Soldados ocupantes substituídos por mercenários

A falsa retirada do Iraque

Os EUA con­fir­maram que o nú­mero de sol­dados pre­sentes no Iraque é o menor desde o início da in­vasão do país, em 2003. O facto está a ser usado como ma­nobra de pro­pa­ganda com o ob­jec­tivo de es­conder a ma­nu­tenção de uma força ocu­pante e a subs­ti­tuição de sol­dados por mer­ce­ná­rios.

«O total de em­presas de se­gu­rança vai du­plicar»

 A de­cla­ração de Ba­rack Obama, anun­ci­ando o fim da missão de com­bate na­quele ter­ri­tório e o início de «ope­ra­ções con­tra­ter­ro­ristas» le­vadas a cabo por uma «força de tran­sição» até à re­ti­rada «das tropas norte-ame­ri­canas em 2011», já havia feito as pa­ran­gonas no início do mês de Agosto. Mas o que en­cheu com es­trondo as man­chetes dos meios de co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante foi a con­fir­mação de que os EUA man­ti­nham no Iraque o menor nú­mero de sol­dados desde o início da guerra contra aquele país.

Efec­ti­va­mente, com a re­ti­rada da quarta bri­gada para o Kuwait e a trans­fe­rência de ho­mens e meios de guerra da­quele país do Médio Ori­ente para o também ocu­pado Afe­ga­nistão, o total de sol­dados de Washington ronda os 55 mil, po­dendo mesmo ser re­du­zido para 50 mil até ao pró­ximo dia 31 de Agosto.

Mas quanto a factos cor­res­pon­dentes com a re­a­li­dade, fi­camo-nos por aqui. É que à bo­leia do aban­dono de uma parte do con­tin­gente – im­porta não es­quecer que se man­terão no Iraque 50 mil mi­li­tares es­tran­geiros – o go­verno dos EUA apro­veita para fazer crer que a força re­ma­nes­cente dei­xará de re­a­lizar ope­ra­ções de com­bate, pas­sando apenas a prestar treino aos mi­li­tares ira­qui­anos, e que o prazo li­mite para o aban­dono de­fi­ni­tivo é o ano de 2011.


De­cla­ra­ções ocul­tadas


Ora a ver­dade é que para fun­ci­o­ná­rios de ele­vada res­pon­sa­bi­li­dade, como o co­man­dante mi­litar David Pa­treus, os EUA não só não estão a sair do Iraque como con­servam «uma enorme ca­pa­ci­dade [ope­ra­tiva]», disse em en­tre­vista à
CBS.

No mesmo sen­tido, a Inter Press Ser­vice apurou junto de fontes li­gadas às altas es­feras go­ver­na­men­tais que os 50 mil sol­dados re­ma­nes­centes não con­fi­narão as suas mis­sões a treinos ou a ope­ra­ções de de­fesa do pes­soal e ins­ta­la­ções norte-ame­ri­canas.

Quem pa­rece ter também ig­no­rado as pa­la­vras do pre­si­dente foi o se­cre­tário de im­prensa do ge­neral Pa­treus, Geoff Mor­rell, su­bli­nhando «que eu saiba nin­guém de­clarou o fim da guerra».

No mesmo sen­tido, para o vice-as­sis­tente do se­cre­tário da De­fesa, Colin Khal, os EUA estão no Iraque «para ficar por muito tempo» e qual­quer de­cisão está sus­pensa até «ver o que o go­verno ira­quiano vai fazer».

A frase, apa­ren­te­mente enig­má­tica, tem vindo a ser des­cons­truída na im­prensa norte-ame­ri­cana, a qual es­pe­cula sobre a pos­si­bi­li­dade do fu­turo go­verno do ter­ri­tório pre­parar um novo pe­dido de per­ma­nência dos EUA no país assim que tomar posse.


Em­presas de se­gu­rança du­plicam


Acresce que a ma­nu­tenção de de­zenas de mi­lhares de sol­dados no Iraque - nas pa­la­vras de quem manda por largo tempo e com as fun­ções que agora cum­prem - é acom­pa­nhada pela subs­ti­tuição dos sol­dados re­ti­rados por mi­lhares de mer­ce­ná­rios ao ser­viço de em­presas de se­gu­rança.

A de­cisão de subs­ti­tuir a força mi­litar para uma outra «civil» foi to­mada numa reu­nião de altos res­pon­sá­veis mi­li­tares norte-ame­ri­canos, ocor­rida a 19 de Julho deste ano, em­bora tal só tenha sido cla­ra­mente ad­mi­tido a partir de 16 de agosto.

O plano é dar ao De­par­ta­mento de Es­tado um papel mais efec­tivo na co­or­de­nação das ope­ra­ções e mantê-lo li­gado às em­presas de se­gu­rança pri­vadas. Estas dotar-se-ão de he­li­cóp­teros, carros de com­bate e ca­pa­ci­dade para operar ra­dares, de forma a po­derem pedir ata­ques aé­reos e pi­lo­tarem ae­ro­naves não tri­pu­ladas, in­formou o New York Times.

A du­pli­cação do nú­mero de em­presas con­tra­tadas no Iraque não é uma hi­pó­tese. O porta-voz do de­par­ta­mento de Es­tado, P.J. Cro­wley, ad­mitiu que o total de em­presas con­tra­tadas no Iraque pode as­cender a sete mil, ad­mi­tindo, igual­mente, que os EUA «têm planos muito es­pe­cí­ficos para as­se­gurar a se­gu­rança quando os mi­li­tares par­tirem».

Ac­tu­al­mente estão no Iraque 112 mil mer­ce­ná­rios ao ser­viço de di­versas com­pa­nhias, aos quais se juntam mais de 11500 in­di­ví­duos ins­critos como se­gu­ranças pri­vados e pelo menos 1200 a tí­tulo de con­se­lheiros de se­gu­rança, adi­antou, por seu lado o Guar­dian.


O novo papel da CIA 

 

De acordo com o New York Times, a agência de ser­viços se­cretos norte-ame­ri­cana está a as­sumir cada vez mais um ca­rácter pa­ra­mi­litar, apro­fun­dando, a partir da en­trada em fun­ções de Ba­rack Obama, a re­a­li­zação de ata­ques com aviões não-tri­pu­lados e a eli­mi­nação de sus­peitos de ter­ro­rismo.

O as­sessor do pre­si­dente dos EUA, Jonh Brennan, qua­li­fica as novas di­rec­trizes como uma subs­ti­tuição da po­lí­tica do mar­telo pela do bis­turi.

Para além disso, a li­gação a em­presas de ser­viços de se­gu­rança também se in­cre­mentou, so­bre­tudo no Pa­quistão e no Norte de África com a con­cre­ti­zação de ope­ra­ções en­co­bertas de de­tenção e as­sas­si­nato de ale­gados grupos ex­tre­mistas.

 



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