O regresso às origens
Agrava-se o mal-estar mundial. O petróleo, a sede do lucro, as gigantescas fortunas que não se resignam a deixar de crescer, são a única face visível da prosperidade que a globalização prometeu. O rugido do povo iraquiano continua a ouvir-se e Bush até na sua terra não tem crédito.
Os amigos dos americanos, como Putin, tentam passar-lhe uma rasteira e serem eles a controlar, à sua maneira e em seu proveito, o chorudo negócio dos gasodutos e dos oleodutos europeus. As bolsas de valores tremelicam a todo o instante. Os americanos temem os chineses e as mafias do Ocidente vêem com desconfiança os bandos dos russos que elas próprias colocaram no poder.
Por cá, também campeia a mentira. As contas e as estatísticas dão para tudo quanto os ministros de Sócrates quiserem que dê. À direita, estabeleceu-se a confusão. É a balbúrdia e a arruaça próprias dos grandes momentos de crise quando às incertezas do futuro se vêm juntar as perspectivas dos grandes negócios, tais como a gestão das verbas comunitárias, as Opas ou as Otas. Infiltradas e inquinadas, as instituições oferecem a triste imagem do compadrio, dos valores que se compram ou se vendem no mercado e de uma corrente de opinião que se começa a definir e vai no sentido do branqueamento do passado e do regresso a essa idade de oiro.
O papel do Vaticano
Não é simples saudosismo o que move os saudosistas. Nem só em Portugal se tenta organizar o regresso ao passado. De Itália aos confins da Europa há planos ocultos elaborados para a reconquista do poder. Também o mesmo acontece em África, em todas as Américas e nas regiões ricas em matérias-primas. Tão grande é esta certeza que bem poderia falar-se em Nova Globalização. Veja-se, por exemplo, os casos actuais da Polónia, de Timor ou do Brasil, que em anos recentes foi pátria dos camponeses sem terra ou dos teólogos da libertação. Se apontamos, uma vez mais, para esta paridade inseparável da reacção e da Igreja, é porque os dois factores caminham lado a lado onde quer que se pretenda o regresso ao obscurantismo e à repressão.
Na Polónia, um partido confessional ganhou as eleições gerais. Logo, chamou a hierarquia religiosa para a área do poder, anulou as leis mais progressista e tomou o caminho das purgas e das perseguições. Comunistas e socialistas voltaram a ser perseguidos sob a acusação de terem colaborado com o regime anterior.
Em Timor, uma terra cobiçada, Ramos-Horta, homem de confiança dos barões do petróleo, membro da Trilateral e das estruturas da Igreja, candidatou-se às próximas eleições para PR e fez campanha, junto das populações pobres, envergando uma T-shirt estampada com a cabeça de Cristo crucificado.
No Brasil, nas terras do Centrão católico Lula, pragmático, entregou a políticos, com nítidas ligações a círculos financeiros e confessionais, ministérios que anteriormente confiara ao PC brasileiro. Veremos o que vai acontecer mas nada de bom decerto será.
Também na América Latina, o Vaticano não esqueceu o passado. Quase trinta anos decorridos sobre a decapitação da Teologia da Libertação, o papa mantém mão de ferro sobre os teólogos insurgentes.
Poucas semanas decorridas sobre a sua entronização, o novo papa disciplinou um dos poucos teólogos sobreviventes, o salvadorenho Jon Sobrino, discípulo do bispo César Romero, assassinado por milícias fascistas, a soldo nunca se disse de quem. O papa não só não esquece como está bem informado e pronto a agir de acordo com os princípios sectários que são os seus.
No Vaticano, Bento XVI trabalha. Deu início a uma «revolução silenciosa», reorganizando o governo, reforçando o seu poder pessoal, suprimindo ministérios e serviços, tirando ministros e pondo outros no seu lugar. Simultaneamente, deu mais força às instituições ultra-reaccionárias do Vaticano e faz publicar, a ritmo acelerado, pastorais e cartas pastorais com valor de dogma que integrarão, no futuro, a base teórica do tipo de igreja que pretende consolidar.
Há, pois, no mundo, um conjunto de factores em fase de sistematização que requerem vigilância e resposta firme. Com a chegada de Ratzinger à Cadeira de S. Pedro nem sequer se pode falar em quebras ou vazios nos planos do Vaticano. De há muito que Wojtyla falava mas quem lhe soprava as palavras ao ouvido era, sem dúvida, Joseph Ratzinger.
O cardeal era fanático mas não era louco. Sabia que todo o poder que detinha se evaporaria caso ele não soubesse organizá-lo e transportá-lo para o campo da acção. Aproxima-se agora a altura em que a máquina do papa alemão se porá em movimento.
