O desprezo pela saúde pública
A crise provocada pela descoberta de nitrofurano (substância cancerígena) em explorações avícolas acabou, tal como se previa, por dominar o debate parlamentar centrado no sector agrícola. Sobre o ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Armando Sevinate Pinto, recaíram na passada semana duras criticas pela sua actuação em todo o processo, designadamente pelo anúncio tardio do sequestro de explorações e apreensão de frango congelado.
Tratou-se, no fundo, daquilo a que o deputado comunista Lino de Carvalho chamou de «inaceitável déficit em matéria de fiscalização», que levou a que devido ao «momento tardio» em que o responsável da tutela decidiu agir «já há muito tinham sido comidos e diferidos» os frangos em que tinham sido detectados resíduos de nitrofuranos na água e rações.
E a verdade é que passadas quase três semanas sobre a divulgação deste grave problema, persistem as dúvidas e interrogações. Dada como certa é apenas a ideia de que na origem da crise está «o cada vez maior carácter intensivo da produção agrícola», visando, com isso, «possibilitar a maior rentabilidade possível no mais curto espaço de tempo às grandes explorações e empresas agro-alimentares, com total desprezo pela saúde animal e pela saúde pública». Isso mesmo denunciou Lino de Carvalho, não deixando de recordar que foi em consequência dessa prática que surgiu o caso da BSE, a que se seguiu o das toxinas e, agora, o dos nitrofuranos nas aves.
Verberado pelo deputado do PCP, que admitiu a multiplicação de problemas idênticos no futuro, foi o facto de nenhum governo, nem do PSD nem do PS, ter definido políticas que «contrariem este processo, que proíbam e impeçam de facto a utilização dos antibióticos, dos promotores de crescimento, dos bactericidas, que promovam uma política de informação e alerta aos consumidores».