Comentário

Prevenção e segurança no trabalho

Jorge Machado

O Dia Na­ci­onal de Pre­venção e Se­gu­rança no Tra­balho (28 de Abril), que re­sulta de um pro­jecto de re­so­lução do PCP, é de par­ti­cular im­por­tância para ana­lisar a evo­lução da si­nis­tra­li­dade e ava­liar as me­didas de com­bate e este fla­gelo so­cial.

Fazer cum­prir a re­so­lução da As­sem­bleia da Re­pú­blica n.º 44/​2001 é fun­da­mental. Esta re­so­lução de­ter­mina a re­a­li­zação de cam­pa­nhas de in­for­mação, for­mação e pre­venção, e re­co­menda ao Go­verno a apre­sen­tação anual dos dados re­la­tivos à si­nis­tra­li­dade la­boral e dos re­la­tó­rios do Con­selho Na­ci­onal de hi­giene e se­gu­rança no tra­balho. 

Reina a con­fusão nas es­ta­tís­ticas. Temos dados do Mi­nis­tério da Jus­tiça, que são di­fe­rentes dos do INE e dos do Eu­rostat, e dados do Mi­nis­tério do Tra­balho, que são di­fe­rentes de todos os res­tantes. Todas as es­ta­tís­ticas de­mons­tram que existe uma ele­vada si­nis­tra­li­dade la­boral.

Em 2007 re­gis­taram-se 237 409 aci­dentes de tra­balho, tendo mor­rido 276 tra­ba­lha­dores. Mor­reram, em 2008, 115 pes­soas de­vido a aci­dentes de tra­balho. Se jun­tarmos os tra­ba­lha­dores que mor­reram de­vido a do­ença pro­fis­si­onal, de acordo com a co­mu­ni­cação so­cial, che­gamos a 252 mortes.

Ainda não tendo sido pu­bli­cados, inex­pli­ca­vel­mente, os dados re­la­tivos ao nú­mero de aci­dentes pro­fis­si­o­nais, im­porta re­ferir que a pre­ca­ri­e­dade la­boral, o medo de perder o em­prego e a ocul­tação por parte das en­ti­dades pa­tro­nais levam a que muitos si­nis­tros não en­trem nas es­ta­tís­ticas.

A dra­má­tica re­a­li­dade das do­enças pro­fis­si­o­nais não me­rece qual­quer tra­ta­mento es­ta­tís­tico digno desse nome, não obs­tante mul­ti­pli­carem-se re­latos de ele­vadas per­cen­ta­gens de do­enças pro­fis­si­o­nais em certos sec­tores. Na ver­dade, as do­enças pro­fis­si­o­nais, com des­taque para as do­enças mús­culo-es­que­lé­ticas e as do­enças de foro psi­co­ló­gico as­sumem cada vez mais re­le­vância nos es­tudos in­ter­na­ci­o­nais, sem que se co­nheça me­didas efi­cazes no seu com­bate.

Os aci­dentes de tra­balho e as do­enças pro­fis­si­o­nais re­sultam de erros ou de­feitos no pro­cesso pro­du­tivo, da falta de pre­venção, do não cum­pri­mento de re­gras mí­nimas de hi­giene e se­gu­rança. Con­tudo, al­te­ra­ções le­gis­la­tivas le­vadas a cabo pelo PS, com o apoio mais ou menos evi­dente do PSD e do CDS, podem au­mentar os riscos.

A pre­ca­ri­e­dade la­boral, além de au­mentar a ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores, au­menta de forma sig­ni­fi­ca­tiva o risco de do­enças pro­fis­si­o­nais e de si­nis­tros no tra­balho. As re­centes al­te­ra­ções ao Có­digo do Tra­balho, ao per­mi­tirem uma jor­nada de tra­balho até 12 horas e ao dei­xarem a or­ga­ni­zação dos tempos de tra­balho nas mãos do pa­trão, trazem con­sequên­cias muito ne­fastas. Dados e es­tudos de or­ga­nismos do Es­tado dão conta de que «ho­rá­rios de tra­balho su­pe­ri­ores a 8 horas afectam ne­ga­ti­va­mente a saúde e o bem-estar dos tra­ba­lha­dores, sendo que os riscos a este nível au­mentam em 61 por cento». Não é exa­gero dizer que o au­mento do ho­rário de tra­balho é uma séria ameaça à saúde dos tra­ba­lha­dores.

Mas a si­nis­tra­li­dade la­boral não é uma fa­ta­li­dade. O com­bate aos aci­dentes de tra­balho e às do­enças pro­fis­si­o­nais exige me­didas ur­gentes.

