Nó Górdio
Ainda os ecos da viagem do Presidente da República (PR) à Índia não se tinham extinguido e já o Primeiro-Ministro (PM) estava na sua rota para a China. O PR tinha alertado para o atraso de Portugal - quer dizer dos seus capitalistas e empresários na sua descoberta/chegada à Índia - e já escrevi, se é que já lá chegaram ou estarão para chegar. No caso do PM, com as mais altas funções executivas a nível do Estado - diferentemente da magistratura de influência do PR -, o caso é algo diferente. Ora, a China já terá sido descoberta por Portugal pelos capitalistas e empresários do nosso País. Só que essa descoberta até agora redundou na presença de 25 empresas naquele país. O objectivo seria de crescer para 100 - números que não se sabe ao certo que significam (que tipo de empresas, quando, etc), contudo factos que serviram ao marketing de António Vitorino no RTP1 - esta sempre «serviço-publicando» - que nos vai fazendo a cabeça de optimismos prospectivos. Melhor que nada, dirão, e será verdade, pois estamos habituados a que o pouco saiba a muito - e sempre é uma quadruplicação de pouco!
O que no entanto foi deveras grande notícia desta visita à China foi aquela do Ministro da Economia sobre os salários no nosso País, sobre o seu tentar os chineses para investirem no nosso País - nível de salários abaixo da média europeia e fraco risco de pressão para o seu aumento, pelo menos menor do que nos novos países da UE do centro e leste europeus (esta gente agora já gosta de distinguir entre o centro e o leste europeus, o que não acontecia até aos finais dos anos 90 - só para deixar anotado aqui este facto). Pois é. Então caiu o Carmo e a Trindade, não por o ministro ter referido uma grande verdade, que a é - a dos salários baixos no nosso País -, nem por estar convencido - e com ele, o Governo, as tais elites «bloco-centrais», etc, o seja o «Poder» cá do burgo - que os trabalhadores portugueses já estão suficientemente preocupados, e em particular domados, pela campanha «ou salários baixos ou então nada». Mas sim por o ter dito publicamente. À vista de todos.
Uns, sobretudo os do Governo, porque não valia a pena dizer coisas aos chineses que eles já sabem muito bem - e então por que foi que referiram ter ele cometido uma gaffe? Se já todos o sabem? Outros muito exaltados - sobretudo em declarações vindas do CDS e do PSD - porque as afirmações do ministro davam uma imagem de «terceiro mundo», davam mau aspecto - quer dizer, as coisas podem ser como são, o «bloco central» sempre a dar todas as possibilidades ao (in-)famoso modelo dos baixos salários para alegria dos patrões, o que não se pode é dar com a língua nos dentes como fez o ministro. Outros ainda, mais do lado do PCP e dos sindicatos a afirmarem com razão que as declarações de Manuel Pinho contradiziam o objectivo maior deste governo, o «plano tecnológico» - e em relação aos sindicatos o ministro abespinhou-se mesmo com o modo de ser retrógrado dos mesmos, contra a forma como bloqueiam o desenvolvimento. Dois dias mais tarde, com a efervescência já em enfraquecimento, sai a terreiro o PM. Que a Oposição - sempre no singular, topam? - e os sindicatos, como não têm nada para dizer, escolhem temas que são nada. Mas foi acrescentando que Manuel Pinho não se estava a referir aos salários mais baixos mas sim a uma faixa de salários mais elevados, mais próprios - comento eu - de uma economia sujeita a um choque tecnológico, de uma economia a sair do modelo dos baixos salários. E mais, é nesta faixa dos mais qualificados - afinal parece que eles sempre existem, pelo menos para as nossas pequenas ambições «económicas» - que os trabalhadores portugueses são competitivos, que «nós» estamos bem, como o PM disse, quer dizer que os nossos salários são baixos (lembro-me, vi na televisão, aquele operário metalúrgico especializado do Minho, chefe de oficina, que ganhava uns 700 Euros, e emigrou para servente de pedreiro em França a ganhar uns 1500 Euros). Enfim, no essencial, foi confirmando o dito pelo Ministro da Economia.
