Uma luta que não se deixa esconder

Vasco Cardoso

Outra coisa não se es­pe­raria da parte da co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante e do­mi­nada, mas mal es­taria a nossa cons­ci­ência se per­dês­semos a ca­pa­ci­dade de in­dig­nação pe­rante o tipo de abor­dagem no­ti­ciosa que foi re­a­li­zada nos úl­timos dias, seja a pro­pó­sito da ma­ni­fes­tação contra a NATO seja na co­ber­tura da gran­diosa Greve Geral de 24 de No­vembro.

Num e noutro caso, a ac­tu­ação da co­mu­ni­cação so­cial – com va­ri­a­ções no tom e nos ar­gu­mentos – visou o mesmo ob­jec­tivo: con­di­ci­onar a par­ti­ci­pação pri­meiro para di­mi­nuir a di­mensão e sig­ni­fi­cado po­lí­tico de­pois.

Num e noutro caso esses ob­jec­tivos foram der­ro­tados. Não só a ma­ni­fes­tação contra a NATO foi uma das mais im­por­tantes jor­nadas de luta pela Paz, como a Greve Geral foi uma das mais po­de­rosas jor­nadas de luta dos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses desde o 25 de Abril. Convém no en­tanto não es­quecer tudo aquilo que foi pre­ciso vencer para cons­truir estas jor­nadas de luta.

Ao longo de se­manas de­sen­volveu-se uma cam­panha de ver­da­deiro ter­ro­rismo in­for­ma­tivo. Ao mesmo tempo que ocul­tavam a na­tu­reza e papel da NATO e es­ten­diam a pas­sa­deira aos di­ri­gentes das grandes po­tên­cias im­pe­ri­a­listas, de­sen­volvia-se uma cam­panha nos media, vi­sando iden­ti­ficar a luta pela PAZ com a acção de grupos pro­vo­ca­dores e na qual se in­seria também a exi­bição per­ma­nente de ima­gens de exer­cí­cios das forças po­li­ciais a in­tervir sobre ma­ni­fes­tantes, quase que na­tu­ra­li­zando a re­pressão e o medo. O dia da ma­ni­fes­tação, apesar das mais de 30 mil pes­soas que des­fi­laram na Ave­nida da Li­ber­dade, não foi di­fe­rente. Na falta de «in­ci­dentes» e de umas «mon­tras par­tidas» op­taram pelo si­len­ci­a­mento da ma­ni­fes­tação da cam­panha «Paz Sim. Nato não».

Mais di­fícil foi es­conder a di­mensão da Greve Geral. Não que não ti­vessem sido en­sai­ados nu­me­rosos e ve­lhos ex­pe­di­entes vi­sando pro­jectar a ideia, não só da «ine­vi­ta­bi­li­dade» da ac­tual po­lí­tica mas, so­bre­tudo, da «inu­ti­li­dade» da luta: son­da­gens que ga­ran­tiam que os por­tu­gueses não fa­ziam greve; contas e mais contas sobre os «mi­lhões» que esta custa; de­bates, en­tre­vistas e de­cla­ra­ções sem fim, vi­sando a des­mo­bi­li­zação dos tra­ba­lha­dores. Con­di­ci­o­na­mentos que se so­maram à pressão e chan­tagem re­a­li­zada sobre mi­lhares de tra­ba­lha­dores nos lo­cais de tra­balho. Mas a di­mensão da Greve Geral der­rotou esses ob­jec­tivos. Bem podem Go­verno e pa­tro­nato tentar di­mi­nuir o sig­ni­fi­cado desta jor­nada. Esta greve foi uma po­de­rosa afir­mação da de­ter­mi­nação dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês e uma só­lida ga­rantia de que a luta con­tinua...para o fu­turo.



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