Campanha no País real
Francisco Lopes participou, sexta-feira, em iniciativas de campanha que demonstram que é o único candidato à Presidência da República que contacta o País real, com a confiança de que é possível transformá-lo.
«Não é indiferente quem exerce o cargo de Presidente da República»
A inaugurar a apertada agenda de actividades previstas para o Norte do distrito aveirense, Francisco Lopes encontrou-se, ao início da tarde, com pequenos e médios agricultores no salão da Junta de Freguesia da Válega. O prato forte eram as dificuldades do sector leiteiro, mas os relatos de uma agricultura deprimida assentaram como um murro em estômago vazio.
Convidados a participar no debate, dois dirigentes da Associação da Lavoura do Distrito de Aveiro esboçaram o quadro negro do sector. Em seguida, Francisco Lopes lembrou que o Presidente da República «deve tomar a iniciativa», em vez de «manter o País no rumo destrutivo da nossa produção, particularmente evidente no sector primário em resultado de décadas de abdicação nacional imposta pela União Europeia».
Mais que evidente é o défice cerealífero, que conduz à dependência das grandes multinacionais. E não são apenas os consumidores que o sentem nos constantes aumentos do preço do pão, os agricultores também sofrem as consequências dado que vêem os custos das rações subirem ao ritmo da especulação daquele bem no mercado internacional, aludiu.
No sector do leite, com significado na região, a situação ainda é de auto-suficiência, mas é preciso estar alerta, avisou Francisco Lopes.
Política sem futuro
Não foi preciso mais para que alguns dos agricultores expusessem, de viva voz, o beco em que se encontram. Saudando o facto de Francisco Lopes ser o único a vir ao terreno falar com quem trabalha, um médio produtor acrescentou argumentos aos apresentados pelo candidato, sublinhando que ao preço das rações soma-se o elevado custo da energia ou a exploração no crédito, e lembrou as responsabilidades de Cavaco Silva no abandono das PME’s, mesmo quando confrontado com ampla oposição, cujo ponto alto foi a histórica manifestação na Curia, em 1992, quando ainda era primeiro-ministro.
No mesmo sentido, uma pequena agricultora afirmou que «há uns anos vendia o leite a 78 escudos (39 cêntimos) o litro, agora ninguém compra por mais de 27 cêntimos. A carne de vaca valia 700 escudos o quilo (3,5 euros), hoje ninguém compra por mais de 500 escudos (2,5 euros). Dizem para apertarmos o cinto. Mas qual cinto? A carne e o leite dão o ordenado mínimo para uma pessoa. Não contam que temos de gastar em alfaias para cortar o pasto ou em gasóleo para o transportar.
«Os nossos filhos já não têm incentivo. Sabem que não têm horário de trabalho. São 16 e 20 horas de trabalho sem rendimento que se veja», sintetizou num testemunho dito de uma golfada que arrancou o aplauso dos compartes da mesma sorte.
Respondendo ao repto, Francisco Lopes começou por frisar que parte dos rendimentos dos agricultores estão nos lucros acumulados pela Sonae e outros grandes grupos de distribuição, pela EDP, Galp e pela banca, que ainda por cima nem impostos decentes pagam.
«Estes relatos revelam que o que Portugal precisa é de uma política que estimule a produção, e que a actual política representa não apenas um entrave a esse desígnio, mas o afundamento dos pequenos produtores e a expulsão dos mais novos desta actividade».
«Como é que se admite que quem está no Governo e na Presidência da República tenha esta política?», questionou. «Só se percebe porque, para eles, Portugal são os grandes grupos económicos. Os trabalhadores e os agricultores não contam».
Neste sentido, continuou, «não é indiferente quem exerce o cargo de Presidente da República», recordando que Cavaco Silva tem particulares responsabilidades no rumo seguido, uma vez que entre os cargos de ministro das Finanças, primeiro-ministro e Presidente da República, soma 15 anos nas mais altas esferas da governação.
