Conferência de Cabul

Ocupação eternizada

A con­fe­rência in­ter­na­ci­onal de Cabul, re­a­li­zada na terça-feira na ca­pital afegã, ad­mitiu a en­trega de al­gumas zonas às forças do país, mas tanto Clinton como a Nato dei­xaram claro que não sairão do ter­ri­tório.

Re­ti­rada do Afe­ga­nistão é pro­messa vã

Re­pre­sen­tantes de cerca de 60 países e or­ga­ni­za­ções in­ter­na­ci­o­nais pro­cla­maram o ob­jec­tivo de en­tregar o con­trolo de todas as pro­vín­cias às au­to­ri­dades afegãs até ao final de 2014, se­gundo se afirma no co­mu­ni­cado final desta «con­fe­rência de do­a­dores».

Con­tudo, Hi­lary Clinton, con­fir­mando a data de Julho do pró­ximo ano para o início de uma re­ti­rada das tropas norte-ame­ri­canas, fez questão de es­cla­recer que «esta data é o prin­cípio de uma nova fase, não o fim do nosso en­vol­vi­mento».

E para que não fi­cassem dú­vidas, a chefe da di­plo­macia do EUA acres­centou: «Não temos qual­quer in­tenção de aban­donar a nossa missão a longo prazo com vista a um Afe­ga­nistão es­tável, se­guro e pa­cí­fico».

A pre­sença norte-ame­ri­cana no país a «longo prazo» é assim o ob­jec­tivo da ad­mi­nis­tração Obama que, numa fase pós-guerra, pre­tende «pros­se­guir a ajuda ao de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico, o apoio ao treino, equi­pa­mento e as­sis­tência das forças de se­gu­rança afegãs», re­forçou ainda Clinton.

De resto, mesmo a data para a dita «tran­sição» também não é um dado ad­qui­rido. Clinton re­feriu-a como «uma tran­sição para as forças de se­gu­rança afegãs res­pon­sável e as­so­ciada a con­di­ções», ou seja, tudo de­pen­derá da evo­lução da si­tu­ação mi­litar no ter­reno.

Em sin­tonia com as pa­la­vras da se­nhora Clinton, o se­cre­tário-geral da NATO afirmou que «a tran­sição será feita gra­du­al­mente, com base numa ava­li­ação da si­tu­ação po­lí­tica e de se­gu­rança, de modo a que seja ir­re­ver­sível». Após o seu termo, pros­se­guiu An­ders Fogh Ras­mussen, «as forças in­ter­na­ci­o­nais não par­tirão. Pas­sarão sim­ples­mente a um papel de apoio».

Re­ti­rada sem data

A in­cer­teza das po­tên­cias ocu­pantes é de tal modo grande que a re­ti­rada das tropas não passa de uma mera de­cla­ração de in­ten­ções, sem data mar­cada, des­ti­nada apenas a acalmar as opi­niões pú­blicas in­ternas.

A prová-lo está a res­posta eva­siva do pri­meiro-mi­nistro bri­tâ­nico, David Ca­meron, que se li­mitou a dizer que pre­tende que o re­gresso das tropas do país co­mece a ser or­ga­ni­zado antes das elei­ções de 2015 no Reino Unido.

Após nove anos de com­bates, no Afe­ga­nistão en­con­tram-se ac­tu­al­mente 150 mil mi­li­tares de vá­rios países que in­te­gram a NATO. Os com­bates pros­se­guem com uma in­ten­si­dade cres­cente pro­vo­cando baixas sem pre­ce­dentes nas forças da «co­li­gação».

No pró­prio dia da con­fe­rência dois sol­dados das forças in­ter­na­ci­o­nais foram vi­ti­mados por minas no Sul do país. Du­rante a noite tra­varam-se in­tensos com­bates em Cabul. Vá­rios roc­kets atin­giram o bairro do ae­ro­porto, afec­tando o trá­fego aéreo e im­pe­dindo al­guns re­pre­sen­tantes de ater­rarem na ca­pital, como foi o caso do se­cre­tário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, e do chefe da di­plo­macia sueco, Carl Bildt, que ti­veram de re­correr à base ame­ri­cana de Ba­gram, a 50 qui­ló­me­tros a Sul da ca­pital.

Desde o início do mês 60 mi­li­tares es­tran­geiros en­con­traram a morte em terras afegãs, de­pois de em Junho as baixas se terem ele­vado a 102, um nú­mero re­corde. Só este ano per­deram a vida 302 mi­li­tares da co­li­gação. As forças ta­libãs ac­tuam em quase todo o ter­ri­tório apesar do re­forço con­tínuo dos con­tin­gentes in­ter­na­ci­o­nais, em par­ti­cular do ame­ri­cano.



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