No arranque do ano lectivo, velhos e novos problemas

Escola Pública debaixo de fogo

O PCP con­denou a acção do Go­verno em ma­téria de edu­cação, con­si­de­rando que as me­didas por este adop­tadas apro­fundam uma linha de ataque sem pre­ce­dentes à Es­cola Pú­blica.

Go­verno des­fi­gura a Es­cola Pú­blica

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Em causa está so­bre­tudo o re­or­de­na­mento da rede es­colar, bem como a per­sis­tente ofen­siva contra os pro­fes­sores e seus di­reitos, a par de uma in­su­fi­ci­ente e cada vez mais frágil acção so­cial es­colar.

Na aber­tura de mais um ano lec­tivo, em de­cla­ração po­lí­tica pro­fe­rida no ple­nário que deu início à ac­tual sessão le­gis­la­tiva, foram aqueles os prin­ci­pais pro­blemas iden­ti­fi­cados pela de­pu­tada co­mu­nista Rita Rato.

No caso do re­or­de­na­mento, ao fe­char mais de 700 es­colas e impor à co­mu­ni­dade edu­ca­tiva a cri­ação de 86 mega-agru­pa­mentos, o Go­verno com­portou-se como um ver­da­deiro «bull­dozer», mo­ti­vado apenas por «ra­zões eco­no­mi­cistas e clas­sistas que visam de­sin­vestir na edu­cação e des­fi­gurar a Es­cola Pú­blica».

Essa é a con­vicção da par­la­mentar do PCP, que não deixou de notar que a ins­ta­lação e fun­ci­o­na­mento destes mega-agru­pa­mentos tem sido mar­cada por me­didas pro­fun­da­mente ne­ga­tivas, como é a re­dução drás­tica do cré­dito de horas para apoio aos alunos com di­fi­cul­dades. Exemplo disso é o mega-agru­pa­mento de Castro D´Aire, onde essa di­mi­nuição foi de 220 horas para 18 horas.

Ver­dades que por serem in­có­modas não agra­daram vi­si­vel­mente à ban­cada do PS que, pela voz da sua de­pu­tada Paula Barros, tentou de­fender a po­lí­tica do Go­verno re­cor­rendo ao velho chavão de que o PCP está sempre contra «tudo o que im­plique mudar ou re­formar». E in­sistiu nas ale­gadas vir­tudes do re­or­de­na­mento da rede es­colar, di­zendo que vem criar «me­lhores con­di­ções a mi­lhares de alunos».

«Para este Go­verno mo­der­ni­zação tec­no­ló­gica é fe­char mais de 3500 es­colas desde 2005», su­bli­nhara já antes Rita Rato, antes de acusar o Mi­nis­tério sob a tu­tela de Isabel Al­çada de «mandar às ur­tigas o pri­mado pe­da­gó­gico, so­cial e de de­sen­vol­vi­mento re­gi­onal», con­tri­buindo si­mul­ta­ne­a­mente para a «de­ser­ti­fi­cação do País».


Ataque aos pro­fes­sore


Con­de­nação firme da par­la­mentar co­mu­nista me­receu também o que clas­si­ficou de «ataque aos pro­fes­sores», tra­du­zido, em sua opi­nião, na «des­va­lo­ri­zação da car­reira», mais pre­ca­ri­e­dade, baixos sa­lá­rios e de­sem­prego. E frisou, a pro­pó­sito, que desde 2007 por cada 38 pro­fes­sores que saíram do quadro por apo­sen­tação apenas um nele deu en­trada.

