A questão do Estado é a questão central de qualquer revolução

Venezuela, a questão central do poder

Albano Nunes

A vi­o­lência da cam­panha contra a Ve­ne­zuela bo­li­va­riana e a não menos vi­o­lenta onda de an­ti­co­mu­nismo vo­mi­tada contra o PCP só é ex­pli­cável porque o que está em jogo é o des­tino de um pro­cesso re­vo­lu­ci­o­nário. A ex­tra­or­di­nária agu­di­zação da luta que opõe as forças re­ac­ci­o­ná­rias e o im­pe­ri­a­lismo às forças que de­fendem as con­quistas al­can­çadas desde a his­tó­rica vi­tória de Hugo Chávez nas elei­ções pre­si­den­ciais de 1998 não é apenas em torno da ori­en­tação po­lí­tica do poder, mas em torno do pró­prio poder, seu con­teúdo eco­nó­mico e so­cial e na­tu­reza de classe.

A questão do Es­tado é a questão cen­tral de qual­quer re­vo­lução e na Ve­ne­zuela o que tem es­tado em de­sen­vol­vi­mento com a apro­vação da Cons­ti­tuição bo­li­va­riana que con­sagra uma ori­en­tação po­pular, anti-oli­gár­quica e anti-im­pe­ri­a­lista é um ori­ginal pro­cesso de trans­for­ma­ções re­vo­lu­ci­o­ná­rias que já se tra­du­ziram em grandes avanços e con­quistas de­mo­crá­ticas, mas cuja de­fesa e con­so­li­dação exigem – como aliás prevê a pró­pria Cons­ti­tuição – que o sis­tema de poder su­pere os mé­todos, ainda pre­do­mi­nantes, da de­mo­cracia formal bur­guesa e se apro­funde a com­po­nente par­ti­ci­pa­tiva da de­mo­cracia, de modo a en­raizar o Es­tado nas massas tra­ba­lha­doras da ci­dade e do campo e a co­locá-lo ao abrigo da de­ma­gogia, da sa­bo­tagem e da pro­vo­cação, sempre prontas a apro­veitar-se de fac­tores con­jun­tu­rais ad­versos para in­verter e des­truir o pro­cesso bo­li­va­riano .

Que não haja qual­quer dú­vida. O que faz correr tão agres­si­va­mente a «opo­sição» in­terna, o im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano (e eu­ropeu) e a re­acção la­tino-ame­ri­cana, não é a «de­mo­cracia» nem os «di­reitos hu­manos», e muito menos o res­peito pela Cons­ti­tuição bo­li­va­riana a que aliás sempre se opu­seram. O en­sur­de­cedor coro mon­tado no plano in­ter­na­ci­onal contra a As­sem­bleia Na­ci­onal Cons­ti­tuinte – do qual, la­men­ta­vel­mente, se­guindo a po­sição hostil da União Eu­ro­peia, par­ti­cipa o Go­verno por­tu­guês – mostra que é re­al­mente a na­tu­reza de classe do poder que está em causa e que a re­acção e o im­pe­ri­a­lismo estão dis­postos a tudo para atingir os seus ob­jec­tivos contra-re­vo­lu­ci­o­ná­rios. Não é por acaso que tal coro es­conde que a pró­pria Cons­ti­tuição de 1999 prevê o seu aper­fei­ço­a­mento no in­te­resse do apro­fun­da­mento do ca­rácter po­pular e so­be­rano do pro­cesso bo­li­va­riano. O que sig­ni­fica que a res­posta do go­verno da Ve­ne­zuela à ofen­siva contra-re­vo­lu­ci­o­nária é não só le­gí­tima como in­tei­ra­mente cons­ti­tu­ci­onal. Em qual­quer caso, é bem sa­bido que uma re­vo­lução que se não de­fenda com todas as armas ao seu dispor é uma re­vo­lução per­dida. A re­vo­lução bo­li­va­riana de­fende-se e tem ao seu lado os co­mu­nistas por­tu­gueses. O PCP não he­sita em ques­tões de prin­cípio. Ne­nhuma cam­panha fará o PCP va­cilar na sua po­sição in­ter­na­ci­o­na­lista.

Apesar de frus­trada no ime­diato, a ofen­siva contra-re­vo­lu­ci­o­nária que desde Abril já pro­vocou mais de cem mortos não ter­minou. A brutal ameaça de in­ter­venção mi­litar dos EUA, sem pre­ce­dentes na his­tória da Ve­ne­zuela, mostra que a so­li­da­ri­e­dade com o pro­cesso re­vo­lu­ci­o­nário bo­li­va­riano tem de con­ti­nuar.

 



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