Ao lado de quem trabalha
Depois do encontro com quem teima em dar vida ao mundo rural, Francisco Lopes encontrou-se, em Santa Maria da Feira com trabalhadores do sector da cortiça, predominante naquele concelho. Ali as queixas foram outras, mas a marca de classe da política de direita lá está, indelével. Não sem resistência, lembrou um membro da célula dos corticeiros do PCP, referindo-se à forte adesão à greve geral e às lutas que nos últimos meses têm sido desenvolvidas.
O panorama é de aumento da exploração. O Grupo Amorim, dominante no sector, recebeu fundos públicos e os trabalhadores não viram qualquer benefício. Pelo contrário, usando falsamente o argumento da crise, o patronato tem recusado aumentos de 60 cêntimos por dia exigidos pelos operários. A isto acresce a repressão e a substituição dos trabalhadores efectivos por precários.
Distinguindo-se por estar sem hesitações ao lado de quem trabalha, Francisco Lopes sublinhou que para grupos como o Amorim ou a Galp (do qual o primeiro é um importante accionista), não há cortes. «Cortes só nos salários, nos subsídios e prestações sociais, feitos à medida para não tocar na acumulação da riqueza pelo grande capital. Para o trabalho, só retrocesso», disse ainda o candidato do PCP antes de frisar que «o sector da cortiça carece de uma orientação estratégica no quadro do desenvolvimento do País, mas quem efectivamente produz a riqueza tem de ver o fruto do seu trabalho».
Um trabalhador do Grupo Amorim interveio para exortar Francisco Lopes a avançar sem medo, palavras que o candidatou acompanhou salientando, no entanto, que «ninguém senão os trabalhadores pode impedir este rumo de desastre nacional».
Ampliar a candidatura
A encerrar a intensa jornada no distrito de Aveiro, Francisco Lopes jantou com apoiantes e participou num comício. Intervindo primeiro em Espinho e depois em Ovar, no auditório do Posto de Turismo do Furadouro, frente à Praia Reguila, o candidato que se atreve a contactar o País real porque, ao contrário dos demais, não está refém da política de direita, insistiu em algumas ideias fortes que, ao longo do dia, foi deixando a todos com quem contactou.
«Estamos praticamente a seis semanas das presidenciais e tem havido uma tentativa de fazer submergir estas eleições e a sua importância». Tal «favorece o candidato Cavaco Silva, que dizendo não querer fazer campanha abusa das funções que exerce com ampla cobertura mediática».
Tónica bem diferente merece a nossa candidatura, «que transportando a bandeira da ruptura e da mudança que todos identificam como uma necessidade», é susceptível «de mobilizar os trabalhadores e o povo», facto que demonstra que os padrinhos e executantes de 34 anos de declínio «temem ser responsabilizados no voto».
Por isso, é crucial que «todos os que aqui estão façam desta campanha a vossa campanha. A sua amplificação depende do compromisso que assumam em levá-la a muitos mais, do vosso empenho no esclarecimento», dizendo aos que se queixam da actual situação do País que «não podem ficar pelos lamentos. No dia 23 têm de falar e fazer ouvir a voz da indignação», disse.
Para Francisco Lopes, «esta é a candidatura que acredita num Portugal vinculado a Abril, a um rumo patriótico e de esquerda» e, fiel à Constituição da República, «assume-se não apenas como alternativa para o exercício do cargo de Presidente da República», mas como a única que conta «para a luta que depois das eleições vai prosseguir» resistindo à imposição das mesmas receitas que nos conduziram até aqui e ao agravamento das condições de vida da generalidade do povo.
É que depois de fustigados pelos PEC’s e pelo Orçamento, os trabalhadores são agora alvo de investidas contra a legislação laboral e as remunerações, visando facilitar os despedimentos, aliviar o patronato das indemnizações e «flexibilizar» o valor de cálculo dos salários, explicou.