Jornadas Parlamentares do PCP

Subordinar a saúde à lógica do lucro

Os de­pu­tados co­mu­nistas ti­veram en­sejo no de­curso das suas Jor­nadas de con­tactar de perto com al­guns dos pro­blemas que en­frentam as uni­dades de saúde e os seus pro­fis­si­o­nais em re­sul­tado da po­lí­tica go­ver­na­mental. Este foi um tomar o pulso à re­a­li­dade pro­por­ci­o­nado, so­bre­tudo, pelas vi­sitas e reu­niões re­a­li­zadas à uni­dade de saúde de Serpa Pinto e ao Hos­pital de Santo An­tónio.

E o que cons­taram foi, por exemplo, que o Go­verno «des­preza as po­ten­ci­a­li­dades exis­tentes na gestão pú­blica dos cen­tros de saúde», en­quanto nos cui­dados pri­má­rios de saúde dá mos­tras de não querer, de facto, «en­con­trar as so­lu­ções para as in­su­fi­ci­ên­cias exis­tentes, mas sim apenas criar as con­di­ções para pri­va­tizar o que tiver po­ten­cial lu­cra­tivo».

No que se re­fere aos hos­pi­tais, por outro lado, como é dito nas con­clu­sões das Jor­nadas, existe «uma enorme in­cer­teza em re­lação ao fu­turo», anun­ci­adas que estão «se­veras res­tri­ções» no Or­ça­mento de Es­tado, tudo apon­tando para «uma cres­cente des­res­pon­sa­bi­li­zação do Es­tado e para o aban­dono das uni­dades à sua pró­pria sorte».

«Trata-se de em­purrar os hos­pi­tais para a pro­cura de re­ceitas pró­prias, seja pelo au­mento das taxas mo­de­ra­doras, seja pela co­brança acres­cida nos ser­viços, ins­ta­lando-se uma ló­gica de gestão eco­no­mi­cista que pre­ju­di­cará os utentes e a qua­li­dade dos ser­viços pres­tados», de­nun­ci­aram os de­pu­tados co­mu­nistas.

Sig­ni­fi­ca­tiva, do ponto de vista do PCP, é ainda a in­tenção do Go­verno de en­tregar du­rante dé­cadas aos grupos pri­vados os novos hos­pi­tais a cons­truir, «sem se­quer cum­prir re­gras bá­sicas de sal­va­guarda do in­te­resse pú­blico que o pró­prio Tri­bunal de Contas já apontou».

E não menos grave, acusam, é que o Exe­cu­tivo PSD-CDS/​PP queira es­conder, como a ex­pe­ri­ência de­monstra, que «esta so­lução será mais cara para o Es­tado e su­bor­di­nará o di­reito à saúde das po­pu­la­ções abran­gidas à ló­gica do lucro pri­vado, como tem de­mons­trado a ex­pe­ri­ência do Hos­pital Ama­dora/​Sintra».

Daí que as Jor­nadas te­nham re­a­fir­mado a ne­ces­si­dade de uma outra po­lí­tica, tendo, nesse sen­tido, avan­çado com al­gumas pro­postas con­cretas a ma­te­ri­a­lizar nos pró­ximos dias em ini­ci­a­tivas le­gis­la­tivas vi­sando a re­so­lução de al­guns dos prin­ci­pais pro­blemas da saúde em Por­tugal.

Está neste caso o pro­jecto de re­so­lução re­cla­mando me­didas para a for­mação e co­lo­cação de pro­fis­si­o­nais de saúde. A jus­ti­ficá-lo, se­gundo o PCP, está a cres­cente ca­rência de re­cursos hu­manos no Ser­viço Na­ci­onal de Saúde, mo­ti­vada, em larga me­dida, pelo que con­si­deram a «de­sas­trosa po­lí­tica de nu­merus clausus», bem como pelo con­ge­la­mento de vagas nos ser­viços pú­blicos de saúde.

Os co­mu­nistas exigem, por isso, que o Go­verno con­cre­tize ur­gen­te­mente um «plano de acção plu­ri­a­nual que res­ponda às ne­ces­si­dades do país, de­sig­na­da­mente au­men­tando as vagas para for­mação su­pe­rior no en­sino pú­blico».

Des­taque me­rece também o pro­jecto de lei na área dos me­di­ca­mentos, a apre­sentar em breve, o qual in­troduz me­didas para uma pres­crição mais ra­ci­onal, de­sig­na­da­mente através da ge­ne­ra­li­zação da pres­crição do prin­cípio ac­tivo, «ga­ran­tindo uma in­for­mação ci­en­tí­fica aos mé­dicos in­de­pen­dente da in­dús­tria far­ma­cêu­tica e re­to­mando a pro­posta da dis­pensa gra­tuita dos me­di­ca­mentos, no­me­a­da­mente nas con­sultas e ur­gên­cias hos­pi­ta­lares, em que a com­par­ti­ci­pação pelo Es­tado nas far­má­cias pri­vadas custe mais do que a pró­pria dis­pensa aos utentes».

Re­alce ainda para o pro­jecto de lei que visa ga­rantir a se­pa­ração entre os sec­tores pú­blico e pri­vado na saúde, «ga­ran­tindo o apro­vei­ta­mento das po­ten­ci­a­li­dades exis­tentes nas uni­dades de saúde, im­pe­dindo o re­curso a en­ti­dades pri­vadas quando exista ca­pa­ci­dade no sector pú­blico e cri­ando re­gras que per­mitam im­pedir si­tu­a­ções de pro­mis­cui­dade que causam gastos acres­cidos e listas de es­pera».


Ava­liar gestão
no Ama­dora/​Sintra


Im­por­tante de­cisão to­mada nas Jor­nadas Par­la­men­tares foi também a de o PCP avançar com a pro­posta de uma Co­missão de Inqué­rito Par­la­mentar sobre a «con­cessão da gestão do Hos­pital Ama­dora/​Sintra a uma en­ti­dade pri­vada, à uti­li­zação dos di­nheiros pú­blicos nesta uni­dade e ao efec­tivo acom­pa­nha­mento da exe­cução do con­trato».

Para esta po­sição da ban­cada co­mu­nista con­correu a ati­tude que o Go­verno con­tinua a manter face à única ex­pe­ri­ência de gestão pri­vada exis­tente no País – o Hos­pital Ama­dora/​Sintra - , re­cu­sando-se a pro­ceder à sua «ver­da­deira ava­li­ação», no que é in­ter­pre­tado pelos de­pu­tados co­mu­nistas como uma ten­ta­tiva de es­conder os evi­dentes pre­juízos que re­sultam dessa gestão para o Es­tado e para as po­pu­la­ções.



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