Stalinegrado

A hora das grandes decisões

Manoel de Lencastre

Tanto Jukov como Va­si­li­evski sa­biam que o Exér­cito Ver­melho não es­taria em con­di­ções de lançar uma contra-ofen­siva po­de­rosa e su­fi­ci­ente antes de 15 a 20 de No­vembro. Mas sa­biam, igual­mente, que a Ale­manha nazi per­dera pos­si­bi­li­dades de exe­cutar, ple­na­mente, o seu plano es­tra­té­gico para 1942 porque os re­cursos dis­po­ní­veis, após ter­rí­veis perdas sus­ten­tadas, eram in­fe­ri­ores ao mí­nimo ne­ces­sário para tornar exequível a con­quista do Cáu­caso e da his­tó­rica e sim­bó­lica Sta­li­ne­grado, assim como dos deltas do Dão e do Volga.

 

Cinco meses de com­bates in­tensos e fu­ri­osos ti­nham pas­sado. Nos pri­meiros dias de No­vembro (1942) tor­nava-se claro o en­fra­que­ci­mento dos prin­ci­pais grupos de tropas nazis

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Para usarmos as pa­la­vras do pró­prio Jukov, «os ale­mães já não pos­suíam mais ho­mens e mais ma­te­rial que pu­dessem lançar no te­atro de guerra de Sta­li­ne­grado e te­riam, sem dú­vida, tal como acon­te­cera di­ante de Mos­covo, de se re­meter a po­si­ções de­fen­sivas em todos os sec­tores». Era por isso que o co­mando nazi as­sumia a res­pon­sa­bi­li­dade de lançar nas li­nhas onde se morria pelo ‘III Reich’, as di­vi­sões oriundas dos países sa­té­lites, da Ro­ménia, da Hun­gria, da Itália que, en­tre­tanto, não pos­suíam a efi­ci­ência e o co­nhe­ci­mento de si­tu­a­ções de com­bate que se ha­viam per­dido na ilu­sória ten­ta­tiva de en­trar em Mos­covo. Agora, no Sul e no de­ses­pero do as­salto às re­giões de pro­dução pe­tro­lí­fera e à em­ble­má­tica Sta­li­ne­grado, essa efi­ci­ência e esse co­nhe­ci­mento vol­tavam a perder-se e a ficar pelos ca­mi­nhos da guerra.

Jukov, en­tre­tanto, deixou-nos dito algo mais: «Sa­bíamos que o 6.º exér­cito de von Paulus e o 4.º exér­cito ‘Pan­zer', de Her­mann Hoth, duas das mais efi­ci­entes má­quinas de guerra que a ‘Wehr­ma­cht’ pos­suía, ti­nham sido em­pur­rados para o centro de pro­lon­gadas e exaus­tivas ba­ta­lhas no sector de Sta­li­ne­grado. To­davia, esses exér­citos já não po­diam com­pletar a sua missão porque se achavam, sim­ples­mente, pa­ra­li­sados nas pro­xi­mi­dades da ca­pital do Volga, afun­dados na lama das ilu­sões cri­mi­nosas de Adolf Hi­tler e do seu povo. Che­gara, por­tanto, a hora das grandes de­ci­sões de­vido a que na luta mortal às portas da ci­dade e, de­pois, no seu pró­prio centro, também o Exér­cito Ver­melho so­frera ter­rí­veis perdas dei­xando, a certa al­tura, de pos­suir re­cursos hu­manos su­fi­ci­entes para der­rotar o ini­migo. Mas es­tá­vamos a com­pletar a pre­pa­ração de re­servas es­tra­té­gicas em massa, equi­padas com o ar­ma­mento e o equi­pa­mento geral para com­bate mais mo­dernos que se co­nhe­ciam. Em No­vembro, o Co­mando Su­premo es­taria de posse de novas for­ma­ções de tropas me­ca­ni­zadas feitas equipar com o mais efi­ci­ente e ma­no­brável ma­te­rial e de carros de com­bate de novos mo­delos, como era o caso dos tan­ques T-34, o que nos per­mi­tiria de­finir ob­jec­tivos mais am­bi­ci­osos».

