Adriano, Ary, Aleixo e Urbano no Café-Concerto
A palavra feita arte
Adriano Correia de Oliveira, Ary dos Santos e António Aleixo serão evocadas no Café-Concerto, num espectáculo de homenagem com a participação de Simone de Oliveira e Morais e Castro, entre outros. O 50.º aniversário da obra de Urbano Tavares Rodrigues e os 85 anos da Revolução de Outubro serão também recordados.
Como
foi publicado numa recente edição do Avante!, a poesia de José
Carlos Ary dos Santos é a base de um espectáculo que terá
lugar no Avanteatro, na noite de domingo. O Café-Concerto também
evocará o poeta num espectáculo que recorda ainda as obras de
Adriano Correia de Oliveira e António Aleixo. A actuação
ficará a cargo de Simone de Oliveira e Morais e Castro, entre outros.
Militante
do PCP, o compositor e cantor Adriano Correia de Oliveira é habitualmente
associado ao 25 de Abril, não só pela sua participação
em grandes jornadas de luta pela liberdade e pela paz antes da revolução,
como pelas canções que marcaram aquele período. Adriano
correu o País de Norte a Sul em campanhas de dinamização
cultural e em comícios e festas do Partido, da APU e do movimento sindical.
O fado e outras manifestações da canção tradicional portuguesa fazem parte da carreira de Adriano, que se iniciou em Coimbra, nos anos 60, onde frequentou o curso de Direito. Integrou ainda a Comissão de Espectáculos da primeira Festa do Avante! e actuou em todas as edições até à sua morte.
«A voz de Adriano Correia de Oliveira vem das mais profundas raízes da nossa história, do nosso povo e das mais profundas raízes da camaradagem e do ser humano», considera Óscar Lopes, acrescentando que os poemas de Adriano surgem na linha da «secular tradição de luta do povo português contra a traição dos exploradores».
António
Aleixo é outro homenageado. Semi-analfabeto, cantador e repentista, Aleixo
nasceu e viveu no Algarve. Durante anos percorria as feiras com uma guitarra
a cantar as suas quadras, respondendo as muitas solicitações.
Guardador de cabras, soldado e polícia, Aleixo emigrou para França, tendo regressado mais tarde a Portugal. «Quando Começo a Cantar», «Intencionais», «Auto da Vida e da Morte», «Auto do Curandeiro» e «Auto do Ti Jaquim» são títulos de algumas das suas obras.
50 anos de Urbano
Há cinquenta anos que Urbano Tavares Rodrigues escreve. A sua obra será celebrada no Café-Concerto, na noite de sexta-feira, numa evocação que conta com a participação do autor.
A
obra de Urbano Tavares Rodrigues caracteriza-se por «uma literatura de
combate e de experiência pessoal», como refere João de Melo.
«Chama a si a crónica miúda e persistente deste último
século português, ela mesma o trânsito de um país
que viajou das trevas profundas para a luz da liberdade e das dos universos
das injustiças sociais, da opressão, da cadeia e de todos os abusos
para a celebração do país do povo, da terra, da revolução
e da fraternidade», prossegue o escritor no seu texto «O Imaginário
Alentejano de Urbano Tavares Rodrigues», datado de 1996.
O Alentejo está intimamente ligado à obra do autor, bem como os centros urbanos, especialmente Lisboa, em obras como «Bastardos do Sol», «A Porta dos Limites», «Aves da Madrugada», «Insubmissos», «Contos da Solidão» ou «A Hora da Incerteza».
«Compreendi que o meu destino estava verdadeiramente ligado ao mundo
do Alentejo, dos trabalhadores rurais, dos pequenos camponeses e por esses,
por um Alentejo diferente eu havia de lutar, de escrever, havia de viver»,
afirmou Urbano Tavares Rodrigues.
«Avante!» Nº 1499 - 22.Agosto.2002