Peso de ouro

Leandro Martins

A gente ainda perdoa - pelo menos al­guma e muito boa gente - o que se paga por aí nos fu­te­bóis a es­trelas as­cen­dentes e ca­dentes que, pelo menos, têm, cada se­mana, mi­lhares a aplaudir-lhes a arte ou a as­so­biar-lhe os frangos e as ca­ne­ladas. São cha­madas pro­fis­sões de alto risco ou de rá­pido des­gaste, meia dúzia de anos e pronto, ficam ar­ru­mados atrás de bal­cões a vender café e ba­gaço se não ti­verem o juízo de poupar para mon­tarem ne­gó­cios mais ren­tá­veis no imo­bi­liário ou de se fa­zerem de novo pagar na arte do es­pec­tá­culo des­por­tivo. Mas o que os tra­ba­lha­dores não per­doam - cheios de razão - são os altos voos dos tec­no­cratas que são pagos a peso de ouro para, afinal, lhes des­mem­brarem em­presas, as ali­e­narem e ven­derem, pagos, afinal, para pro­duzir de­sem­prego e rou­barem so­nhos, para des­truírem ca­pa­ci­dades e vidas, para am­pu­tarem car­reiras, para ar­ra­sarem tudo e saírem de­pois com lautas in­dem­ni­za­ções, pre­pa­rados para usarem os seus sa­beres nou­tros lo­cais onde os go­vernos e os ca­pi­ta­listas pre­cisam deles para, de novo, pro­du­zirem des­truição.

Os «ar­tistas» bra­si­leiros que a «su­pe­res­trela» Fer­nando Pinto, ad­mi­nis­trador da TAP, trouxe con­sigo para con­duzir o des­mem­bra­mento da trans­por­ta­dora aérea na­ci­onal, tem nos seus con­tratos, se­gundo o que está a ser di­vul­gado na im­prensa, nada menos que uma cláu­sula que lhes deu, à par­tida, vinte anos (!) de an­ti­gui­dade. Esta equipa ga­nha­dora - Ma­nuel Torres, Luiz Gama Mór e Mi­chael Co­nolly - sugam men­sal­mente a uma em­presa que se diz em di­fi­cul­dades um cho­rudo pa­cote de 20 mil euros, isto é, para que se en­tenda me­lhor, quatro mil contos. Tal é a soma de cada sa­lário, das des­pesas com se­guros, car­rões, car­tões de cré­dito e casa posta. Para além, se­gundo se diz ainda, do que o Es­tado lhes paga à parte, «mon­tante ainda não re­ve­lado», para os com­pensar do que ti­nham con­tra­tado com a Swis­sair.

Que tem feito este «team» no rel­vado dos ares, que é onde actua a TAP?

Uma ver­gonha. Se­gundo a CT, que tem de­fen­dido, ao longo dos anos de duras lutas, os in­te­resses da em­presa e dos mi­lhares de tra­ba­lha­dores, os re­sul­tados estão à vista. Pre­param-se para es­ca­vacar a com­pa­nhia aérea ofe­re­cendo os bo­cados aos pri­vados, que se pre­param para avi­da­mente os re­co­lher como se lhes fossem lan­çados do céu. En­quanto o ca­pital se lança sobre o maná, são 2500 os tra­ba­lha­dores em risco de des­pe­di­mento.

Nem os tra­ba­lha­dores - que se pre­param, hoje mesmo, para marcar o seu pro­testo numa con­cen­tração no ae­ro­porto de Lisboa - nem nin­guém com ver­gonha pode aplaudir esta equipa de es­trelas.



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