Às dez horas da noite de 13 de Se­tembro, o co­man­dante su­premo vol­tava a re­ceber no Kremlin o chefe do Es­tado-Maior do Exér­cito Ver­melho, Va­si­li­evski e, evi­den­te­mente, Jukov, agora se­gundo co­man­dante su­premo, como sa­bemos. Aper­tando-lhes as mãos, mos­trou-se in­dig­nado ao dizer: «De­zenas, cen­tenas de mi­lhares de ci­da­dãos so­vié­ticos estão a dar as suas vidas na luta contra o fas­cismo e o na­zismo, mas Chur­chill pre­fere fazer-nos perder tempo a dis­cutir o preço de vinte aviões ‘Hur­ri­cane’. A ver­dade é que os ‘Hur­ri­ca­nes’ não são bons apa­re­lhos. Os nossos pi­lotos não gostam deles!». Mas olhando o mapa que Va­si­li­evski e Jukov abriam sobre a mesa de reu­niões, per­guntou: «O que me trazem aí?». Foi o pri­meiro quem res­pondeu: «Trata-se do tra­çado pre­li­minar de um plano para a contra-ofen­siva na área de Sta­li­ne­grado e as con­cen­tra­ções de tropas que o ca­ma­rada Sta­line está a ver, aí, à volta de Se­ra­fi­mo­vitch, re­pre­sentam a nova Frente que te­remos de criar se qui­sermos atingir o ini­migo com um golpe de­vas­tador à sua re­ta­guarda na área de Sta­li­ne­grado». O se­cre­tário-geral do PC da URSS ia a per­guntar com que forças se de­sen­ca­de­aria se­me­lhante ope­ração, mas Va­si­li­evski, que já es­pe­rava a re­acção, es­cla­receu: «Te­remos essas forças dentro de 45 dias!». O ca­ma­rada Sta­line pôs-se a pensar…

Os dois prin­ci­pais ofi­ciais do Exér­cito Ver­melho pas­saram, então, a des­crever a es­sência do seu plano. «A ope­ração será di­vi­dida em duas fases», disse Jukov. E logo es­cla­re­ceria: «A pri­meira, con­sis­tirá na pe­ne­tração e no en­vol­vi­mento do sis­tema de­fen­sivo ini­migo em Sta­li­ne­grado e na cri­ação de uma Frente, se­gura e forte, no ex­te­rior, que isole as forças ini­migas cer­cadas; a se­gunda fase será aquela em que essas forças ini­migas, cer­cadas, serão des­truídas ao mesmo tempo que blo­que­adas todas as ten­ta­tivas que te­nham lugar, even­tu­al­mente, para li­bertá-las». En­quanto isto, ao te­le­fone, Ye­re­menko anun­ciava que os nazis es­tavam a con­duzir mais uni­dades de tan­ques para Sta­li­ne­grado pelo que seria de es­perar um novo e po­de­roso ataque no dia se­guinte. Vol­tando-se para Jukov, o co­man­dante su­premo gritou: «Te­le­fone a Gordov e a Go­lo­vanov para que lancem ata­ques aé­reos sobre essas forças nazis, logo às pri­meiras horas da manhã. E o ca­ma­rada, vista a gra­vi­dade do mo­mento, parta já para a zona da Frente de Sta­li­ne­grado e es­tude as con­di­ções que se nos apre­sentam em Klets­kaya e em Se­ra­fi­mo­vitch. Será bom que, dentro de dias, o ca­ma­rada Va­si­li­evski se des­loque também para o sector da Frente Ori­ental-Sul para dis­cutir com Ye­re­menko a si­tu­ação na sua ala es­querda. Quanto à nossa aná­lise do vosso plano, tra­ta­remos disso mais tarde mas, por en­quanto, es­pero que nin­guém saiba nada do que aqui dis­cu­timos».