Não sei se estou a resumir de uma forma 100% exacta o que se passou - quem estas linhas escreve, eu que apanhei a polémica a meio quando regressado ao País -, mas o tom era este. Afinal, torna-se cada vez mais patente a importância do que indica em termos de atraso o nível dos salários por cá praticados. E todos o sabem, e o reconhecem, pela positiva e pela negativa. Sem outro nível (mais elevado) de salários não há incentivo - possibilidades - para o progresso económico.
O que no entanto foi deveras grande notícia desta visita à China foi aquela do Ministro da Economia sobre os salários no nosso País, sobre o seu tentar os chineses para investirem no nosso País - nível de salários abaixo da média europeia e fraco risco de pressão para o seu aumento, pelo menos menor do que nos novos países da UE do centro e leste europeus (esta gente agora já gosta de distinguir entre o centro e o leste europeus, o que não acontecia até aos finais dos anos 90 - só para deixar anotado aqui este facto). Pois é. Então caiu o Carmo e a Trindade, não por o ministro ter referido uma grande verdade, que a é - a dos salários baixos no nosso País -, nem por estar convencido - e com ele, o Governo, as tais elites «bloco-centrais», etc, o seja o «Poder» cá do burgo - que os trabalhadores portugueses já estão suficientemente preocupados, e em particular domados, pela campanha «ou salários baixos ou então nada». Mas sim por o ter dito publicamente. À vista de todos.
Uns, sobretudo os do Governo, porque não valia a pena dizer coisas aos chineses que eles já sabem muito bem - e então por que foi que referiram ter ele cometido uma gaffe? Se já todos o sabem? Outros muito exaltados - sobretudo em declarações vindas do CDS e do PSD - porque as afirmações do ministro davam uma imagem de «terceiro mundo», davam mau aspecto - quer dizer, as coisas podem ser como são, o «bloco central» sempre a dar todas as possibilidades ao (in-)famoso modelo dos baixos salários para alegria dos patrões, o que não se pode é dar com a língua nos dentes como fez o ministro. Outros ainda, mais do lado do PCP e dos sindicatos a afirmarem com razão que as declarações de Manuel Pinho contradiziam o objectivo maior deste governo, o «plano tecnológico» - e em relação aos sindicatos o ministro abespinhou-se mesmo com o modo de ser retrógrado dos mesmos, contra a forma como bloqueiam o desenvolvimento. Dois dias mais tarde, com a efervescência já em enfraquecimento, sai a terreiro o PM. Que a Oposição - sempre no singular, topam? - e os sindicatos, como não têm nada para dizer, escolhem temas que são nada. Mas foi acrescentando que Manuel Pinho não se estava a referir aos salários mais baixos mas sim a uma faixa de salários mais elevados, mais próprios - comento eu - de uma economia sujeita a um choque tecnológico, de uma economia a sair do modelo dos baixos salários. E mais, é nesta faixa dos mais qualificados - afinal parece que eles sempre existem, pelo menos para as nossas pequenas ambições «económicas» - que os trabalhadores portugueses são competitivos, que «nós» estamos bem, como o PM disse, quer dizer que os nossos salários são baixos (lembro-me, vi na televisão, aquele operário metalúrgico especializado do Minho, chefe de oficina, que ganhava uns 700 Euros, e emigrou para servente de pedreiro em França a ganhar uns 1500 Euros). Enfim, no essencial, foi confirmando o dito pelo Ministro da Economia.
Não sei se estou a resumir de uma forma 100% exacta o que se passou - quem estas linhas escreve, eu que apanhei a polémica a meio quando regressado ao País -, mas o tom era este. Afinal, torna-se cada vez mais patente a importância do que indica em termos de atraso o nível dos salários por cá praticados. E todos o sabem, e o reconhecem, pela positiva e pela negativa. Sem outro nível (mais elevado) de salários não há incentivo - possibilidades - para o progresso económico.