Jerónimo de Sousa no debate quinzenal

O banquete do capital

O corte nos apoios so­ciais do cha­mado plano anti-crise, no­me­a­da­mente os di­ri­gidas aos de­sem­pre­gados e aos mais des­fa­vo­re­cidos, foi du­ra­mente cri­ti­cado pelo PCP, que vê na de­cisão um re­trato fiel das ver­da­deiras op­ções do Go­verno.

 

Go­verno ca­pi­tula pe­rante os po­de­rosos

Tanto mais ina­cei­tável quanto é certo que ocorre em si­mul­tâneo com a de­cisão do Go­verno de pro­longar as me­didas de apoio ao sector fi­nan­ceiro cri­adas em 2008, como as­si­nalou o Se­cre­tário-geral do PCP no de­bate quin­zenal com o pri­meiro-mi­nistro re­a­li­zado no final da pas­sada se­mana.

Je­ró­nimo de Sousa con­testou a de­cisão de acabar com o pro­lon­ga­mento por mais seis meses do sub­sídio so­cial de de­sem­prego, bem como a re­vo­gação do prazo mí­nimo de acesso ao sub­sídio, tal como a ma­jo­ração de dez por cento pago a be­ne­fi­ciá­rios com fi­lhos.

«Com estes cortes, hoje temos mais de­sem­pre­gados mas também mais de­ses­pe­rados, já que a de­cisão é to­mada num mo­mento em que o de­sem­prego atingiu o nível his­tó­rico de 10,8 por cento», su­bli­nhou o di­ri­gente co­mu­nista, de­pois de ter lem­brado que tais me­didas foram antes con­si­de­radas por José Só­crates como «cru­ciais».

«Não venha cá com a ideia dos sa­cri­fí­cios re­par­tidos», disse ainda Je­ró­nimo de Sousa, di­ri­gindo-se a José Só­crates, a quem pediu para «não con­fundir res­pon­sa­bi­li­dade [termo muito usado pelo chefe do Go­verno para jus­ti­ficar os sa­cri­fí­cios im­postos ao povo a mando de Berlim ou de Bru­xelas] nem com re­sig­nação pe­rante as in­jus­tiças nem com ca­pi­tu­lação pe­rante os po­de­rosos».

 

O manjar

 

Sobre as me­didas ex­tra­or­di­ná­rias de apoio ao sector ban­cário, que mo­bi­liza perto de 10 mil mi­lhões de euros, Je­ró­nimo de Sousa afirmou-se con­victo de que nada re­solvem, sendo «a mesma coisa que tentar des­pejar um oceano com um balde».

«Hoje são as di­fi­cul­dades de cré­dito, amanhã será a ten­ta­tiva de lim­peza de lixo tó­xico que os es­pe­cu­la­dores con­ti­nuam a ter no sector fi­nan­ceiro», acres­centou, antes de per­guntar ao pri­meiro-mi­nistro se acha equi­ta­tiva esta re­par­tição de sa­cri­fí­cios em que os mais des­pro­te­gidos são atin­gidos por estas me­didas, en­quanto os que usu­fruem de «lu­cros abis­sais» con­ti­nuam a dispor do apoio do Go­verno.

«Acha equi­ta­tiva esta re­par­tição de sa­cri­fí­cios, atin­gindo quem menos tem e menos pode, quem já não tem al­ter­na­tiva, nem em­prego nem sub­sídio? E vir aqui com este manjar, este ban­quete para o grande ca­pital fi­nan­ceiro, que é o res­pon­sável, de facto, pela crise que es­tamos a viver?», per­guntou.

O pri­meiro-mi­nistro, na res­posta, jus­ti­ficou a re­ti­rada das me­didas de apoio in­cre­men­tadas em 2009 com o ar­gu­mento de que o Es­tado «não está em con­di­ções de as pro­longar». In­vocou ainda que o País «já não está em re­cessão», adi­an­tando mesmo estar já em curso a «re­cu­pe­ração eco­nó­mica».

E mos­trou-se sa­tis­feito por, em Abril e em Maio, pela pri­meira vez nos úl­timos dois anos, o con­junto de de­sem­pre­gados ins­critos nos Cen­tros de Em­prego «ter co­me­çado a di­mi­nuir».

Je­ró­nimo de Sousa, na ré­plica, acusou o Go­verno de «ter uma ca­pa­ci­dade enorme para dis­torcer e até tor­turar as es­ta­tís­ticas até elas se ajei­tarem ao dis­curso». E lem­brou que umas vezes o Go­verno fala do Ins­ti­tuto do Em­prego, ou­tras vezes é o INE, ou­tras ainda é o Eu­ros­tate, ou seja, «con­forme as con­ve­ni­ên­cias».

«A ver­dade é que o de­sem­prego au­mentou e é num quadro em que o de­sem­prego au­menta que estas me­didas fun­da­men­tais para a so­bre­vi­vência das fa­mí­lias são cor­tadas, sem a jus­ti­fi­cação de­vida, e esta é que é a questão cen­tral», en­fa­tizou o di­ri­gente do PCP.

 

Com­par­ti­ci­pação nos me­di­ca­mentos

 

Sus­ci­tada por Je­ró­nimo de Sousa foi também a al­te­ração das re­gras de com­par­ti­ci­pação dos me­di­ca­mentos. «Como é que se jus­ti­fica cortar duas vezes na com­par­ti­ci­pação dos me­di­ca­mentos?», per­guntou, in­con­for­mado com a de­cisão go­ver­na­mental de «li­mitar a com­par­ti­ci­pação de 100% dos me­di­ca­mentos ge­né­ricos para re­for­mados com re­formas in­fe­ri­ores ao sa­lário mí­nimo aos cinco mais ba­ratos», e, por outro lado, de «di­mi­nuir em 30% o preço de re­fe­rência, fa­zendo com que as po­pu­la­ções pa­guem uma parte maior do custo».

 

«Esta crise tem as costas largas, mas é nestas me­didas con­cretas que se vêem as op­ções do Go­verno e se per­cebe por que é que o PSD está de acordo com elas e com a im­po­sição de sa­cri­fí­cios ao povo por­tu­guês», ob­servou, antes de lem­brar esse aviso que foi a gran­diosa ma­ni­fes­tação do pas­sado dia 29, uma das mai­ores jor­nadas de pro­testo das úl­timas dé­cadas.


«Com a sua po­lí­tica não está a re­solver os pro­blemas do País, está a acen­tuar as de­si­gual­dade e as in­jus­tiças e é por isso que mais tarde ou mais cedo vai ser der­ro­tado», prog­nos­ticou, re­cor­dando a José Só­crates que «não só não está a cum­prir as pro­messas que fez ao elei­to­rado como está a acen­tuar um Por­tugal de in­jus­tiças, um País com di­fi­cul­dades eco­nó­micas, um País cada vez mais de­si­gual».



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