Alvo de crí­tica se­vera foi ainda a in­sis­tência do Exe­cu­tivo PS em manter «este mo­delo de ava­li­ação dos pro­fes­sores», a fun­ci­onar como «travão ad­mi­nis­tra­tivo de pro­gressão na car­reira». Igual­mente ina­cei­tável, na pers­pec­tiva do PCP, é a exis­tência de «ho­rá­rios de tra­balho de­su­manos» que trans­formam os pro­fes­sores «em ta­re­feiros ad­mi­nis­tra­tivos», a par do au­mento do nú­mero de alunos por turma (in­cluindo nas que in­te­gram alunos com ne­ces­si­dades edu­ca­tivas es­pe­ciais), sem falar no mo­delo de gestão es­colar cres­cen­te­mente «menos par­ti­ci­pa­tivo e menos de­mo­crá­tico».

Re­fe­ren­ci­adas, a tí­tulo de exemplo, foram a Es­cola EB1 São Bar­to­lomeu (Coimbra) onde há dois fun­ci­o­ná­rios para cerca de 80 alunos, muitos com ne­ces­si­dades edu­ca­tivas es­pe­ciais, en­quanto na Es­cola Bá­sica In­te­grada 1.º, 2.º e 3.º Ciclo da Quinta da Boa Água (Se­simbra) são três os fun­ci­o­ná­rios para um total de 800 alunos.

Exem­plos que elu­cidam bem sobre o pro­pó­sito de «li­qui­dação da es­cola pú­blica e de­mo­crá­tica» que anima PSD e PS, com este a fazer no Go­verno o que cri­tica no pro­jecto de re­visão cons­ti­tu­ci­onal la­ranja, como sa­li­entou Rita Rato, des­mon­tando assim a mal en­ce­nada «zanga de co­ma­dres» que ambos pro­ta­go­nizam. 

 

Apoios so­ciais in­su­fi­ci­entes

 

O ca­rácter ir­ri­sório dos apoios da acção so­cial es­colar me­receu também a dura crí­tica da ban­cada co­mu­nista. «O que devia ser um ins­tru­mento para con­cre­tizar a igual­dade de opor­tu­ni­dades é um apoio cla­ra­mente in­su­fi­ci­ente para muito poucos que con­se­guem ter acesso», su­bli­nhou Rita Rato, que con­si­derou ainda uma «ofensa às fa­mí­lias» os au­mentos in­sig­ni­fi­cantes de 10 cên­timos até 1,60 € de com­par­ti­ci­pação para ma­nuais es­co­lares e a de­cisão de manter inal­te­rados os va­lores para o ma­te­rial es­colar e alo­ja­mento.

O que é tanto mais grave quanto é certo que os custos de frequência e acesso ao en­sino não têm pa­rado de subir, si­tu­ando-se hoje em média na casa dos 625 euros, sendo que no en­sino su­pe­rior só nos úl­timos nove anos o valor das pro­pinas au­mentou mais de 300 por cento, fruto de uma po­lí­tica de «des­res­pon­sa­bi­li­zação do Es­tado» e, por via disso, de con­se­quente «sub­fi­nan­ci­a­mento cró­nico».

 

Por ma­nuais es­co­lares gra­tuitos


Ga­rantir a dis­tri­buição gra­tuita dos ma­nuais es­co­lares no en­sino obri­ga­tório, já no pre­sente ano lec­tivo (com a de­vo­lução às fa­mí­lias do mon­tante en­tre­tanto gasto), eis uma das me­didas pre­vistas em pro­jecto de lei do PCP já en­tregue no Par­la­mento.

Pre­vista para breve está igual­mente a apre­sen­tação de uma outra ini­ci­a­tiva le­gis­la­tiva, con­tem­plando a gra­tui­ti­dade de todo o en­sino pú­blico, por forma a per­mitir o acesso de todos os por­tu­gueses à edu­cação.

A ban­cada do PCP dá assim um con­tri­buto efec­tivo no sen­tido da de­fesa do di­reito de acesso ao co­nhe­ci­mento, di­reito que só uma «Es­cola Pú­blica uni­versal, gra­tuita, de qua­li­dade e de­mo­crá­tica» está em con­di­ções de as­se­gurar.

 

 



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