arre macho! Isto co­meça a ser de­mais...



Mais artigos de: Opinião

À guerra do capital…<br>respondemos com luta social!

Quanto mais a eco­nomia mun­dial é em­pur­rada para uma es­piral re­ces­siva mais as classes do­mi­nantes con­cen­tram e cen­tra­lizam ca­pital e poder. De­sen­volve-se assim uma es­ca­lada de guerra contra os di­reitos dos tra­ba­lha­dores e dos povos, contra a de­mo­cracia, a so­be­rania e a paz.

O exame

Na passada semana, a Revista Exame fez uma edição especial com as 500 maiores e melhores empresas de 2010. Vale a pena ler! São 500 empresas do universo das mais de 300 mil existentes no país, mas que têm um volume de vendas na ordem dos 123,9 mil milhões de euros, o que...

Acima das possibilidades

Meses a fio de mistério, e agora finalmente se resolve o enigma. Andamos há meses, talvez anos, a ouvir como uma das justificações para a crise a história de que os portugueses andaram anos a viver acima das suas possibilidades. A generalidade do povo português ouvia o coro...

Eles saber, sabem!

A política que o Governo está a tentar impor para os transportes públicos foi bem caracterizada pelo Partido na síntese – reduzir, encarecer, privatizar – onde a privatização é o objectivo estratégico e o resto são políticas destinadas a...

Stiglitz, ideólogo do capitalismo

´O capitalismo tem assumido no tempo e no espaço diferentes formas de existência e os seus ideólogos nunca falaram a uma só voz. E se há tempos de grande unanimismo e «pensamento único» como aconteceu nos anos de celebração triunfalista das...