Ratzinger não é um papa qualquer. Domina o Opus Dei e a Companhia de Jesus. Possui altas influências no mundo financeiro e nos círculos políticos. Nunca ameaça em vão.
Os amigos dos americanos, como Putin, tentam passar-lhe uma rasteira e serem eles a controlar, à sua maneira e em seu proveito, o chorudo negócio dos gasodutos e dos oleodutos europeus. As bolsas de valores tremelicam a todo o instante. Os americanos temem os chineses e as mafias do Ocidente vêem com desconfiança os bandos dos russos que elas próprias colocaram no poder.
Por cá, também campeia a mentira. As contas e as estatísticas dão para tudo quanto os ministros de Sócrates quiserem que dê. À direita, estabeleceu-se a confusão. É a balbúrdia e a arruaça próprias dos grandes momentos de crise quando às incertezas do futuro se vêm juntar as perspectivas dos grandes negócios, tais como a gestão das verbas comunitárias, as Opas ou as Otas. Infiltradas e inquinadas, as instituições oferecem a triste imagem do compadrio, dos valores que se compram ou se vendem no mercado e de uma corrente de opinião que se começa a definir e vai no sentido do branqueamento do passado e do regresso a essa idade de oiro.
O papel do Vaticano
Não é simples saudosismo o que move os saudosistas. Nem só em Portugal se tenta organizar o regresso ao passado. De Itália aos confins da Europa há planos ocultos elaborados para a reconquista do poder. Também o mesmo acontece em África, em todas as Américas e nas regiões ricas em matérias-primas. Tão grande é esta certeza que bem poderia falar-se em Nova Globalização. Veja-se, por exemplo, os casos actuais da Polónia, de Timor ou do Brasil, que em anos recentes foi pátria dos camponeses sem terra ou dos teólogos da libertação. Se apontamos, uma vez mais, para esta paridade inseparável da reacção e da Igreja, é porque os dois factores caminham lado a lado onde quer que se pretenda o regresso ao obscurantismo e à repressão.
Na Polónia, um partido confessional ganhou as eleições gerais. Logo, chamou a hierarquia religiosa para a área do poder, anulou as leis mais progressista e tomou o caminho das purgas e das perseguições. Comunistas e socialistas voltaram a ser perseguidos sob a acusação de terem colaborado com o regime anterior.
Em Timor, uma terra cobiçada, Ramos-Horta, homem de confiança dos barões do petróleo, membro da Trilateral e das estruturas da Igreja, candidatou-se às próximas eleições para PR e fez campanha, junto das populações pobres, envergando uma T-shirt estampada com a cabeça de Cristo crucificado.
No Brasil, nas terras do Centrão católico Lula, pragmático, entregou a políticos, com nítidas ligações a círculos financeiros e confessionais, ministérios que anteriormente confiara ao PC brasileiro. Veremos o que vai acontecer mas nada de bom decerto será.
Também na América Latina, o Vaticano não esqueceu o passado. Quase trinta anos decorridos sobre a decapitação da Teologia da Libertação, o papa mantém mão de ferro sobre os teólogos insurgentes.
Poucas semanas decorridas sobre a sua entronização, o novo papa disciplinou um dos poucos teólogos sobreviventes, o salvadorenho Jon Sobrino, discípulo do bispo César Romero, assassinado por milícias fascistas, a soldo nunca se disse de quem. O papa não só não esquece como está bem informado e pronto a agir de acordo com os princípios sectários que são os seus.
No Vaticano, Bento XVI trabalha. Deu início a uma «revolução silenciosa», reorganizando o governo, reforçando o seu poder pessoal, suprimindo ministérios e serviços, tirando ministros e pondo outros no seu lugar. Simultaneamente, deu mais força às instituições ultra-reaccionárias do Vaticano e faz publicar, a ritmo acelerado, pastorais e cartas pastorais com valor de dogma que integrarão, no futuro, a base teórica do tipo de igreja que pretende consolidar.
Há, pois, no mundo, um conjunto de factores em fase de sistematização que requerem vigilância e resposta firme. Com a chegada de Ratzinger à Cadeira de S. Pedro nem sequer se pode falar em quebras ou vazios nos planos do Vaticano. De há muito que Wojtyla falava mas quem lhe soprava as palavras ao ouvido era, sem dúvida, Joseph Ratzinger.
O cardeal era fanático mas não era louco. Sabia que todo o poder que detinha se evaporaria caso ele não soubesse organizá-lo e transportá-lo para o campo da acção. Aproxima-se agora a altura em que a máquina do papa alemão se porá em movimento.
Ratzinger não é um papa qualquer. Domina o Opus Dei e a Companhia de Jesus. Possui altas influências no mundo financeiro e nos círculos políticos. Nunca ameaça em vão.