Em dias e noites de do­lo­rosos e san­gui­ná­rios com­bates, os nazis atra­ves­savam as ruínas da ci­dade, quase passo a passo, pre­pa­rando-se para atingir a margem oposta do Volga. Tudo in­di­cava que o con­se­gui­riam, apesar do sa­cri­fício de forças dis­persas do 62.º exér­cito (Chuikov) e do 64.º (Chu­milov), da Frente Ori­ental-Sul, para lhes re­tar­darem a pro­gressão. Se­gundo Jukov, «as ruínas da ci­dade es­tavam trans­for­madas numa es­tranha for­ta­leza». Mas o novo contra-ataque da 13.ª di­visão de Guardas (Ro­dimt­siev), ines­pe­rado para os nazis, levou à re­cu­pe­ração de al­gumas po­si­ções. Também a acção do 16.º exér­cito do Ar (Ru­denko) em apoio ao 24.º exér­cito de in­fan­taria (Ga­la­nine), ao 1.º exér­cito de Guardas (Mos­ka­lenko) e a ou­tras for­ma­ções per­ten­centes à Frente de Sta­li­ne­grado (Gordov), con­tri­buiu para que a marcha do ini­migo co­me­çasse a de­pau­perar-se. Em fins de Se­tembro e prin­cí­pios de Ou­tubro, a grave si­tu­ação que con­ti­nuava a viver-se no sector de Sta­li­ne­grado obri­gava, mesmo que os cri­a­dores do novo plano de contra-ataque so­vié­tico o não de­se­jassem, à re­a­li­zação de novas reu­niões em Mos­covo e à con­cre­ti­zação de um acordo quanto aos pri­meiros passos desse te­me­rário mas gi­gan­tesco e pa­trió­tico pro­jecto.

Ro­kos­sovski na Frente do Dão

Foi de­ci­dido, para co­meçar, que a Frente de Sta­li­ne­grado pas­sasse a de­signar-se como Frente do Dão e que se cha­masse o te­nente-ge­neral Kons­tantin Ro­kos­sovski a co­mandá-la. Este, como sa­bemos, fora co­man­dante do 16.º exér­cito e tinha par­ti­ci­pado, he­roi­ca­mente, no in­ferno da ba­talha de Mos­covo di­ri­gindo as ope­ra­ções de­fen­sivas no sector de Vo­lo­ko­lamsk. Para chefe do Es­tado-Maior da nova Frente seria no­meado o ge­neral Ma­li­nine. Va­tu­tine (Ni­kolay) as­su­miria o co­mando da Frente Oci­dental-Sul a que se jun­taria o 40.º exér­cito sob as or­dens de um novo co­man­dante, Mos­ka­lenko, trans­fe­rido do exausto 1.º exér­cito de Guardas. Sta­line, en­tre­tanto, ma­ni­fes­tava-se en­tu­si­as­mado e, si­mul­ta­ne­a­mente, in­quieto de­vido às pe­sadas res­pon­sa­bi­li­dades que te­riam de ser as­su­midas en­vol­vendo a vida de mi­lhões de ho­mens. «Ca­ma­rada Jukov!», disse, no de­correr de um novo en­contro no Kremlin: «Re­gresse, ime­di­a­ta­mente, à sua po­sição no sector de Sta­li­ne­grado; ob­serve, uma vez mais e com re­do­brado cui­dado, as áreas de­ta­lhadas no plano como zonas de con­cen­tração de di­vi­sões de re­serva; o mesmo quanto às li­nhas de onde par­tirão os contra-ata­ques da Frente Oci­dental-Sul e da ala di­reita da Frente de Sta­li­ne­grado e, par­ti­cu­lar­mente, à volta de Se­ra­fi­mo­vitch e Klets­kaya. O ca­ma­rada Va­si­li­evski, deve, igual­mente, voltar ao sector da ex­trema-es­querda na Frente Ori­ental-Sul (Ye­re­menko) e es­tudar, aí, todos os pro­blemas re­la­ci­o­nados com o nosso plano». Os pa­péis e os mapas re­fe­rentes ao ex­tra­or­di­nário mo­vi­mento de tropas e de re­cursos ma­te­riais que re­sul­taria no contra-ataque do Exér­cito Ver­melho foram as­si­nados pelos dois chefes mi­li­tares. O Co­man­dante Su­premo, en­tre­tanto, acres­cen­taria em todos esses do­cu­mentos, já as­si­nados, uma só pa­lavra: «Aprovo!» su­bli­nhando-a com a sua pró­pria as­si­na­tura, J. Sta­line.

