A regra e a sua excepção

Jorge Cordeiro

Da maré de es­tudos e aná­lises, sempre acom­pa­nhados das de­vidas pro­jec­ções e cor­res­pon­dentes pre­vi­sões que a partir dos cen­tros de gestão ca­pi­ta­listas vão bro­tando, deu à costa novo exem­plar. Este da OCDE, con­ce­bido a partir de uns de­no­mi­nados in­di­ca­dores dos ci­clos eco­nó­micos que, su­jeitos a apu­rado exame e ci­en­tí­fico es­cru­tínio por um não pouco nu­me­roso lote de cre­den­ci­ados in­ves­ti­ga­dores eco­nó­micos, con­duziu à tão tra­ba­lhosa quanto sur­pre­en­dente con­clusão de que «os pró­ximos meses vão ser di­fí­ceis». Sem des­primor para o labor in­ves­tido em tão apu­rado es­tudo, sempre se dirá que com mais ru­di­men­tares re­cursos, sem co­nhe­ci­mentos em fór­mulas ou equa­ções e por mera em­pí­rica cons­ta­tação de vida, já um lote imenso de leigos em ma­téria eco­nó­mica havia al­can­çado tal coisa. Em regra bas­taria olhar para o que resta de sa­lário a meio do mês, exa­minar o cabaz das com­pras ne­ces­sá­rias e olhar para o fundo que foi pos­sível co­brir, sentir o peso do cré­dito nos or­ça­mentos fa­mi­li­ares dis­po­ní­veis ou co­nhecer a an­gústia da au­sência de ren­di­mentos entre os que con­ti­nuam sem ter acesso a em­prego para se dis­pensar o que, em tom de sen­tença, a OCDE con­cluiu. Ficou dito em regra, para lhe poder juntar a ex­cepção que como é sa­bido, e não menos pro­vado, toda aquela tem para poder ser o que é. É que a ver­dade in­con­tes­tável dos tempos di­fí­ceis que a OCDE pres­sagia para muitos, teima em não se aplicar para al­guns. A venda re­corde de carros de luxo em Por­tugal aí está para provar que não há crise que chegue a um mer­cado que, não ofe­re­cendo exem­plares a preço in­fe­rior aos 150 mil euros, apre­senta no pri­meiro se­mestre deste ano o ex­pres­sivo au­mento de vendas su­pe­rior a 50%. Para não juntar o que mais se podia juntar para dar ex­cepção à regra, sempre se pre­ve­nirá que é pre­ci­sa­mente por de­trás de ar­di­losas con­clu­sões, feitas regra, como a agora re­ve­lada pela OCDE que se im­põem as po­lí­ticas do­mi­nantes do ca­pital sob as quais ger­mina a con­cen­tração e opu­lência dos lu­cros e da ri­queza.



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