11 de Setembro, dia da Solidariedade

John Catalinotto

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Milhares de pessoas concentraram-se a 11 de Setembro no City Hall Park, próximo do World Trade Center, em solidariedade com a comunidade muçulmana na sua luta pela construção de um Centro Comunitário Islâmico naquele local. Com esta iniciativa começa-se a redefinir o 11 de Setembro como um dia de solidariedade com os que são vítimas do racismo e da intolerância. Cerca das 15h, o número de participantes na manifestação unitária já ultrapassava largamente o dos manifestantes da muito publicitada concentração antimuçulmana convocada pelo Tea Party, que contesta a construção do centro. Outras centenas de manifestantes anti-racistas cercaram o Tea Party e deixaram clara a oposição à sua mensagem de ódio.

Justamente duas semanas antes o gang anti-muçulmano tinha conseguido a atenção dos média e investido largas somas em publicidade para divulgar a sua acção. Para além disso, o pastor de uma seita obscura e reaccionária de Gainesville, na Flórida, ganhou notoriedade ao intimar os seus seguidores a queimar 200 cópias do Corão no 11 de Setembro. Estas manifestações de racismo são o rastilho capaz de desencadear os ataques físicos aos muçulmanos nos EUA. E contribuem também para criar uma crise política internacional.

Em países com largas comunidades muçulmanas como a Indonésia e o Paquistão, milhares de pessoas começam a protestar junto das representações diplomáticas dos EUA contra a intolerância e a xenofobia. No Afeganistão, as manifestações têm como alvo as bases da NATO. Washington tem utilizado a propaganda antimuçulmana para angariar apoio para a ocupação do Iraque e do Afeganistão e para as suas ameaças contra o Irão. Mas os excessos internos contra os muçulmanos debilitaram as ocupações militares norte-americanas. Na semana anterior ao 11 de Setembro, o general David Petraeus e o secretário da Defesa Robert Gates exigiram que o pastor de Gainesville, Terry Jones, cancelasse a queima de livros.

Entretanto as forças progressistas norte-americanas organizaram-se para pôr fim aos ataques contra os muçulmanos e também, em Nova Iorque, para denunciar o papel da multimilionária organização que está por trás do Tea Party, que procura apresentar-se como representativo dos trabalhadores. Em Gainesville, 300 pessoas desfilaram contra a ameaça de queimar exemplares do Corão, numa iniciativa levada a cabo pela Gainesville Area Students por uma Sociedade Democrática. Houve igualmente manifestações de solidariedade com os muçulmanos em Asheville, N.C., Minneapolis, Chicago e Búfalo, Nova Iorque. Em Haia, na Holanda, o grupo «Não queremos exclusão» protestou contra o político antimuçulmano Geert Wilders, que interveio na iniciativa do Tea Party em Nova Iorque.

Em Nova Iorque, cidade que acolhe mais nacionalidades do que qualquer outra do mundo, todas pareciam estar representadas na multidão que respondeu ao apelo de Mobilização de Emergência Contra o Racismo e a Intolerância Antimuçulmana. Pessoas de Boston, Washington e outras juntaram-se aos nova-iorquinos numa manifestação de força do movimento anti-racista que mobiliza jovens e menos jovens, gente de todas as cores da cidade e da região, firmes e determinadas. Os manifestantes exibiram o espírito de unidade e cooperação cantando, desfilando e empenhando-se em deixar tudo limpo no fim do dia de luta.

A co-coordenadora do International Action Center, Sara Flounders, uma das presidentes da manifestação, afirmou que «10 000 pessoas se juntaram aqui hoje, vindas de dúzias de comunidades da cidade. Elas representam organizações de vizinhos, grupos muçulmanos, cristãos, judeus e budistas, associações políticas e grupos contra a guerra e de defesa dos direitos humanos. Muitos trabalhadores ostentam a sua filiação sindical nas camisolas. Organizámos um desfile e mostrámos que uma significativa parte da cidade não permite que os racistas se apropriem do 11 de Setembro».

A mensagem deixada pelos cerca de 50 líderes comunitários a esta acção foi de solidariedade com a comunidade muçulmana e de unidade com todas as forças na luta contra o racismo e os bodes expiatórios, e contra a guerra que os EUA travam no estrangeiro. Um dos oradores, Larry Holmes, do Movimento de Assistência às Pessoas, disse: «Nós trouxemos para a rua a verdadeira cidade de Nova Iorque – a cidade dos trabalhadores e das pessoas de cor de todas as partes do mundo. Esta mobilização começou porque fomos forçados a defender os nossos irmãos e irmãs muçulmanos. Mas vai continuar sempre que localmente lutarmos pelo direito ao trabalho, à educação e aos benefícios sociais.»



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