Viva a Greve Geral

«A luta continua!»

João Dias Coelho

Podem escrever e dizer o que quiserem; podem até dizer que não há à luta ou que lutar não vale a pena; podem ocultar, desvirtuar o valor dessa luta – mas o que não podem nem conseguem esconder é que ela existe e está aí com toda a sua pujança exprimindo as contradições de interesses entre aqueles que trabalham e produzem a riqueza e aqueles que, donos dos meios de produção e da alta finança, se apropriam de forma escandalosa do valor do trabalho.

A tomada de consciência é necessariamente um processo complexo e moroso

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Apesar da ladainha, dos atropelos, da pressão e ameaças aos trabalhadores e da enorme campanha ideológica que vendendo a tese da compreensão quanto ao direito do exercício da greve, logo recorrem ao arsenal argumentativo do costume com vista à sua desvalorização, a Greve Geral do dia 24 de Novembro constituiu um enorme êxito para os trabalhadores e para o prosseguimento da luta.

Digam, pois, o que disserem que aqueles que participaram sabem que ali, em cada empresa e local de trabalho, muitos dos seus companheiros de trabalho pararam demonstrando ao Governo e ao grande patronato base de sustentação do poder político burguês a força da sua razão e do seu querer para acabar com as injustiças, trilhando um caminho novo, o caminho de Abril.

Cada trabalhador que aderiu à Greve Geral contou e contará com a força da razão, com a solidariedade dos seus companheiros de trabalho, com apoio do Movimento Sindical Unitário e do PCP, não esteve nem estará sozinho na luta. Vencer o medo de perder o emprego e de represálias é um acto de coragem e de dignidade de cada um que encontrou e encontrará na força colectiva a força para derrotar o medo e a repressão.

Milhares de trabalhadores de variados sectores deram mais uma vez voz ao seu descontentamento, recusando a política das inevitabilidades que faz sempre recair sobre os mesmos o peso da factura de uma crise para a qual não contribuíram, reclamando em simultâneo uma nova política que aposte na produção nacional, no investimento público na dinamização da economia, na criação de emprego com direitos e em salários que valorizem o trabalho e os trabalhadores.

A Greve Geral de 24 de Novembro foi um acto de grande importância na luta dos trabalhadores portugueses. Mas um acto que não foi isolado, que não nasceu de geração espontânea. Ela teve atrás de si um enorme caudal de lutas de empresa e sector convocadas pelos sindicatos de classe e de lutas gerais convergentes convocadas pela CGTP-IN que expressaram de forma clara o descontentamento com o caminho e o rumo de desastre nacional e de exploração, a que o poder e os apoiantes da sua política como o PSD, o CDS-PP e o grande patronato conduziram o País.

Que se desenganem os senhores do dinheiro: a Greve Geral não fechou o ciclo da luta, antes rasgou novos horizontes, despertou consciências, fortaleceu convicções para a luta que vai ter que continuar pela ruptura e a mudança, pela justiça social, pela democracia e o socialismo.

 

O contributo dos comunistas

 

Cada trabalhador, cada homem e mulher que participou numa luta na sua empresa e deu o passo de aderir à Greve Geral pela primeira vez deu um passo de gigante e, independentemente da suas opções políticas e ideológicas passadas ou presentes, nada ficará na mesma. Milhares de trabalhadores perceberam ou perceberão o lado da barricada em que cada um se encontra; perceberam ou perceberão que os seus interesses de classe não são os mesmos daqueles que os exploram, nem do poder político que se coloca sempre ao lado dos mais poderosos agindo contra a maioria do povo.

Esta tomada de consciência, sendo um processo que se adquire na luta, é necessariamente um processo complexo e moroso, mas será tão mais rápido quanto mais força organizada, interventiva e mobilizadora no plano social e político existir lá, ou seja, nas empresas e locais de trabalho, onde em primeiro lugar se trava o confronto de classe entre capital e o trabalho.

A luta contra a política de direita, em defesa dos direitos colectivos dos trabalhadores e da população,contra a exploração capitalista, em defesa da independência e a soberania nacional, não é separável da existência de um Partido de classe – o Partido Comunista Português, do seu projecto de transformação da sociedade, da acção e intervenção de milhares de comunistas nas empresas e locais de trabalho em defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo.

Com rigor podemos dizer que os comunistas portugueses, lado a lado com milhares de homens e mulheres que todos os dias lutam em defesa dos seus companheiros de trabalho no movimento sindical de classe, unitário, democrático, independente e de massas, deram e darão um contributo inestimável para o êxito de todas as lutas, para o êxito da Greve Geral.

Êxito que não é mensurável – quer nesta quer noutras lutas – muitas vezes pelos efeitos imediatos, mas sim pelo aviso ao poder político e económico que constituiu desde a sua marcação até à sua realização, pelos caminhos e possibilidades que abriu para o reforço da organização sindical e da organização do Partido da classe operária e de todos os trabalhadores e para a continuação da luta contra as injustiças e a exploração, por um novo rumo para o País. A luta continua!



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