Em nome da paz

Faixa de Gaza a ferro e fogo

Pelo menos 10 mortos e 40 fe­ridos é o ba­lanço do bár­baro ataque de Is­rael a um campo de re­fu­gi­ados pa­les­ti­ni­anos, se­gunda-feira, na Faixa de Gaza.

O campo de re­fu­gi­ados pa­les­ti­ni­anos de Al-Bu­reij, na Faixa de Gaza, es­teve a ferro e fogo no início da se­mana. O exér­cito is­ra­e­lita, com o apoio de he­li­cóp­teros Apache e mais de duas de­zenas de tan­ques e bull­do­zers, in­vadiu o campo dis­pa­rando in­dis­cri­mi­na­da­mente contra os re­si­dentes e des­truiu vá­rias casas.

Entre as ví­timas mor­tais conta-se uma grá­vida e uma cri­ança de 13 anos. De acordo com fontes mé­dicas pa­les­ti­ni­anas ci­tadas por di­versas agên­cias, é de temer que o nú­mero de mortos venha a au­mentar, dado al­guns dos fe­ridos se en­con­trarem em es­tado muito grave.

A in­cursão is­ra­e­lita, a se­gunda a Gaza no curto es­paço de 48 horas, visou ale­ga­da­mente mem­bros dos grupos Hamas e da Jihad Is­lâ­mica. Na ope­ração, de que Te­la­vive não di­vulgou de­ta­lhes, dois sol­dados fi­caram fe­ridos sem gra­vi­dade.

Na ma­dru­gada de do­mingo o alvo foi o campo de re­fu­gi­ados de Jan Yunis, a sul da Faixa de Gaza, onde o exér­cito de­moliu vá­rios pré­dios su­pos­ta­mente usados por ac­ti­vistas pa­les­ti­ni­anos para ata­ques contra co­lo­natos e tropas is­ra­e­litas. Deste ataque re­sul­taram dois pa­les­ti­ni­anos mortos e 35 fe­ridos. Se­gundo a Lusa, uma de­zena de tan­ques apoi­ados por he­li­cóp­teros en­trou no campo a dis­parar, tendo mesmo um dos carros de com­bate en­trado na zona do Hos­pital Nasser, des­truindo-lhe a fa­chada.

 

Novo go­verno em Is­rael

 

A es­ca­lada de terror re­gistou-se três dias de­pois de terem to­mado posse os mem­bros do se­gundo go­verno de Ariel Sharon, numa sessão so­lene que se pro­longou até à meia noite da pas­sada quinta-feira e em que pro­me­teram tra­ba­lhar pela paz no Médio Ori­ente.

No go­verno de co­li­gação, 14 dos 24 mem­bros do exe­cu­tivo opõem-se à cri­ação de um es­tado pa­les­ti­niano e dois ou­tros re­jeitam qual­quer po­lí­tica de des­man­te­la­mento dos co­lo­natos ju­deus na Cis­jor­dânia e na Faixa de Gaza. O exe­cu­tivo é apoiado por 68 dos 120 de­pu­tados no Knesset (Par­la­mento), in­cluindo a sua frente di­rei­tista do Likud, os ultra-na­ci­o­na­listas da União Na­ci­onal e do Par­tido Re­li­gioso Na­ci­onal e a frente an­ti­cle­rical Shinui (Mu­dança, em he­braico).

A pos­si­bi­li­dade de cri­ação de um es­tado pa­les­ti­niano não consta do pro­grama do go­verno, tendo Sharon re­me­tido a questão para uma de­cisão do exe­cu­tivo, que o mesmo é dizer para o es­que­ci­mento. Os di­ri­gentes dos dois par­tidos de ex­trema-di­reita da co­li­gação têm afir­mado in­sis­ten­te­mente que farão «tudo o que for pos­sível para o im­pedir».