Além de fa­ci­litar a in­ter­venção dos tra­ba­lha­dores nas em­presas, é ur­gente apostar na pre­venção, numa acção co­or­de­nada para re­duzir a si­nis­tra­li­dade, é ne­ces­sário ins­ti­tuir uma di­nâ­mica de pre­venção e es­ti­pular uma cul­tura de se­gu­rança, e é pre­ciso, com ur­gência, pôr em fun­ci­o­na­mento o Ob­ser­va­tório da Pre­venção.

Além de com­bater a pre­ca­ri­e­dade e al­terar o Có­digo do Tra­balho, é pre­ciso que os or­ga­nismos do Es­tado não sejam be­ne­vo­lentes para com quem viola a lei.

Há ainda o pro­blema da re­pa­ração dos si­nis­trados do tra­balho. Os exem­plos dados pela As­so­ci­ação Na­ci­onal dos De­fi­ci­entes Si­nis­trados do Tra­balho (ANDST), de um tra­ba­lhador com surdez pro­fis­si­onal que re­cebe uma pensão de 46 euros, ou de um te­tra­plé­gico que re­cebe 97 euros de ajuda à ter­ceira pessoa, são ina­cei­tá­veis. O facto de em Maio ainda não terem sido ac­tu­a­li­zadas as pen­sões dos si­nis­trados do tra­balho de­monstra a enorme falta de res­peito que o Go­verno tem por estes tra­ba­lha­dores.

Uma justa re­pa­ração dos si­nis­trados do tra­balho im­plica, como propôs o PCP, al­te­ra­ções de fundo ao di­ploma do PS que pri­vi­legia os in­te­resses das com­pa­nhias de se­guros. A lei não in­dem­niza os danos não pa­tri­mo­niais, as re­gras de re­missão das pen­sões be­ne­fi­ciam as se­gu­ra­doras, re­ti­rando mi­lhões de euros aos si­nis­trados, e estes são con­si­de­rados como má­quinas a re­parar pelo mí­nimo valor pos­sível.

A dra­má­tica re­a­li­dade da si­nis­tra­li­dade la­boral e das do­enças pro­fis­si­o­nais ne­ces­sita, ur­gen­te­mente, de uma al­te­ração de fundo, que traga mais jus­tiça para estes tra­ba­lha­dores.



Mais artigos de: Trabalhadores

CGTP-IN prepara grande manifestação

Com pro­postas al­ter­na­tivas que evi­ta­riam ser sempre os mesmos a pagar por crises que não pro­vo­caram, a CGTP-IN apela à par­ti­ci­pação de todos os tra­ba­lha­dores e da po­pu­lação na grande ma­ni­fes­tação na­ci­onal, dia 29, em Lisboa, para travar o ac­tual ataque, sem pre­ce­dentes, aos seus di­reitos.

Petrogal volta à greve

Re­correm à pa­ra­li­sação da la­bo­ração também os tra­ba­lha­dores do Grupo BA Vidro, da Nu­tri­quim, da Re­nault Chelas e ou­tras em­presas.

Capital fechou a <i>Rohde </i>

Os tra­ba­lha­dores, em­pur­rados para um beco sem saída, vo­taram contra o plano da ad­mi­nis­tração da in­sol­vência, que apon­tava para a li­qui­dação da Rohde, mas es­tava tudo de­ci­dido.

Ministra multada

O Tri­bunal de Beja con­denou a mi­nistra da Edu­cação por de­so­bediência à providência cau­telar provisória de­cre­tada, dia 4, que obriga à re­ti­rada da ava­li­ação de de­sem­penho do con­curso.

Recuo nos transportes

Com o aval do Governo, as administrações começaram a negociar matérias que antes recusavam discutir, alegando então orientações do Governo, notou o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, que vê este recuo como resultado das lutas...

Paguem os salários!

Para exigirem o pagamento dos salários em atraso, trabalhadores do Hotel Montechoro concentraram-se na segunda-feira, de manhã, frente às instalações daquela unidade (na foto). Uma delegação da Comissão Concelhia de Albufeira do PCP expressou solidariedade aos...

STAL critica Tribunal Constitucional

Discordando «totalmente» da decisão tomada pelo Tribunal Constitucional sobre o pedido de fiscalização sucessiva da constitucionalidade da Lei de Vínculos, Carreiras e Remunerações, que confirmou a constitucionalidade do diploma 12-A do Governo,  o Sindicato...

Polícias sem folgas

Devido à visita do Papa Bento XVI a Portugal, os profissionais da PSP, afectos ao Metropolitano de Lisboa e que estavam de folga, viram-se «prejudicados nos seus direitos» para garantir a segurança, durante a visita, pois tiveram de cumprir serviço em dia de descanso, revelou, anteontem,...

Grandes sem tributação

A proposta de lei sobre tributação de mais-valias mobiliárias - que o Governo enviou à AR, como se também os lucros obtidos na especulação bolsista passassem a pagar imposto - abrange apenas uma pequena parte dos rendimentos obtidos em bolsa e deixa de fora os fundos de...