Gestão danosa ameaça trabalho

Defender a Socopal

A Socopal é uma cadeia de padarias e pastelarias distribuídas pelo Concelho de Almada, onde a má gestão está a gerar apreensão nos trabalhadores, que vêem em risco os postos de trabalho.

«Se não fosse a luta não tínhamos recebido nada»

Teve mais de duzentos trabalhadores entre padeiros, pasteleiros e vendedores mas, desde que a actual administração tomou posse, há três anos, o desinteresse e a acumulação de negligências, por total desconhecimento técnico e capacidade de gestão, tem levado à venda de várias unidades. A fábrica que detinham nas Casas Velhas, Caparica, foi vendida em Maio de 2002, quando ali trabalhavam cerca de oitenta trabalhadores. O dinheiro da venda foi gasto e a administração continua a vender património.
Esta e outras denúncias ilustrativas de uma administração negligente foram contadas ao Avante! por quatro delegados e dois dirigentes sindicais, um do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Alimentação do Sul e um da Hotelaria.

Da luta à vitória

Segundo Francisco Cavaco, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Alimentação do Sul e Tabacos, os problemas agravaram-se no fim do ano passado. Em Dezembro, não receberam os salários em atraso nem os subsídios de Natal e de férias. Chegaram mesmo a receber cheques sem provisão. Tinham ainda feriados e trabalho extraordinário por receber, de acordo com uma carta aprovada em plenário, a dia 12 de Dezembro e enviada à assembleia de sócios da empresa. A situação foi denunciada à Comissão Concelhia do PCP que, em conjunto com as estruturas sindicais, levou o caso à comunicação social, quando os trabalhadores decidiram, em plenário, uma greve de 24 horas. Após a denúncia pública, o administrador – por sinal, ex-administrador da Portucel, de nome Silveira - pôs todas as contas em dia no próprio dia da greve. Os trabalhadores ganharam assim consciência da importância de se unirem e de lutarem pelos seus direitos, disse o delegado sindical, Vítor Matos, do STIAST/CGTP-IN.

Solidariedade activa

No dia da greve de 15 de Dezembro, a Assembleia Municipal de Almada pela mão da CDU, fez aprovar uma moção de solidariedade com os trabalhadores, exortando os accionistas a tomar medidas para salvaguardar os postos de trabalho e a viabilizar a empresa. Também o Grupo Parlamentar comunista tem estado atento ao desenrolar do processo.
A partir da primeira luta, passaram a ser eleitos delegados sindicais em todas as unidades da Socopal, onde os salários continuam a não ser pagos a tempo e horas.
Na tentativa de dividir os trabalhadores, as retribuições não têm sido pagas a todos, ao mesmo tempo. Segundo o delegado sindical, Edgar Vaz, do STIASI, os trabalhadores com vínculo precário recebem mais cedo, enquanto os pagamentos aos efectivos vão sendo adiados por mais tempo porque, «como são antigos, têm que se aguentar», acrescentou.

Destruir património e direitos

A empresa dá lucro mas nem assim os patrões pretendem garantir a continuidade. Embora a administração tenha manifestado interesse em vender, de uma vez, todo o património a um grupo rival do sector, a verdade é que tem sido vendidas padarias e pastelarias, por unidade, a diferentes gestores. Os trabalhadores são depois transferidos para as restantes unidades, sobrecarregando o quadro existente e aumentando o receio do despedimento.
Luís Pinto, dirigente do Sindicatos dos Trabalhadores na Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Sul, revelou um plano de recuperação proposto pelos trabalhadores mas, até ao momento, a empresa tem ignorado a proposta. Edgar Vaz acrescentou que a administração não envia, desde Março do ano passado, os descontos à Segurança Social, para onde têm sido enviados os lucros da Socopal, a fim de pagar dívidas em atraso.
Paula Marta, delegada sindical do STHTRSS/CGTP-IN, denunciou, além de outras situações irregulares, que devido a esta situação, uma trabalhadora que esteve de baixa médica no mês de Fevereiro, ainda não a recebeu.
Para o delegado do STIASI, Adriano Mendes, está claro que tudo isto é consequência da má gestão e da intenção de acabar com a empresa.
Os sindicatos denunciaram a situação à IGT há mais de um ano mas esta ainda não efectuou qualquer vistoria.

Demagogia

Nas reuniões com as ORT’s, muita tem sido a demagogia por parte do administrador Silveira. Segundo Francisco Cavaco, o gestor disse pretender vender todo o património de uma vez a um comprador, que apenas adquiriria a empresa, caso fosse vendida na totalidade. Para as ORT’s, trata-se de uma manobra demagógica, uma vez que não tem lógica que o comprador se recuse a assumir a gestão apenas por causa de oito por cento de património que alguns sócios pretendem manter.
Entretanto, prossegue a venda de unidades «a retalho». Já no princípio deste mês, há a intenção de se vender mais duas ou três, a compradores diferentes, atitude que contraria a argumentação da administração.

Desleixo e prepotência

Segundo Vítor Matos, a desorganização na empresa é notória. As chefias deixaram de aparecer nos turnos nocturnos, não havendo, actualmente, qualquer tipo de fiscalização à qualidade e segurança no trabalho.
Além disso, os sindicalistas ouviram várias vezes o gestor afirmar não precisar da Socopal para nada, uma vez que aufere da Portucel – cuja privatização foi recentemente anunciada pelo Governo PSD/PP – uma reforma de 1200 contos.
Por outro lado, o Dr. Silveira é acusado de nada saber sobre o ramo, embora não aceite opiniões de ninguém. Luís Pinto contou que, embora a empresa seja especializada no fabrico de bolo-rei, ele não sabia sequer que este bolo leva bebidas na sua concepção.
Edgar Vaz salientou como exemplo, o facto de se terem comprado máquinas de pão obsoletas ao mesmo tempo que se vendeu uma moderna, com capacidade para produzir 12 mil pães por hora. Como agravante, «a manutenção é efectuada de forma deficiente».
As consequências têm-se feito sentir nos resultados líquidos da empresa, que diminuiu para metade do que rendia com a outra gerência. Mas nem por isso a empresa se tem furtado a esbanjamentos. Para um estabelecimento, foram importados de Itália móveis no valor de 50 mil contos. Mais: realizaram-se obras em duas pastelarias que são propriedade do mesmo gestor, enquanto nas da empresa nada foi feito, havendo instalações hipotecadas como a da Rua Capitão Leitão, em Almada. Outras, receberam avisos de corte de electricidade.
Por outro lado, em nenhum estabelecimento estão afixados os horários de trabalho, afixação que é obrigatória por Lei.

Pela dignidade

No dia 24, os trabalhadores, em plenário, decidiram lutar pelos seus direitos e denunciar a situação, assumindo vir a adoptar as formas de luta que lhes parecerem adequadas. Para 4 de Abril está marcada uma assembleia de sócios estando prevista a presença de uma delegação de trabalhadores.
Como disse Edgar Vaz, os trabalhadores exigem apenas seriedade por parte da administração.


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