 

O fu­turo se­gundo Sharon

 

Na apre­sen­tação do go­verno, Sharon afirmou que qual­quer acordo com os pa­les­ti­ni­anos de­verá ga­rantir, entre ou­tros as­pectos, que os re­fu­gi­ados pa­les­ti­ni­anos não re­tor­narão a Is­rael e que Je­ru­salém será a ca­pital in­di­vi­sível do Es­tado is­ra­e­lita.

«Qual­quer acordo de paz no fu­turo de­verá ga­rantir os in­te­resses his­tó­ricos, de se­gu­rança e es­tra­té­gicos de Is­rael, sendo pri­o­ri­tá­rios o não re­gresso dos re­fu­gi­ados pa­les­ti­ni­anos ao ter­ri­tório de Is­rael, a exis­tência das zonas de se­gu­rança e a in­di­vi­si­bi­li­dade da ca­pital de Is­rael, Je­ru­salém», afirmou.

«Je­ru­salém, a ca­pital reu­ni­fi­cada e in­di­vi­sível de Is­rael, será das nossas má­ximas pri­o­ri­dades e ac­tu­a­remos para am­pliá-la e de­sen­volvê-la e para re­forçar os vín­culos a ela de qual­quer judeu em Is­rael ou na Diás­pora», su­bli­nhou Sharon.

Se­gundo a Lusa, Ariel Sharon afirmou ainda que o seu go­verno se propõe abrir ca­minho a um pro­cesso de paz «por fases e a longo prazo», me­di­ante vá­rias con­di­ções.

«Antes de vol­tarmos à mesa das ne­go­ci­a­ções, disse, é ne­ces­sário que acabe o ter­ro­rismo e a in­ci­tação ao terror, que se façam pro­fundas re­formas na ANP (Au­to­ri­dade Na­ci­onal Pa­les­ti­niana) e uma mu­dança na ac­tual li­de­rança pa­les­ti­niana».

De acordo com o pri­meiro-mi­nistro is­ra­e­lita, o pro­cesso de paz «será ba­seado na de­ter­mi­nação de não fazer con­ces­sões na se­gu­rança de Is­rael ou dos seus ci­da­dãos e na re­ci­pro­ci­dade no cum­pri­mento dos com­pro­missos po­lí­ticos».

 

Falta de se­ri­e­dade

 

Nabil Abu Rou­deina, con­se­lheiro de Yasser Arafat, re­agiu às de­cla­ra­ções de Sharon acu­sando-o de fugir ao cum­pri­mento dos com­pro­missos as­su­midos sobre o Es­tado pa­les­ti­niano.

«Sharon não é sério sobre a questão do Es­tado pa­les­ti­niano», afirmou Abu Rou­deina, para quem as de­cla­ra­ções do pri­meiro-mi­nistro is­ra­e­lita «são uma nova ten­ta­tiva de des­truir os es­forços in­ter­na­ci­o­nais» para uma so­lução do con­flito is­raelo-pa­les­ti­niano.

Du­rante o an­te­rior go­verno, Sharon deu o seu acordo de prin­cípio a um plano do cha­mado Quar­teto (Es­tados Unidos, Rússia, Na­ções Unidas e União Eu­ro­peia) para a cri­ação por etapas e até 2005 de um Es­tado pa­les­ti­niano a par de Is­rael, mas boi­cotou na prá­tica esse plano com a apre­sen­tação de su­ces­sivas exi­gên­cias, a im­ple­men­tação de novos co­lo­natos e a po­lí­tica de terror contra os pa­les­ti­ni­anos.

En­tre­tanto, se­gundo Abou Rou­deina, o pre­si­dente da Au­to­ri­dade Na­ci­onal Pa­les­ti­niana, Yasser Arafat, con­vocou para 8 de Março o Con­selho Cen­tral da OLP, a que se se­guirá «uma reu­nião do Con­selho Le­gis­la­tivo Pa­les­ti­niano (CLP, par­la­mento) para dis­cutir a no­me­ação de um pri­meiro-mi­nistro».

Rou­deina apelou a Is­rael para que não co­loque obs­tá­culos à re­a­li­zação destes en­con­tros que de­verão de­correr em Ra­mallah, Cis­jor­dânia.



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