Uma questão de política
O primeiro-ministro e o seu Governo, com destaque para a ministra da Educação, iniciaram uma guerra contra os professores e educadores com a insidiosa tese nunca demonstrada de que estes são os principais responsáveis pelos maus resultados dos seus alunos e que por isso temem ser avaliados.
As lutas dos professores são a melhor resposta à ofensiva do Governo
Desde o início do conflito, o Governo tem procurado escamotear a sua estratégia de quase quatro anos de fragilização da Escola Pública e de desvalorização social e profissional dos docentes. Para isso impôs o actual Estatuto da Carreira Docente e, mais recentemente, decidiu avançar com um modelo de avaliação de desempenho perverso e profundamente injusto. As acusações caluniosas aos professores que o Governo pôs a circular têm valor semelhante à outra afirmação que Sócrates tem repetido nos últimos dias de que os milhões de euros que está a injectar nos bancos não é a pensar nos banqueiros, mas nos portugueses.
Sócrates, o seu Governo e a maioria PS na Assembleia da República, sabem melhor do que ninguém que são falsas as acusações que fazem à generalidade dos docentes deste País, por uma razão muito simples: é que o PS, sozinho ou com o apoio dos partidos da direita, protagonizou algumas das mais significativas ofensivas contra a Escola Pública e os direitos dos docentes e está hoje fortemente comprometido com o rumo negativo das políticas educativas e, apesar de afirmar o contrário, com uma estratégia que tem na sua génese a entrega do controlo do ensino em Portugal ao poder económico.
São dois os motivos de interesse do grande capital no sistema educativo – o económico e o estratégico. O mercado mundial da educação representa hoje a bonita soma de 2000 biliões de euros/ano, ou seja, mais do dobro do mercado automóvel mundial. O ensino entra, assim, nos vorazes apetites do grande capital, a par de outras actividades. Mas para o capital o interesse no controlo dos sistemas educativos não é apenas económico, ele está intrinsecamente associado à necessidade que tem de reproduzir as condições ideológicas e políticas da exploração capitalista, como sistema de acumulação que é. É neste sentido que vão as conclusões da cimeira de Lisboa em 2000 reafirmadas recentemente pela UE.
Enganou-se Sócrates na avaliação da relação causa/efeito da sua estratégia, quando pensou que tinha o caminho livre para avançar e que, se necessário, «compraria a paz», leia-se a troca da dignidade profissional e outros importantes direitos dos professores por uma qualquer benesse e assim chegaria ao fim da estrada sem grande rebuliço.
O PS desenvolveu enormes esforços no sentido de dividir os professores mas, ao contrário do que esperava, estes uniram-se em torno dos seus sindicatos e uma parte muito significativa já percebeu que a postura do Governo neste processo não é ditada pela teimosia, pela arrogância e pela incompetência, e que o cinismo do discurso do primeiro-ministro ou da ministra da Educação, quando dizem que não percebem tanta contestação porque o que querem é defender a Escola Pública e melhorar a qualidade do ensino, esconde a verdadeira natureza do conflito que abriram com os professores.
Defender a escola pública
Também acompanho a caracterização que é feita da ministra e secretários de Estado. Até vou mais longe nesta apreciação. Ainda no passado dia 6, dia em que Jorge Pedreira se desmultiplicou em contactos com a imprensa para tentar esconder o óbvio, pela postura e pelo discurso, aquela imagem fez-me lembrar um iogurte fora de prazo na prateleira de um qualquer supermercado.
Mas chamo a atenção para o facto de o Governo, na concretização da sua estratégia, ter todo o interesse em que na opinião pública, e particularmente entre os professores, as causas do conflito se fixem em aspectos de natureza comportamental dos governantes e dos representantes dos professores e não no que é essencial, as políticas.
Não é por acaso que alguns dos mais conhecidos arautos da política educativa do Governo PS já começaram a desenvolver duas teses: a de que o primeiro-ministro devia fazer algumas alterações na equipa do Ministério para assim acalmar os professores; e uma outra em que defendem a ideia de que com estes negociadores de um lado e de outro, já não há nada a fazer e, por isso, é preciso mudá-los ou encontrar mediadores.
Não estamos perante um jogo em que o vencedor será o mais teimoso. Estamos, sim, num momento em que o resultado deste confronto político e sindical pode ser decisivo para o futuro próximo do nosso sistema educativo, principalmente para a defesa de uma escola pública de qualidade, gratuita e para todos.