O posto de co­mando da nova Frente do Dão (Ro­kos­sovski), lo­ca­li­zava-se perto da margem do Volga. A Frente era com­posta pelos 63.º exér­cito (Kuz­netsov), que ocu­pava uma zona frontal de 200 qui­ló­me­tros ao longo da margem es­querda Norte do rio Dão e uma pe­quena testa-de-ponte na margem es­querda Sul do mesmo rio em Verkhni Mamon; pelo 21.º (Da­nilov), que ocu­pava uma zona frontal de 150 qui­ló­me­tros, também na margem es­querda Norte, e uma testa-de-ponte na margem es­querda Sul, em Ye­lans­kaya, Ust-Kho­pers­kaya, Se­ra­fi­mo­vitch; pelo 4.º de tan­ques (Kryu­chen­kine, de­pois, Batov), que ocu­pava um sector de 30 qui­ló­me­tros de ex­tensão na margem es­querda Norte, entre o Dão e o Volga; pelo 24.º (Ga­la­nine) num sector de 50 qui­ló­me­tros de ex­tensão, também entre os dois rios; e pelo 66.º (Ma­li­novski, de­pois Zhadov) que ocu­pava, numa linha de 20 qui­ló­me­tros de ex­tensão igual­mente, entre os dois rios, o res­pec­tivo flanco es­querdo po­si­ci­o­nando-se do lado do Volga. Assim, dois exér­citos to­ma­riam po­si­ções num vasto es­paço que se tra­çava ao longo do rio Dão, en­quanto três ou­tros com­ba­te­riam em ter­renos entre este e o Volga ame­a­çando o prin­cipal grupo de forças nazis que, no início das ope­ra­ções, em Julho, sur­gira de Norte, em toda a zona do fa­moso e his­tó­rico rio.

Por outro lado, a nova Frente de Sta­li­ne­grado que se de­sig­nara, até então, como a nossa já co­nhe­cida Frente Ori­ental Sul, con­ti­nuava sob o co­mando do ge­neral Ye­re­menko e in­cor­po­rava, prin­ci­pal­mente, o 62.º exér­cito (Chuikov) que lu­tava dentro da ci­dade e do qual se havia per­dido o con­tacto tanto a Norte como a Sul de­vido à in­ter­venção de uni­dades ini­migas que com­ba­tiam em plena margem di­reita do Volga; aquela que seria a nova Frente de Sta­li­ne­grado com­pre­endia, ainda, o 64.º exér­cito (Chu­milov), o 57.º (Tol­bu­kine) e o 51.º (Tru­fanov). Todas estas for­ma­ções de­fen­diam uma larga zona frontal, a Sul do lago Bar­mantsak. En­tre­tanto, de­pois da luta con­tínua em que se ha­viam visto en­vol­vidas, não era di­fícil ve­ri­ficar que a quase to­ta­li­dade das uni­dades de­sig­nadas para a cons­ti­tuição da­quilo que seria a nova Frente do Dão se en­con­travam se­ve­ra­mente di­mi­nuídas nos seus efec­tivos e era por isso que co­me­çavam a re­tirar para zonas à re­ta­guarda com o ob­jec­tivo de serem re­or­ga­ni­zadas. Ro­kos­sovski sabia que a si­tu­ação não lhe per­mi­tiria uma re­es­tru­tu­ração de forças sob o seu co­mando em grande es­cala, mas che­gara pre­pa­rado para pôr em prá­tica o seu pró­prio sis­tema de con­trolo de tropas.

