Washington recorre a todos os expedientes para conseguir o apoio do Conselho de Segurança a um ataque ao Iraque

EUA acusados de espionagem

Os membros do Conselho de Segurança indecisos quanto a um ataque ao Iraque têm estado a ser espiados, revelou domingo o jornal britânico The Observer.

Os serviços de espionagem norte-americanos montaram escutas telefónicas e interceptaram o correio electrónico nas residências e escritórios dos representantes dos países membros do Conselho de Segurança que ainda não definiram a sua posição na crise iraquiana, revela o jornal.

A denúncia do que classifica como «os truques sujos» de Washington é feita com base numa exposição de Frank Koza, em que este alto responsável pela Agência de Segurança Nacional dos EUA dá indicações expressas ao pessoal da organização para que vigie os membros do Conselho de Segurança «com excepção dos EUA e Grã-Bretanha, naturalmente».

De acordo com o semanário, o documento, datado de 31 de Janeiro, foi entregue também a serviços secretos de outros países próximos dos EUA e especifica que o objectivo é conhecer as «posições de negociação, alianças e dependências» dos países alvo da espionagem, de forma a poder prever-se qual a posição que virão a tomar na votação da resolução apresentada na segunda-feira da semana passada visando recolher apoio para um ataque ao Iraque.

O memorando de Koza aponta como alvos Angola, Bulgária, Camarões, Chile, Guiné e Paquistão, todos membros não permanentes do Conselho de Segurança, cujos votos, juntamente com os da Espanha, Grã-Bretanha e dos próprios EUA perfazem o total de nove considerados necessários para «legitimar» o ataque ao Iraque. Segundo o peculiar conceito de democracia norte-americano, nove votos é quanto basta para contrabalançar o impacto de um eventual veto de qualquer um dos membros permanentes do Conselho de Segurança.


Voto sob pressão


O semanário britânico revela ainda que o documento foi enviado aos espiões antes da Bulgária ter manifestado o seu apoio à posição norte-americana, e pede «especial atenção» aos movimentos do Paquistão, um parceiro dos Estados Unidos na «guerra contra o terrorismo».

Até ao encerramento da nossa edição desconheciam-se quaisquer reacções dos países alvos de espionagem sobre este assunto. Como o Avante! noticiou a semana passada, todos eles se encontram, de uma forma ou de outra, dependentes dos EUA, o que põe em causa a alegada liberdade e democraticidade da votação que vai ter lugar nas Nações Unidas.

Entretanto, outro jornal britânico, o popular Sun, noticiou esta segunda-feira que o ataque a Bagdad terá início a 13 de Março. Fontes dos serviços secretos norte-americanos terão afirmado ao jornal que a acção militar será «em breve, rápida e curta» e «terá lugar logo após recebermos os nove votos (no Conselho de Segurança da ONU) necessários».

Ainda segundo aquele jornal, a Rússia e a China deverão ceder às pressões norte-americanas e acabar por apoiar a segunda resolução sobre o Iraque, pelo que a primeira «vítima» desta controvérsia será o presidente francês, Jacques Chirac, que continua a advogar o desarmamento pacífico do regime iraquiano.


Eixo Paris-Berlim-Moscovo
reafirma «unidade de posições»


Desmentindo as informações do Sun, os ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia, França e Alemanha reafirmaram no domingo que é necessário prosseguir a missão dos inspectores da ONU no Iraque.
Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, a «unidade de posições» dos três países foi expressa em contacto telefónico do chefe da diplomacia russa, Igor Ivanov, com os seus homólogos francês e alemão.

Todas as partes são a favor da «continuação das inspecções de acordo com as resoluções 1284 e 1441 do Conselho de Segurança da ONU», refere um comunicado do Ministério, acrescentando que Ivanov falou também por telefone com os chefes da diplomacia de Angola, Chile, Guiné, México, Paquistão e Síria. Nestes contactos, adianta o documento, o ministro «chamou a atenção dos seus interlocutores para o memorando franco-alemão de 24 de Fevereiro» subscrito pela Rússia, em que os três países se opõem à utilização da força contra o Iraque.
Igor Ivanov reiterou aos representantes dos seis países «a invariável posição da Rússia a favor de uma solução da crise iraquiana por meios exclusivamente pacíficos, políticos e diplomáticos».


Marchas pela paz


Centenas de milhares de pessoas manifestaram-se domingo nalgumas das principais cidades do Norte de África, Golfo Pérsico e Japão contra uma eventual «agressão imperialista» ao Iraque.

Em Casablanca, Marrocos, cerca de 200 mil pessoas saíram à rua manifestando a s ua solidariedade para com o povo iraquiano. A marcha, tanto mais significativa quanto se sabe que Marrocos é um dos principais aliados dos EUA no Norte de África, contou com a participação de dirigentes políticos de todos os quadrantes.

Em Karachi, Paquistão, outro declarado apoiante da Casa Branca, cerca de 70 mil pessoas marcharam gritando palavras de ordem como «Deus é grande» e «o mundo diz não à guerra», na maior manifestação anti-americana efectuada no país nos últimos anos.

Apesar de ter sido convocada pelo coligação de direita Muttahida Majlis-e-Amal (MMA) e pelo partido Tehreek-i-Insaf, que exortou os paquistaneses a boicotarem marcas norte-americanas como a Coca-Cola, a Pepsi e o McDonald's, e do forte aparato policial, não se registaram incidentes.

Na Índia, os protestos juntaram mais de 10 mil pessoas em Hyderabad, entre as quais importantes políticos, escritores e activistas locais, em solidariedade com o povo iraquiano.

Na capital do Iêmen, Sanaa, cerca de 200 mil pessoas marcharam pela paz.
No Japão, na cidade mártir de Hiroshima - parcialmente destruída pelos EUA com uma bomba atómica que matou 160 mil pessoas durante a Segunda Guerra Mundial - mais de 6000 pessoas manifestaram-se contra a guerra, ostentando cartazes coloridos em que se lia «nós amamos a paz». Segundo uma sondagem divulgada na segunda-feira pelo jornal Mainichi Shimbun, 84 por cento dos japoneses são contra um ataque ao Iraque.



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