Ou vai ou racha…

Ângelo Alves

A UE tenta a todo o custo re­verter a de­cisão do povo bri­tâ­nico

Esta se­mana ocorrem vá­rias vo­ta­ções que de­ter­mi­narão o des­fecho do pro­cesso de saída do Reino Unido da União Eu­ro­peia (este ar­tigo foi re­di­gido antes dessas vo­ta­ções). Nas úl­timas se­manas a pro­pa­ganda ide­o­ló­gica e a pressão, cen­trada na chan­tagem po­lí­tica e eco­nó­mica, não co­nhe­ceram li­mites. O ob­jec­tivo foi tentar até ao fim per­verter e re­verter a de­cisão do povo bri­tâ­nico, trans­formar a sua de­cisão so­be­rana num ter­rível «pe­cado», e co­locar na lista da sa­cros­santa «União» o Man­da­mento «não sairás». Coube a Do­nald Tusk ver­ba­lizar a ex­co­mu­nhão dos «pro­mo­tores do Brexit» ao afirmar que para esses es­tará re­ser­vado «um lugar no in­ferno».

Com vá­rios ele­mentos da crise do pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista a apro­fun­darem-se e a con­ju­garem-se, a ma­ni­pu­lação, os apelos à ir­ra­ci­o­na­li­dade e o po­pu­lismo en­charcam os dis­cursos ofi­ciais que pro­curam conter re­sis­tên­cias, con­di­ci­onar as es­co­lhas das pró­ximas elei­ções e tentar sair do pân­tano por via de mais uma fuga em frente. É disso re­cente exemplo a «Carta» de Ema­nuel Ma­cron «aos ci­da­dãos da Eu­ropa».

Num texto ei­vado das ve­lhas tác­ticas do medo e do ini­migo ex­terno e in­terno, Ma­cron de­sen­volve um misto de ma­ni­pu­lação, dra­ma­ti­zação e po­pu­lismo para re­petir os cha­vões da tese de «mais Eu­ropa» (leia-se mais União Eu­ro­peia) para fazer face aos «pe­rigos» de que «o Brexit é o sím­bolo».

Con­tudo, o texto de Ma­cron tem uma vir­tude: diz no con­creto ao que vem, e ao fazê-lo acaba por ele pró­prio des­montar a pro­pa­ganda en­ga­nosa. Ma­cron quer «de­fender a li­ber­dade», para isso propõe criar a «agência eu­ro­peia da pro­tecção das de­mo­cra­cias», ou seja, aquilo que po­deria ser uma es­pécie de Troika ide­o­ló­gica para impor as «de­mo­crá­ticas» re­gras da União Eu­ro­peia, con­trolar a in­ternet, de­finir como se fi­nan­ciam todos os par­tidos po­lí­ticos da Eu­ropa e «banir dis­cursos de ódio e de vi­o­lência», sem de­finir o que são tais dis­cursos.

Quer «pro­teger o con­ti­nente», para isso propõe um «tra­tado» e um «con­selho eu­ropeu de se­gu­rança», o au­mento das des­pesas mi­li­tares, e uma «cláu­sula de de­fesa mútua ope­ra­ci­o­na­li­zada», ou seja, amarrar-nos a todos à es­tra­tégia mi­li­ta­rista e in­ter­ven­ci­o­nista do eixo franco-alemão, no­me­a­da­mente na grande pri­o­ri­dade de Ma­cron – África – fa­zendo jus às me­lhores tra­di­ções co­lo­ni­a­listas. Propõe ainda que seja Bru­xelas a «punir ou proibir as em­presas es­tra­té­gicas que pre­ju­dicam os nossos in­te­resses», im­pe­dindo os Es­tados de de­sen­volver as suas pró­prias po­lí­ticas ex­ternas no plano eco­nó­mico e co­mer­cial.

Quer «res­gatar o es­pí­rito de pro­gresso». No con­creto propõe que quem passe a de­finir os nossos sa­lá­rios, in­cluindo o SMN, seja a União Eu­ro­peia, «adap­tados a cada País». Quer ainda criar um «banco eu­ropeu do clima», uma «força sa­ni­tária eu­ro­peia», uma «su­per­visão eu­ro­peia das grandes pla­ta­formas di­gi­tais» e um «novo Con­selho eu­ropeu da ino­vação» com «um or­ça­mento com­pa­rável ao dos EUA». Ape­tece deixar a per­gunta: Go­vernos na­ci­o­nais para quê?!

Ma­cron quer mais, «mais de­pressa» e «sem Tabus, nem mesmo a re­visão dos tra­tados». Se for ne­ces­sário, que seja a «ritmos di­fe­rentes». Ou seja, na co­nhe­cida ex­pressão lusa, «ou vai ou racha». Mas o sonho im­pe­rial de Ma­cron tem um pro­blema: chama-se POVOS. E pode ra­char… e partir!




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