Um Partido necessário e insubstituível

Jorge Pires (Membro da Comissão Política do PCP)

Faz hoje pre­ci­sa­mente 82 anos que foi fun­dado o PCP, em grande me­dida por uma ne­ces­si­dade his­tó­rica da so­ci­e­dade por­tu­guesa, como res­posta do ope­ra­riado por­tu­guês, numa época em que o mo­vi­mento ope­rário mun­dial avan­çava na li­qui­dação do ca­pi­ta­lismo e se avan­çava nas grandes trans­for­ma­ções re­vo­lu­ci­o­ná­rias.

Pas­sados 82 anos, não po­demos deixar de falar com or­gulho de um Par­tido, cuja his­tória, desde o dia em que na sede da As­so­ci­ação dos Em­pre­gados de es­cri­tório de Lisboa um pu­nhado de co­mu­nistas o fundou, se con­funde e funde em muitos mo­mentos, com a his­tória e a vida do povo por­tu­guês. Hoje, não é apenas um mo­mento de grande sim­bo­lismo e de festa para os mem­bros do Par­tido. Co­me­morar os 82 anos de vida e da luta do PCP é falar nos ca­mi­nhos

de es­pe­rança que se abriram aos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses na luta pela sua eman­ci­pação, é falar às novas ge­ra­ções no papel de­ci­sivo do PCP na luta contra a di­ta­dura fas­cista, que as­solou o País du­rante quase meio sé­culo com a vi­o­lência, o terror e o crime, mas é também falar nas «Portas que Abril Abriu», na luta pela con­so­li­dação das con­quistas re­vo­lu­ci­o­ná­rias, de avanços ci­vi­li­za­ci­o­nais, como a li­ber­dade e a de­mo­cracia e im­por­tantes di­reitos dos tra­ba­lha­dores, é também falar na luta para parar o pro­cesso contra re­vo­lu­ci­o­nário de­pois de 25 de No­vembro de 1975.

Co­me­morar os 82 de vida do PCP, é falar do pre­sente, da luta que o PCP trava, contra as sis­te­má­ticas ofen­sivas que visam fazer re­gredir a de­mo­cracia po­lí­tica a pa­drões que es­magam com­ple­ta­mente os prin­cí­pios e con­cep­ções de­mo­crá­ticas pro­te­gidas pela ordem ju­rí­dica pós-25 de Abril, é falar na luta que tra­vamos contra a des­re­gu­la­men­tação quase sem li­mites do mer­cado de tra­balho, é falar na luta contra a re­dução ou eli­mi­nação de im­por­tantes di­reitos, é falar na re­dução dos sis­temas pú­blicos de saúde, se­gu­rança so­cial e en­sino.

Mas co­me­morar os 82 anos de vida do PCP é so­bre­tudo falar no fu­turo, na im­por­tância in­du­bi­tável que tem para Por­tugal e para os por­tu­gueses a exis­tência de um Par­tido ver­da­dei­ra­mente de es­querda, um Par­tido que tem um pro­jecto po­lí­tico as­sente numa te­oria re­vo­lu­ci­o­nária, o Mar­xismo Le­ni­nismo, que con­sagra o prin­cípio de que só o so­ci­a­lismo li­qui­dará a ex­plo­ração ca­pi­ta­lista, as dis­cri­mi­na­ções, as de­si­gual­dades e as in­jus­tiças. Para nós, co­mu­nistas por­tu­gueses, por mais que os ideó­logos da di­reita in­sistam em que o so­ci­a­lismo deixou de cons­ti­tuir um pro­jecto po­lí­tico com fu­turo para os povos, por mais que falem na «ir­re­ver­sa­bi­li­dade do de­clínio do co­mu­nismo», a vida en­car­rega-se todos os dias de con­firmar que o ca­pi­ta­lismo, como sis­tema que mantém uma na­tu­reza ex­plo­ra­dora e agres­siva, não será o fim da his­tória. Se dú­vidas ainda pu­dessem existir, aí está o ac­tual mo­mento das re­la­ções in­ter­na­ci­o­nais e a na­tu­reza da crise eco­nó­mica que se vive a nível mun­dial, para dis­sipar todas as dú­vidas.


Por um PCP mais forte


Tal como há 82 anos atrás, acre­di­tamos con­vic­ta­mente que, na so­ci­e­dade di­vi­dida em classes, cujo Es­tado como or­ga­ni­zação po­lí­tica da classe do­mi­nante se or­ga­niza para manter o do­mínio dessa classe, o re­sul­tado do con­fronto entre as duas classes an­ta­gó­nicas da so­ci­e­dade, o tra­balho e o ca­pital, um dia será fa­vo­rável aos tra­ba­lha­dores.

Pelos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses, pelo nosso povo, por um Por­tugal in­te­grado num mundo de Na­ções li­vres e in­de­pen­dentes, um mundo de paz e de so­li­da­ri­e­dade, a me­lhor forma de co­me­mo­rarmos os 82 anos do PCP é con­tri­buir para que se re­force a sua pre­sença na so­ci­e­dade por­tu­guesa, é torná-lo mais forte.

Tal como a Co­muna de Paris de 1871, pri­meiro, e mais tarde a Re­vo­lução de Ou­tubro deram ao ope­ra­riado por­tu­guês um novo alento para a fun­dação da sua van­guarda re­vo­lu­ci­o­nária, o Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês, também hoje a ofen­siva pela ins­tau­ração de uma Nova Ordem Mun­dial, as­sente na he­ge­monia eco­nó­mica, po­lí­tica e mi­litar dos EUA, a li­qui­dação de im­por­tantes di­reitos con­quis­tados por ge­ra­ções de tra­ba­lha­dores e a ten­ta­tiva de impor um sis­tema po­lí­tico, in­to­le­ra­vel­mente an­ti­de­mo­crá­tico de im­po­si­ções e in­ge­rên­cias na vida dos par­tidos po­lí­ticos, como se os par­tidos fossem todos iguais nos ob­jec­tivos e nos pro­jectos po­lí­ticos, exige, tal como re­fere a re­so­lução po­lí­tica da úl­tima Con­fe­rência Na­ci­onal, «um PCP mais forte e capaz de me­lhor in­flu­en­ciar e fazer avançar a luta por grandes causas de jus­tiça so­cial, de pro­gresso e de­sen­vol­vi­mento na­ci­o­nais, de va­lo­ri­zação do tra­balho e dos tra­ba­lha­dores, de for­ta­le­ci­mento da de­mo­cracia e da in­ter­venção dos ci­da­dãos, de so­li­da­ri­e­dade e ge­ne­ro­si­dade co­lec­tivas».



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