Trapalhadas, trapalhões e o reino do despudor
Há muito que para o PCP ficou bem definido o carácter integrado do regime democrático nas suas diferentes componentes – económica, social, política e de soberania, resultando daí que o ataque a uma dessas componentes se traduziria no empobrecimento das restantes. A vida tem vindo a comprovar a validade desta tese e os últimos anos de Governo PS dão-lhe ainda maior relevo.
Sucessivos casos de corrupção e suspeição acompanham a degradação do regime democrático, são parte integrante e peças desse ataque e, simultaneamente, consequência dessa mesma degradação. Naturalmente que assim sendo, intensifica-se a acção de mistificação e branqueamento dos responsáveis por esse rumo degradante. Nenhum sector de actividade escapa a essa operação e a área do reequipamento militar tem estado, e continuará a estar, à tona. Sobre os diversos negócios envolvidos em nebulosas (em que será mais fácil dizer os que não o estão) tem-se ouvido as coisas mais mirabolantes, as justificações mais caricatas e argumentos de «chorar», porque falamos de milhões de euros dos impostos pagos pelos portugueses e essa teoria que invade alguns cérebros, de que os portugueses não devem questionar o dinheiro gasto nas forças armadas é uma aberração. O ministro da Defesa foi com discrição meter a bandeira no submarino Trident, mas embora há muito o PCP tenha vindo, repetidamente, a questionar sobre quais os custos de manutenção do referido equipamento, até hoje nada foi dito. É que não basta comprar, é preciso manter.
Enquanto aguardamos que a justiça diga de sua justiça sobre o processo negocial que conduziu à compra dos submarinos e enquanto ficamos também a aguardar o «quando», o «como» e em «quê» se concretizam as contrapartidas, surge o chamado mail de Portas aos militantes. Ou seja, um mail para a comunicação social dar notícia. E deu! Vejam lá que, afinal, havia um equívoco: os submarinos são do tempo do Governo PS/Guterres. O Governo PSD/CDS herdou «a coisa» e até conseguiu passar as aquisições de quatro para dois. Fantástico… É grande o despudor e a falta de rigor de um certo tipo de jornalismo pronto a comer. Aonde ficam os acordos feitos na altura entre o Governo Guterres e o CDS-PP, metendo a Lei de Programação Militar (LPM) e o assunto dos ex-combatentes? Quem votou a LPM?
Percebe-se o incómodo que percorre Portas e o CDS-PP (e regista-se o curioso silêncio que invade o CDS-PP acerca de todas estas tristes e preocupantes peripécias entre as figuras de topo do Ministério Público), mas por mais que Portas sacuda as suas responsabilidades e conivência nas opções tomadas (assim como o PSD), ele têm-nas, estão-lhe coladas. Como estão coladas as responsabilidades sobre as Pandur, sobre os helicópteros e sobre os milhares de ex-combatentes que viram ser-lhes retirados direitos que tinham, depois dos imbróglios que Portas, na lógica da caça ao voto, arranjou.