À margem das «Bases
para um novo conceito de Defesa» (1)
RELIGIÕES Jorge Messias
Um pouco de conversa, antes do tema principal.
O CDS de Paulo Portas tem, portas adentro do PS, um escritório privado
conhecido como Movimento Humanismo e Democracia . Tão grande é
o poder atribuído a este apêndice aberrante que a direcção
do PS lhe reconheceu direito de veto nas situações de possível
acordo socialista com outras forças de incidência parlamentar (Expresso,
30.07.01, assinado LM)! Aliás, esta cláusula tem vindo a ser respeitada
desde 1995. Constituem, agora, a direcção da fracção
democrata-cristã do grupo socialista nomes bem conhecidos entre a direita
dura que liga o Opus Dei à esfera política e financeira: Rui
Pena, ex-militante CDS que António Guterres promoveria a ministro
da Defesa, cargo em que lhe sucederia Paulo Portas, por entendimentos entre
o CDS e o PSD; Maria do Rosário Carneiro, enérgica dirigente
católica ligada à ala fundamentalista da Igreja, ao Movimento
Pró-Vida e ao Patriarcado; e Luís Barbosa, ex-ministro
dos governos da AD, presidente do Instituto Humanismo e Democracia, amigo de
longa data dos patrões da CUF e da LISNAVE. No universo dos grandes negócios,
conhecem-se algumas das uniões de interesses que ligam Rui Pena
ao grupo de defesa americano Lockeed Martin que fabrica e vende os F16, os F22
e o avião militar C130. Uma outra holding da multinacional, a Lockeed
Martin Global Telecomunications, é perita na certificação
das tecnologias de telecomunicações. Ambos estes ramais da LM
se entrelaçam no universo dos negócios de Rui Pena. O democrata
cristão-socialista «independente» dirige o consórcio
PTDP - Plataforma de Televisão Digital Portuguesa, ao qual foi adjudicada,
em concurso recente, a instalação e exploração da
rede digital portuguesa. RP é, por outro lado, vice-presidente
da SIVA - Sociedade de Importação de Veículos Automóveis,
um elo da cadeia de ligação à Lockeed. O grupo SIVA inclui-se,
com meia dúzia de outras empresas especializadas, na SAG - Soluções
Automóvel Globais, SGPS, um império financeiro presidido pela
figura enigmática de João Pereira Coutinho, licenciado em Gestão
de Empresas pela Universidade Pontíficia do Rio de Janeiro (Visão,
9.5.2002). Maria do Rosário Carneiro, segunda figura do grupo
Humanismo e Democracia, é mulher de Roberto Carneiro, o ex-ministro da
Educação e presidente da TVI que, como vimos numa outra série
publicada nestas colunas, foi o grande negociador dos obscuros aumentos de capital
do canal católico e o homem que conseguiu os milhões necessários
à «compra» da estação da igreja. Luís
Barbosa, economista, gestor e consultor de empresas, ex-deputado e antigo
ministro em diversos governos do Bloco Central, completa esta tríade
absurda de «socialistas» do acaso. O nosso apontamento omite, evidentemente,
muitos factos que seria inviável relatar aqui. Mas não é
possível resistir-se a contar uma história de sucesso, exemplo
flagrante da natureza do poder que nos governa e dos seus becos escuros. São
pedacinhos do habitual conto de fadas que envolve as rábulas do capital.
E que habitualmente pontuam os caminhos prescritos pelo padre Escrivá.
João Manuel de Quevedo Pereira Coutinho está com 46 anos de idade
e é um homem fabulosamente rico. Tanto dinheiro tem que comprou no Brasil,
em Angra dos Reis, uma ilha só para si - a Ilha do Capítulo. Possui,
além disso, a segunda maior rede de rent-a-car brasileira, a Unidas.
Na Argentina, é proprietário de uma fazenda de 150 hectares. Nos
EUA financia projectos imobiliários em Miami e Los Angeles. É
dono de uma companhia de aviação, a Vinair, e desloca-se em aparelhos
ultra-rápidos da sua flotilha pessoal: helicópteros e um Falcão
900B. Dispõe de um luxuoso iate. Conduz um Lamborghini que é o
carro mais rápido do mundo. Esta esmagadora fortuna foi reunida, segundo
a legenda oficial, em apenas cerca de 20 anos. Após o 25 de Abril, a
família de JPC exilou-se no Brasil onde, a partir da formatura do jovem
na Pontífice, tudo correu favoravelmente ao dinâmico gestor. Regressou
a Portugal em 1981 e logo obteve lucros fabulosos na bolsa de mercadorias e
na importação de carros de luxo. Presentemente, o seu grupo de
empresas auto factura 844 milhões de euros/ano e vende 48 mil carros,
dos VW aos Lamborghini. Rui Pena é o seu braço direito. Como amigos
conta com os Champalimaud e com os Espírito Santo. Tem uma vida verdadeiramente
abençoada.
«Avante!» Nº 1507 - 17.Outubro.2002