Em fins de Se­tembro, o ini­migo pa­recia ter em­pe­nhado em acção pelos ob­jec­tivos que já co­nhe­cemos todas as suas forças dis­po­ní­veis. O Grupo de Exér­citos ‘A’ (ma­re­chal de campo, List) en­vol­vera-se numa luta ex­tre­ma­mente exaus­tiva, in­ter­mi­nável, nas mon­ta­nhas do Cáu­caso onde a de­ses­pe­rada re­sis­tência so­vié­tica o man­tinha se­ri­a­mente com­pro­me­tido e sem ga­nhos à vista, o que le­varia Hi­tler a de­miti-lo. Para mais, o 4.º exér­cito ‘Pan­zer’ (Hoth) ti­vera de ser trans­fe­rido para o Grupo de Exér­citos ‘B’ a fim de lutar entre o Volga e o Dão onde os com­bates en­vol­vendo os dois mundos em pre­sença, sempre mais fu­ri­osos, pro­vo­cavam baixas con­si­de­rá­veis. Tor­nava-se evi­dente que a cam­panha nazi di­fi­cil­mente con­se­guiria cap­turar o Cáu­caso ou do­minar o Volga no rumo de Sta­li­ne­grado para As­trakan. Sem di­fi­cul­dades, qual­quer ob­ser­vador cons­ta­tava que o ini­migo tinha es­go­tado muitas das suas pos­si­bi­li­dades ofen­sivas. Os flancos do seu prin­cipal grupo de tropas em ope­ra­ções entre os dois rios e na pró­pria ci­dade de Sta­li­ne­grado dis­pu­nham de ina­de­quada pro­tecção. Por outro lado, os nazis já não pos­suíam re­servas su­fi­ci­entes que lhes per­mi­tissem uma re­or­ga­ni­zação nas áreas ocu­padas e as suas co­mu­ni­ca­ções, que se alon­gavam através de um ter­ri­tório muito vasto, tor­navam-se vul­ne­rá­veis. Onde se com­batia, sur­giam campos ou es­paços, imensos, co­a­lhados de tan­ques des­truídos e aban­do­nados, al­guns ainda fu­me­gantes, tanto ale­mães como so­vié­ticos. Os nazis cons­truíam trin­cheiras sob esses carros de com­bate de onde se tor­nava di­fícil e cus­toso de­sa­lojá-los.

Cinco meses de com­bates in­tensos e fu­ri­osos ti­nham pas­sado. Nos pri­meiros dias de No­vembro (1942) tor­nava-se claro o en­fra­que­ci­mento dos prin­ci­pais grupos de tropas nazis. No in­te­rior de Sta­li­ne­grado, onde se lu­tava desde Julho, apenas al­gumas uni­dades se li­mi­tavam a ac­ções de menos sig­ni­fi­cado. A “Wehr­macht” já não des­co­nhecia o seu des­tino. Apenas pro­cu­rava adiá-lo. Mas, do lado so­vié­tico, o mo­vi­mento fer­ro­viário in­ten­si­fi­cava-se. As três frentes de exér­citos en­vol­vidas na contra-ofen­siva geral co­me­çavam a re­ceber apre­ciá­veis re­forços em pes­soal e em equi­pa­mentos de todas as es­pé­cies. A Frente do Dão, por exemplo, cedia os 63.º e 21.º exér­citos à re­cen­te­mente criada Frente Oci­dental-Sul (Va­tu­tine) mas re­cebia di­versas di­vi­sões de in­fan­taria com pes­soal mais pre­pa­rado para as suas fu­turas ope­ra­ções e, es­pe­ci­al­mente, um se­gundo Corpo de bom­bar­deiros para re­forço do seu 16.º exér­cito do Ar (Ru­denko).

