PCP contra cortes na Cultura

Estado tem que assumir responsabilidades

Os cortes pre­vistos para a Cul­tura afectam um sector «de­vas­tado por mais de uma dé­cada de sub­fi­nan­ci­a­mento e as­fixia fi­nan­ceira», afirmou o PCP numa con­fe­rência de im­prensa re­a­li­zada na se­gunda-feira, 19.

Os cortes serão mai­ores do que aquilo que foi ini­ci­al­mente anun­ciado

Estes cortes terão con­sequên­cias na ac­ti­vi­dade das es­tru­turas e dos cri­a­dores e ou­tros tra­ba­lha­dores afec­tados, ao sig­ni­ficar uma «acres­cida frus­tração cri­a­tiva e pro­fis­si­onal, mais pre­ca­ri­e­dade e anu­lação de ex­pec­ta­tivas», afirmou o PCP, pela voz de José Ca­sa­nova, do Co­mité Cen­tral (acom­pa­nhado por Ma­nuel Gusmão, do mesmo órgão, e Maria D'Ávila, da Di­recção do Sector In­te­lec­tual de Lisboa).

O Mi­nis­tério da Cul­tura co­meçou por anun­ciar cortes de 10 por cento em todos os apoios atri­buídos, mas, como  lem­brou o PCP, tal in­tenção sus­citou desde logo um «amplo mo­vi­mento de con­tes­tação em todas as áreas afec­tadas». Isto levou o Go­verno a en­cenar não um, mas dois re­cuos: pri­meiro no sen­tido da re­dução dos cortes; de­pois na afir­mação de que não ha­veria cortes nos apoios atri­buídos.

Poucas horas de­pois do anun­ciado recuo ficou clara a «má-fé» do Go­verno, ex­pressa num outro anúncio – o da sus­pensão do con­curso para apoios pon­tuais para o se­gundo se­mestre do ano. Assim, para o PCP, o Mi­nis­tério da Cul­tura «trans­formou a sus­pensão de um corte de 10 por cento nos apoios atri­buídos num corte efec­tivo de 100 por cento nos apoios a atri­buir». Na opi­nião dos co­mu­nistas, só a «pro­funda in­sen­si­bi­li­dade cul­tural que também é marca da po­lí­tica de di­reita po­deria va­lo­rizar uma in­sig­ni­fi­cante pou­pança or­ça­mental face à perda cul­tural que fri­a­mente pre­tende levar a cabo».

Mas o agra­va­mento das res­tri­ções fi­nan­ceiras para o sector da Cul­tura não é uma ex­cepção, mas sim o «pros­se­gui­mento de uma po­lí­tica» que há muito vem sendo se­guida. Ao con­trário da­quilo a que se tinha com­pro­me­tido no seu pro­grama de Go­verno, o Or­ça­mento do Es­tado para 2010 «pros­se­guiu a po­lí­tica de de­sin­ves­ti­mento e de des­res­pon­sa­bi­li­zação do Es­tado na Cul­tura, de apro­fun­da­mento da linha mer­can­ti­li­za­dora de im­por­tantes do­mí­nios da po­lí­tica cul­tural», acusou ainda o PCP. Os nú­meros são re­ve­la­dores: o or­ça­mento para a cul­tura re­pre­senta, em 2010, apenas 0,29 por cento da des­pesa total do Es­tado e 0,14 por cento do PIB.

Pior do que os an­te­ri­ores

Se os poucos re­cursos vo­tados à Cul­tura são mo­tivo de pro­testo por parte dos co­mu­nistas, a sua des­pro­por­ci­onal dis­tri­buição é também alvo de crí­tica: 12 por cento do Or­ça­mento do Mi­nis­tério da Cul­tura é afec­tado a 11 fun­da­ções. Pros­se­guindo na linha da «em­pre­sa­ri­a­li­zação», o Mi­nis­tério anun­ciou a «ce­le­bração de con­tratos-pro­grama com as três en­ti­dades pú­blico-pri­vadas (EPE) exis­tentes para o triénio 2010-2012, pres­cin­dindo de qual­quer ava­li­ação desse mo­delo de gestão que, em par­ti­cular no que diz res­peito à OPART, é con­sen­su­al­mente tido como de­sas­troso», de­nun­ciam os co­mu­nistas. A Com­pa­nhia Na­ci­onal de Bai­lado, a braços com uma si­tu­ação muito di­fícil (e que põe em pe­rigo a sua pró­pria con­ti­nui­dade), é disto um fla­grante exemplo.

As par­ce­rias e o cheque-obra – formas en­con­tradas pelo Go­verno para pro­curar iludir a «enorme dis­tância entre o or­ça­mento e as ne­ces­si­dades fi­nan­ceiras ur­gentes do sector da Cul­tura» – já mos­traram não ser al­ter­na­tivas cre­dí­veis. No caso da re­cu­pe­ração e va­lo­ri­zação do pa­tri­mónio edi­fi­cado, estas me­didas têm o sig­ni­fi­cado con­creto de «con­denar áreas fun­da­men­tais no plano cul­tural aos re­mendos, à ruína ou à pri­va­ti­zação». Isto é igual­mente vá­lido para os ar­quivos, mu­seus e qual­quer outra área sob al­çada do Es­tado.

 Para o PCP, este Mi­nis­tério da Cul­tura «pode vir a ser ainda mais ne­ga­tivo do que os que o an­te­ce­deram». Se estes dei­xaram uma «pe­sada he­rança pelo que não fi­zeram», a equipa ac­tual pode deixar uma «he­rança pior pelo que já fez e pelo que venha a fazer». Al­gumas das suas me­didas, re­cordou-se, foram ob­jecto de «ge­ne­ra­li­zada crí­tica e re­pro­vação pú­blica» – de que são al­guns exem­plos a in­ter­venção na zona mu­se­o­ló­gico-mo­nu­mental de Belém, as ori­en­ta­ções dadas aos mu­seus, pa­lá­cios e te­a­tros na­ci­o­nais, a po­lí­tica do Pa­tri­mónio, a si­tu­ação dos tra­ba­lha­dores das artes do es­pec­tá­culo ou o pri­vi­légio às «in­dús­trias cul­tu­rais». O ac­tual mi­nis­tério mantém ainda a ori­en­tação que en­volve con­jun­ta­mente o Museu dos Co­ches, o Museu de Ar­que­o­logia e os ser­viços téc­nicos do ex-IPA, trans­fe­ridos para o MARL.


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