Bielorrússia rejeita ingerências externas
DESESTABILIZAÇÃO A situação na Bielorrússia é complexa, após a não aceitação pela oposição dos resultados eleitorais e da vitória do presidente Lukashenko, face à aberta ingerência da União Europeia e de países vizinhos, como a Polónia, a Lituânia e a Ucrânia.
Apoiada do exterior, oposição não aceita resultados das eleições presidenciais
Embora a candidata opositora, Svetlana Tijanovskaya – que após as eleições viajou para a Lituânia – tenha obtido apenas 10,1 por cento dos votos nas urnas, segundo a Comissão Central Eleitoral, logo na noite das eleições os seus apoiantes levaram a cabo protestos violentos na capital, repetidos nos dias seguintes. Dos choques entre estes grupos e a polícia resultaram feridos e detidos, em números que variam conforme as fontes.
Apoiada do exterior por países vizinhos, pela União Europeia e pelos EUA, a oposição bielorrussa não aceita os resultados da votação e exige a saída do presidente e a repetição das eleições presidenciais. Seguindo o figurino do golpe recente na Bolívia, a candidata opositora derrotada, Svetlana Tikhanovskaya, afirmou na segunda-feira estar «pronta para liderar o país» e «agir como líder nacional». A reivindicação de novas eleições cede o passo à de puro e simples afastamento do presidente.
O governo bielorrusso denunciou que, a partir de países vizinhos, foram criados instrumentos na Internet para incentivar protestos nas ruas. A participação nos protestos da oposição de agências governamentais norte-americanas, como a USAID, revela a profundidade do envolvimento estrangeiro. No mesmo sentido, o presidente Alexander Lukashenko afirmou que a actual situação na Bielorrússia se deve a uma «ingerência externa» e denunciou a presença de tropas da NATO nas «fronteiras ocidentais» do país. As Forças Armadas bielorrussas encontram-se mobilizadas para responder a esta ameaça.
No dia 15, Lukashenko anunciou que acordou com Vladimir Putin que a Rússia ajudará a Bielorrússia a garantir a sua segurança, em caso de ameaças militares externas e se solicitado por Minsk, no quadro dos tratados existentes entre os dois países.
Objectivos revelados
Entretanto, por mais que as grandes cadeias mediáticas o procurem ocultar, um pouco por todo o país estão a ter lugar manifestações de apoio ao actual presidente e ao processo político que encabeça. No domingo, 16, dezenas de milhares concentraram-se numa praça central da capital e a 18 realizaram-se grandes manifestações noutras cidades, como Gomel e Mogilev. O Partido Comunista da Bielorrússia está empenhado nestas acções.
Em Minsk, o presidente Lukashenko garantiu que ceder às pressões externas e da oposição interna representaria um risco para a sobrevivência da Bielorrússia enquanto Estado independente. Rejeitando a existência de qualquer fraude eleitoral, o chefe de Estado reafirmou que jamais deixará que o país seja entregue ao estrangeiro, como tantos outros dos seus vizinhos, e defendeu o rumo desenvolvido nas últimas décadas.
Ao contrário da generalidade dos países da região, que viram a sua economia desmantelada e os seus recursos pilhados após o desaparecimento da União Soviética, a Bielorrússia, com Lukashenko, apesar da existência de reais problemas, defendeu e promoveu sectores produtivos e serviços públicos, travando o seu desmantelamento e privatização, e foi capaz de salvaguardar a independência nacional.
O teor do «programa» da oposição não deixa, aliás, margem para dúvidas do que realmente se pretende: a retirada do país das organizações internacionais euro-asiáticas e subsequente integração na União Europeia e na NATO, limitações significativas nas relações económicas, políticas e culturais com a Rússia e privatizações do vasto e valioso sector público bielorrusso.
A este respeito, denunciou Lukashenko, o «programa» é claro, ao consagrar a proibição da venda a empresas russas de património público bielorrusso. «Questiono-me a que empresas ele pode ser vendido, então. Naturalmente, as ocidentais», ironizou, reafirmando a política seguida desde 1994 até hoje: «não vamos vender nada a ninguém.»