Horas de­ci­sivas

Se­gundo o plano es­ta­be­le­cido e de­sen­vol­vido por Jukov e Va­si­li­evski, a que Sta­line se as­so­ciou, como vimos, seria a Frente Oci­dental-Sul a des­ferir, no mo­mento exacto, o ataque prin­cipal, par­tindo da testa-de-ponte a Su­do­este de Se­ra­fi­mo­vitch contra o 3.º exér­cito ro­meno. Esta ini­ci­a­tiva, na di­recção de Ka­lach, para Sul, con­du­ziria a que no ter­ceiro dia de ope­ra­ções uni­dades dessa Frente, que Va­tu­tine co­man­dava, se apro­xi­massem da­quelas que, per­ten­centes à nova Frente de que Ye­re­menko era o co­man­dante, ti­nham par­tido para So­vi­etski, idas da área dos lagos Bar­ma­nisak e Sarpa na di­recção dos rios Kri­vaya e Chir. As duas frentes e a do co­mando de Ro­kos­sovski (Dão) de­se­nha­riam, assim, um anel no ter­reno e mar­cha­riam para Ka­lach e para So­vi­etski, o que, em termos prá­ticos, cor­res­pondia ao cerco de todo o grupo nazi que, sob o co­mando de von Paulus, ainda lu­tava em partes de Sta­li­ne­grado e nas suas cer­ca­nias. Con­cre­ta­mente, a missão de Ye­re­menko con­sistia na eli­mi­nação do 6.º corpo de exér­cito ro­meno abrindo ca­minho para No­ro­este na di­recção de So­vi­etski, que fi­cava muito perto de Ka­lach, como sa­bemos. Uni­dades de Ye­re­menko aca­ba­riam, assim, por estar na junção com as da Frente Oci­dental-Sul (Va­tu­tine) que atin­gi­riam Ka­lach para, com a Frente do Dão (Ro­kos­sovski) cum­prirem o ob­jec­tivo de des­truir o 6.º exér­cito, de von Paulus, e o 4.º exér­cito ‘Pan­zer’ de Hoth, com­ple­ta­mente.

Para sermos mais pre­cisos: a Frente do Dão (Ro­kos­sovski) par­tiria da testa-de-ponte em Klets­kaya e do sector de Ka­cha­lins­kaya. No seu per­curso, to­mando a di­recção de Vertyachi, en­vol­veria e des­truiria as for­ma­ções ini­migas po­si­ci­o­nadas no sector da curva do rio Dão. Estas ope­ra­ções, que se de­sen­ro­la­riam dra­má­tica e es­pec­ta­cu­lar­mente e fi­ca­riam na His­tória, se­riam ini­ci­adas a 19 de No­vembro para as Frentes Oci­dental-Sul e do Dão e a 20 para a Frente de Sta­li­ne­grado. Mas quanto tempo seria ne­ces­sário para com­pletá-las? As prin­ci­pais forças nazis do Grupo de Exér­citos ‘B’, sob o co­mando do ma­re­chal de campo Weichs (Ma­xi­mi­lien), achavam-se na área cen­tral do Dão, em Sta­li­ne­grado e na re­gião dos lagos Sar­pinskye e com­pre­en­diam, como sa­bemos, os exér­citos ita­li­anos e ro­menos e as po­de­rosas for­ma­ções nazis já acima men­ci­o­nadas que Paulus e Hoth co­man­davam. Os seus efec­tivos, al­guns de ques­ti­o­nável valor, iam para cima de um mi­lhão de ho­mens, pos­suíam 675 tan­ques e ou­tros tipos de carros de com­bate e mais de 10 000 peças de ar­ti­lharia e mor­teiros e ti­nham o apoio aéreo da ‘Luftwaffe’ através da 4.ª Ar­mada e do 8.º Corpo de Exér­cito do Ar.