Caixa Geral de Depósitos

Dois dias de luto

Os dois dias de luto dos trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos, contra o bloqueio da contratação colectiva, «ultrapassou as expectativas» do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo, STEC.

Há décadas que a luta não assumia estas proporções

À semelhança do que aconteceu por todo o País junto das dependências da Caixa Geral de Depósitos e nas principais praças e artérias das cidades, o edifício-sede da Caixa, em Lisboa, estava cercado por pendões que chamavam a atenção para a luta de dois dias que decorreu dentro das instalações da empresa, de forma original.
Os trabalhadores apresentaram-se ao serviço nos dias 4 e 5 deste mês, com peças de roupa negras, em sinal de luto «como expressão da sua revolta» pela forma como têm sido tratados pela administração, afirmou ao Avante!, João Lopes, dirigente do STEC, a estrutura mais representativa dos trabalhadores da Caixa.
Segundo este dirigente, «há décadas que a luta não assumia as proporções que teve durante estes dois dias».
Podia ler-se no pendão de anúncio do protesto que, à semelhança do tabaco, «a Administração da CGD prejudica gravemente a saúde social e o progresso da empresa», e a situação não é para menos.
Certo é que os trabalhadores afectos a este sindicato têm sido penalizados de diversas formas pela Administração. João Lopes revelou-nos que os sócios do STEC não têm recebido o subsídio de pequeno almoço e que não lhes é atribuído o crédito à habitação facultado para os restantes funcionários, na tentativa de os pressionar a passarem a sua filiação para os sindicatos da UGT.
O STEC tem ano e meio de existência e conta já com cerca de 3.300 filiados, abarcando apenas o universo de trabalhadores da CGD. Surgiu em consequência do descontentamento criado, «após os sindicatos tradicionais terem aceite alterações aos horários de trabalho e à mobilidade, além de alterações às promoções de carreira, terminando com as promoções por regime de antiguidade».
No passado dia 25 de Julho, os sindicatos dos bancários, à excepção do STEC, aceitaram um Acordo de Empresa com a Administração - publicado a 15 de Agosto -, onde foram contempladas essas e outras alterações que os trabalhadores da CGD consideram lesivas dos seus direitos.
João Lopes faz também notar que no acordo assinado com os sindicatos dos bancários, os tesoureiros saem também prejudicados por deixarem de receber o complemento de falhas e riscos nos subsídios de Natal e de férias.
Em termos de mobilidade, a CGD tem vivido «uma roda viva de transferências, sem regras nem razões, que nos agride e às nossas famílias», segundo o comunicado concebido para a divulgação do protesto.
Também as horas extra são - à semelhança de todo o sector - motivo caro a estes trabalhadores. As horas extraordinárias não são pagas, «trabalha-se diariamente o tempo que a administração bem entende sem que se receba mais nada por isso, numa desregulação total dos horários de trabalho.
Como agravante, as restantes estruturas sindicais, uma vez que o acordo foi firmado em Agosto, não podem negociar até ao próximo Verão e a Administração afirma que só aceita um acordo, «desde que seja igual ao acordado com os outros sindicatos, o que para nós é inaceitável», afirmou João Lopes.
Numa nota divulgada à comunicação social, o STEC divulga um comunicado saído da Administração no primeiro dia de greve, onde esta «faz tábua raza do espírito de negociação colectiva, tratando como igual o que é desigual».
«O STEC tem as suas próprias propostas e os trabalhadores nele filiados não se revêm no acordo firmado, à sucapa, entre esta administração da CGD e outros sindicatos do sector, menos exigentes e mais colaborantes», refere a mesma nota.
João Lopes salientou que, aquando da formação do STEC, este sindicato foi «vítima de uma campanha de desinformação onde falsamente se dizia que o novo sindicato era uma tentativa de entrada de outros grupos bancários estrangeiros ou nacionais na CGD», justificando assim a assinatura do contestado Acordo de Empresa.
Para João Lopes, com esta justificação, os sindicatos tradicionais «deram um tiro no pé que tem levado milhares de trabalhadores a abandonar aquelas estruturas sindicais e a aderirem ao STEC».
O STEC apela, por isso, à Administração da CGD para que interiorize que a maioria dos bancários sindicalizados do Grupo CGD está filiada neste sindicato que tem por isso a responsabilidade «de zelar pelos interesses desses trabalhadores».
«O STEC foi formado com o objectivo de combater o individualismo e fomentar a solidariedade entre os trabalhadores, contra a indignidade de um assédio psicológico que incute que a nossa vida é só a empresa», concluiu João Lopes.

Provocação e prepotência

No primeiro dia de protesto, a Administração quis impedir a comunicação social de registar a adesão à luta no edifício-sede. Primeiro, impediu a TV de filmar, uma vez que lá dentro era naturalmente constatável a enorme adesão que se reflectia no negro que envergava a esmagadora maioria de empregados de serviço.
Ao repararem que a proibição não ia dar os resultados pretendidos, os responsáveis da Caixa resolveram então autorizar filmagens mas apenas num dos balcões de atendimento, onde foi colocado um trabalhador eventual envergando um gravata vermelha, segundo João Lopes, «em acto de pura provocação aos trabalhadores», em mais uma tentativa de encobrir a forte participação dos trabalhadores da CGD no protesto.


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