Invejas
Há coisas superiores às forças de cada um. Não será assim por acaso que, uma vez mais, tenha vindo ao de cima, em entrevista ao Expresso, o que de mais genuíno e vivo permanece na formação ideológica de Francisco Louçã: um indisfarçável anticomunismo corporizado na sua animosidade para com o PCP. Por mais esforços que faça para o racionalizar ou por mais afirmações que produza em sentido contrário a verdade é que, chegado o momento, «salta-lhe a mola» e vai de revelar o que o anima : afrontar o PCP, disputar a sua influência e, se o pudesse, enfraquecê-lo.
A vida tem destas coisas. Horas de laboriosos e meticulosos jogos de palavras para arquitectar uma imagem que se quer vender, traídos, em escassos segundos, pela espontaneidade de uma frase que o revela como é, e tem direito de ser, não como se quer apresentar. Assim foi com a intolerante e assassina frase jogada contra Paulo Portas no debate das Legislativas, assim é reiteradamente quando mais espontaneamente fala sobre o PCP. O facto de Louçã não ter resistido a jogar contra o PCP, na citada entrevista, o que de mais primário e anticomunista é jogado pela direita mais reaccionária, é esclarecedor. Mesmo reconhecendo que Louçã possa afirmar que «o BE não tem festas com um “stand” da Coreia do Norte» com a razão que resulta da arrasadora constatação de que não tendo Festa não pode ter stands, não deixa de ser curioso que Louçã não consiga reunir, para se diferenciar do PCP, mais do que os dois argumentos que todos os que se distinguem pelo seu anticomunismo têm para atirar ao PCP — os «clichés» chinês e coreano construídos na base da caricatura de posições e concepções do PCP e do seu relacionamento internacional.
Compreende-se que assim seja. Como é uso dizer «não é defeito, é feitio». Não é um problema do próprio mas da força política que representa. Uma força que assumindo-se cada vez mais como confirmada expressão de uma certa social-democracia colorida por um discurso radical repleto de frases feitas e muita cópia de discurso alheio, não disfarça a sua origem e o conjunto de tiques esquerdistas herdados de quem o trouxe à luz do dia. E com eles, a irreprimível tentação de procurar competir com quem, embora maldizendo e denegrindo, verdadeiramente invejam pelo seu papel na história deste país, na sua influência junto dos trabalhadores e do seu percurso de coerência: o PCP.
Daí aquela indisfarçável inveja repetidamente manifestada em relação ao PCP enquanto grande força de esquerda. Daí aquele incessante pôr-se em bico de pé para parecer ser o que se não é, mesmo que para isso se tenha de caricaturar ou amesquinhar adversários. Daí aquela inevitável contradição sempre presente na convivência entre a repetida fraseologia radical e as concessões revisionistas.
Perdoe-se-lhe pois tanto anticomunismo. Pela simples razão de que isso não encontra explicação na ingenuidade própria de um jovem de cinquenta anos mas na formação ideológica e opções de classe que consigo transporta.
A vida tem destas coisas. Horas de laboriosos e meticulosos jogos de palavras para arquitectar uma imagem que se quer vender, traídos, em escassos segundos, pela espontaneidade de uma frase que o revela como é, e tem direito de ser, não como se quer apresentar. Assim foi com a intolerante e assassina frase jogada contra Paulo Portas no debate das Legislativas, assim é reiteradamente quando mais espontaneamente fala sobre o PCP. O facto de Louçã não ter resistido a jogar contra o PCP, na citada entrevista, o que de mais primário e anticomunista é jogado pela direita mais reaccionária, é esclarecedor. Mesmo reconhecendo que Louçã possa afirmar que «o BE não tem festas com um “stand” da Coreia do Norte» com a razão que resulta da arrasadora constatação de que não tendo Festa não pode ter stands, não deixa de ser curioso que Louçã não consiga reunir, para se diferenciar do PCP, mais do que os dois argumentos que todos os que se distinguem pelo seu anticomunismo têm para atirar ao PCP — os «clichés» chinês e coreano construídos na base da caricatura de posições e concepções do PCP e do seu relacionamento internacional.
Compreende-se que assim seja. Como é uso dizer «não é defeito, é feitio». Não é um problema do próprio mas da força política que representa. Uma força que assumindo-se cada vez mais como confirmada expressão de uma certa social-democracia colorida por um discurso radical repleto de frases feitas e muita cópia de discurso alheio, não disfarça a sua origem e o conjunto de tiques esquerdistas herdados de quem o trouxe à luz do dia. E com eles, a irreprimível tentação de procurar competir com quem, embora maldizendo e denegrindo, verdadeiramente invejam pelo seu papel na história deste país, na sua influência junto dos trabalhadores e do seu percurso de coerência: o PCP.
Daí aquela indisfarçável inveja repetidamente manifestada em relação ao PCP enquanto grande força de esquerda. Daí aquele incessante pôr-se em bico de pé para parecer ser o que se não é, mesmo que para isso se tenha de caricaturar ou amesquinhar adversários. Daí aquela inevitável contradição sempre presente na convivência entre a repetida fraseologia radical e as concessões revisionistas.
Perdoe-se-lhe pois tanto anticomunismo. Pela simples razão de que isso não encontra explicação na ingenuidade própria de um jovem de cinquenta anos mas na formação ideológica e opções de classe que consigo transporta.