Idade da reforma

Trabalhar até à cova

Depois de grande parte dos governos da UE terem elevado a idade de reforma para além dos 65 anos, os grupos de pressão que representam os grandes interesses económicos voltam à carga, procurando que os trabalhadores acedam cada vez mais tarde a este seu direito. O pretexto é sempre o mesmo – o suposto acentuado aumento da esperança de vida.

Na sequência de uma proposta apresentada em Julho pela Comissão Europeia, na qual o executivo comunitário considera que os 27 estados-membros precisam de elevar a idade de reforma para os 70 anos até 2060, na semana passada, na Alemanha, porta-vozes dos chamados think tank (grupos de pesquisa e influência política) voltaram a insistir nesta ideia, garantindo que mais cedo ou mais tarde será aplicada.

Porém, não tardou a reacção por parte de uma associação alemã de defesa dos direitos dos reformados (VdK), que justamente veio apontar várias contradições àqueles que falam da necessidade de prolongar a vida activa.

Como sublinhou Ulrike Mascher, dirigente do grupo VdK, (Lusa, 11.08) a ideia de elevar a idade de reforma para os 70 anos é «utópica», já que um quarto dos alemães com idades entre 55 e 59 são hoje obrigados a reformar-se antecipadamente porque estão demasiado doentes para trabalhar.

Acresce que, com o aprofundamento da crise do capitalismo, o mercado de trabalho continua a contrair-se, e não só não consegue absorver uma parte significativa dos jovens que desejam ingressar na vida activa (ver pág. 24), como exclui um número cada vez maior de trabalhadores antes de atingirem a idade da reforma. A realidade mostra que apenas um quinto dos desempregados alemães com 60 anos ou mais consegue encontrar emprego, segundo dados da VdK.

Nos próprios Estados Unidos, a Segurança Social registou em 2009 um número recorde de pedidos de reforma antecipada – 2,74 milhões. Isto porque dada a impossibilidade em encontrar emprego, esta parece ser a única solução para muitos norte-americanos.

Na Alemanha, a idade mínima irá passar para os 67 anos. Na Inglaterra, o governo tenciona colocar o limite nos 68 anos, Em França, a fasquia é colocada para já nos 62 anos. Espanha e Holanda discutem passar dos 65 para 67 anos, e mesmo na Suécia o governo conservador já propôs subir para os 70 anos o acesso à pensão completa.

Mas, como está bem de ver, a questão não é prolongar a vida activa, mas reduzir e, se possível, eliminar uma conquista histórica dos trabalhadores – o direito à reforma.



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