«Nós temos o poder!»

António santos

A solidariedade dos trabalhadores venceu em Boston, EUA. Mais de dois anos depois de terem sido injustamente despedidos, quatro dirigentes do sindicato do transporte escolar da cidade, o United Steelworkers Local 8751, foram, na semana passada, readmitidos. Coroando a derrota da sombria multinacional Veolia/Transdev, os motoristas conquistaram um aumento salarial de 5,5 por cento, o direito à reforma ao fim de 30 anos de serviço e um contrato colectivo de trabalho blindado por 40 anos, entre muitos outros avanços.

O presidente do sindicato, Andre François, o vice-presidente, Steve Kirschbaum, e dois outros dirigentes, Steve Gillis e Garry Murchison, tinham sido despedidos em Outubro de 2013, acusados de promoverem uma «greve selvagem». Contra Steve Kirschbaum, militante do partido Workers World, foram lançadas falsas mas graves acusações criminais, a par de uma intensa campanha mediática anti-comunista.

«Não foi uma greve selvagem, foi um lock-out ilegal», explicou ao Avante! Steve Kirschbaum, «a Veolia não ganhou a concessão do transporte escolar por ter a oferta mais barata, que não tinha, mas por ter uma experiência internacionalmente reconhecida a arrasar sindicatos [union busting (N. do T.)]. Mal chegaram começaram a desrespeitar o contrato colectivo. Quando exigimos falar com eles, impediram-nos pela força de entrar nas instalações e usaram essa oportunidade para construir a cilada a que chamaram de “greve selvagem”».

«Uma luta histórica»

Tudo isto teve lugar em vésperas de eleições no sindicato: «o objectivo era isolar e desprestigiar uma direcção politicamente comprometida. Há quarenta anos que temos a reputação de sermos um sindicato “à antiga”... contra a guerra... contra o racismo... da classe operária! Era isso que eles queriam derrubar. É uma luta histórica», conclui o vice-presidente do sindicato.

Foi, contudo, esse carácter solidário e a identidade de classe do sindicato que lhe permitiu resistir e vencer. Ao contrário do que a administração da Veolia previa, a repressão contra os quatro dirigentes sindicais foi desafiada por um vigoroso movimento de solidariedade que rapidamente ultrapassou as fronteiras, do sindicato, da comunidade, do Estado e dos EUA.

«Eles quiseram vencer-nos pela fome», explicou Steve Kirschbaum. «Eu conduzia um autocarro doze horas por dia... sou um trabalhador. Sozinho, não podia ter estado durante dois anos sem um salário, a enfrentar um processo em tribunal e ainda, depois de tudo, a lutar pelos nossos direitos... Mas não estava sozinho. Chegou solidariedade de todo o país e mesmo do estrangeiro: do movimento Black Lives Matter a dezenas de sindicatos um pouco por todo o país, passando por organizações palestinianas que também estão em luta com a Veolia. A lição que aprendemos é que precisamos de construir novas alianças.»

«Isto vai mudar»

Mas a chave para a vitória foi, admite Steve Kirschbaum, a disponibilidade dos motoristas de autocarros para continuar a luta e voltar à greve caso as negociações falhassem. Foi assim que, na sequência de uma maratona de 25 horas de negociação, a Veolia e a Cidade de Boston readmitiram os dirigentes sindicais despedidos com direito a uma importante indemnização. Mais ainda, a dois dias do Natal, foi ratificado o novo contrato colectivo.

Para além de um aumento imediato de 5,5% com efeitos retroactivos desde 2014, os trabalhadores passam a poder reformar-se aos 30 anos de serviço, independentemente da idade. Por outro lado, o patrão passa a assumir uma maior percentagem da despesa em seguros de saúde dos trabalhadores e assume a blindagem do processo de negociação colectiva durante os próximos 40 anos. Finalmente ficou decidido que o sindicato poderá levar directamente à autarquia as mais de 700 denúncias por violações do contacto cometidas pela Veolia ao longo dos últimos três anos.

«Ao longo dos últimos anos, os trabalhadores têm conhecido muitos retrocessos e poucas conquistas», contextualiza o dirigente sindical estado-unidense, «mas isso vai mudar. E esta experiência mostra que os trabalhadores podem lutar e vencer até contra os maiores capitalistas. Eles têm o dinheiro mas, unidos, nós temos o poder», concluiu.

 



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