Tendo como centro das preocupações os direitos e interesses das nossas crianças e dos nossos jovens, a luta pela melhoria da qualidade do ensino, pela defesa da dignidade profissional dos professores e educadores deste País e pela defesa e valorização da Escola Pública, a que se associam as lutas dos estudantes e dos outros trabalhadores das escolas, acabará mais cedo do que tarde por derrotar o objectivo primeiro do Governo PS que é destruir a Escola Pública. As impressionantes manifestações de massas realizadas num espaço de oito meses, a maior greve de sempre e a determinação com que continuam a lutar, prestigia os professores, as suas organizações sindicais e são a resposta mais consequente à ofensiva de manipulação de informação, de intriga e de intimidação que o Governo está a realizar nas escolas.
Sócrates, o seu Governo e a maioria PS na Assembleia da República, sabem melhor do que ninguém que são falsas as acusações que fazem à generalidade dos docentes deste País, por uma razão muito simples: é que o PS, sozinho ou com o apoio dos partidos da direita, protagonizou algumas das mais significativas ofensivas contra a Escola Pública e os direitos dos docentes e está hoje fortemente comprometido com o rumo negativo das políticas educativas e, apesar de afirmar o contrário, com uma estratégia que tem na sua génese a entrega do controlo do ensino em Portugal ao poder económico.
São dois os motivos de interesse do grande capital no sistema educativo – o económico e o estratégico. O mercado mundial da educação representa hoje a bonita soma de 2000 biliões de euros/ano, ou seja, mais do dobro do mercado automóvel mundial. O ensino entra, assim, nos vorazes apetites do grande capital, a par de outras actividades. Mas para o capital o interesse no controlo dos sistemas educativos não é apenas económico, ele está intrinsecamente associado à necessidade que tem de reproduzir as condições ideológicas e políticas da exploração capitalista, como sistema de acumulação que é. É neste sentido que vão as conclusões da cimeira de Lisboa em 2000 reafirmadas recentemente pela UE.
Enganou-se Sócrates na avaliação da relação causa/efeito da sua estratégia, quando pensou que tinha o caminho livre para avançar e que, se necessário, «compraria a paz», leia-se a troca da dignidade profissional e outros importantes direitos dos professores por uma qualquer benesse e assim chegaria ao fim da estrada sem grande rebuliço.
O PS desenvolveu enormes esforços no sentido de dividir os professores mas, ao contrário do que esperava, estes uniram-se em torno dos seus sindicatos e uma parte muito significativa já percebeu que a postura do Governo neste processo não é ditada pela teimosia, pela arrogância e pela incompetência, e que o cinismo do discurso do primeiro-ministro ou da ministra da Educação, quando dizem que não percebem tanta contestação porque o que querem é defender a Escola Pública e melhorar a qualidade do ensino, esconde a verdadeira natureza do conflito que abriram com os professores.
Defender a escola pública
Também acompanho a caracterização que é feita da ministra e secretários de Estado. Até vou mais longe nesta apreciação. Ainda no passado dia 6, dia em que Jorge Pedreira se desmultiplicou em contactos com a imprensa para tentar esconder o óbvio, pela postura e pelo discurso, aquela imagem fez-me lembrar um iogurte fora de prazo na prateleira de um qualquer supermercado.
Mas chamo a atenção para o facto de o Governo, na concretização da sua estratégia, ter todo o interesse em que na opinião pública, e particularmente entre os professores, as causas do conflito se fixem em aspectos de natureza comportamental dos governantes e dos representantes dos professores e não no que é essencial, as políticas.
Não é por acaso que alguns dos mais conhecidos arautos da política educativa do Governo PS já começaram a desenvolver duas teses: a de que o primeiro-ministro devia fazer algumas alterações na equipa do Ministério para assim acalmar os professores; e uma outra em que defendem a ideia de que com estes negociadores de um lado e de outro, já não há nada a fazer e, por isso, é preciso mudá-los ou encontrar mediadores.
Não estamos perante um jogo em que o vencedor será o mais teimoso. Estamos, sim, num momento em que o resultado deste confronto político e sindical pode ser decisivo para o futuro próximo do nosso sistema educativo, principalmente para a defesa de uma escola pública de qualidade, gratuita e para todos.
Tendo como centro das preocupações os direitos e interesses das nossas crianças e dos nossos jovens, a luta pela melhoria da qualidade do ensino, pela defesa da dignidade profissional dos professores e educadores deste País e pela defesa e valorização da Escola Pública, a que se associam as lutas dos estudantes e dos outros trabalhadores das escolas, acabará mais cedo do que tarde por derrotar o objectivo primeiro do Governo PS que é destruir a Escola Pública. As impressionantes manifestações de massas realizadas num espaço de oito meses, a maior greve de sempre e a determinação com que continuam a lutar, prestigia os professores, as suas organizações sindicais e são a resposta mais consequente à ofensiva de manipulação de informação, de intriga e de intimidação que o Governo está a realizar nas escolas.