O triângulo da subversão

Luís Carapinha

A intervenção qualificada do regime sionista na América Latina não é uma novidade

A intensificação da contra-ofensiva do imperialismo na América Latina é uma realidade, como o comprova o golpe de estado nas Honduras de 28 de Junho.
Assiste-se a uma vasta manobra para aplacar os processos progressistas em curso na região que configuram uma ameaça à perpetuação do domínio das oligarquias e do capital monopolista, envolvendo as forças e os meios mais sinistros. Em toda a cerrada movimentação, nos planos diplomático, político, militar e subversivo, que pauta as últimas semanas, sobressai, a diferentes níveis, a dinâmica de concertação e divisão de tarefas entre os EUA, a Colômbia e… Israel.

A intervenção qualificada do regime sionista na América Latina não é uma novidade, ocupando-se daquilo que melhor sabe fazer e, já há muito, regularmente pratica na Palestina ocupada, Líbano, Síria, etc. Como recorda o diário colombiano El Espectador, foram mercenários do exército israelita que treinaram os primeiros grupos paramilitares colombianos em técnicas de tortura, atentados e massacres (Tribuna Popular, 20.08.09).
A questão que se coloca agora, mais além dos estreitos laços políticos, económicos e militares entre Telaviv e Bogotá, é a do papel e o momento da intervenção de Israel na Colômbia, dentro dos planos de subversão invariavelmente conduzidos desde Washington na América Latina e, em especial, da conspiração movida contra a Venezuela Bolivariana.
Segundo informação recentemente disponibilizada pelo site do Partido Comunista Colombiano, os serviços secretos israelitas duplicaram a sua acção operacional sobre a Venezuela e a Mossad estabeleceu em Bogotá um quartel-general exclusivamente dedicado à actividade de desestabilização no país vizinho. A nota sublinha que o governo de Netanyahu investe actualmente ainda mais recursos para apoiar a oposição anti-Chávez que o próprio governo norte-americano.
É neste contexto de arrastar de espadas (e de armar setas envenenadas) que se inseriu, no final de Julho, o périplo de Avigdor Lieberman a quatro países da América do Sul, a primeira à região de um responsável das relações externas de Israel em 22 anos. No Brasil, Argentina, Peru e Colômbia, o dirigente sionista, conhecido pelas suas posições racistas e de extrema-direita, insistiu na tese dos vínculos perigosos entre o Governo de Teerão e a Venezuela, Bolívia e Equador, ao mesmo tempo que a máquina de contra-informação israelita se entregava à cabala das células do Hezbollah na zona venezuelana da fronteira com a Colômbia.
Quantas vezes já ouvimos este tipo de estórias quando o imperialismo trata de preparar o terreno, congregar apoios e conjurar obstáculos, tendo em vista o desencadear de operações de largo alcance?

O que está em causa é muito sério. E se dúvidas ainda restassem, o acordo para, pelo menos, mais sete bases militares – aéreas, navais e do exército – dos EUA na Colômbia, concluído na passada semana, vem dissipá-las.
A braços com a crise profunda do sistema capitalista, os arautos da nova ordem mundial hegemónica apostam tudo em suster e inverter a roda da História.
Contudo, a escalada da agressividade e do militarismo contra os processos de soberania, emancipação e cooperação na América Latina – em que pontifica o exemplo a abater da ALBA – terá que contar com a resistência dos trabalhadores e das massas populares, a que não falta a solidariedade dos comunistas e das forças que se juntam no combate pelo socialismo e um mundo qualitativamente melhor.
Como se vê nas próprias Honduras, onde há mais de 60 dias consecutivos e contra a repressão e o silenciamento mediático, a acção do movimento sindical e da resistência popular não dá tréguas aos golpistas.


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