Comentário

Aquele que faz a diferença

Maurício Miguel

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As­si­nalou-se no dia 1 de Ja­neiro os 25 anos da en­trada de Por­tugal na então CEE, ac­tual União Eu­ro­peia. O facto de es­tarmos em cam­panha elei­toral para as pre­si­den­ciais acres­centa ra­zões para se fazer um ba­lanço sobre o que sig­ni­ficou e o que sig­ni­fica para os tra­ba­lha­dores e para o nosso povo este pro­cesso, par­ti­cu­lar­mente pelas res­pon­sa­bi­li­dades que al­guns dos can­di­datos têm na sua con­dução.

A lei­tura dos seus «ma­ni­festos», «con­tratos», «pro­gramas», ou o mais que eles lhes queiram chamar, ajuda a elu­cidar sobre os seus pro­pó­sitos e sobre o rumo pro­posto para Por­tugal no quadro da in­te­gração ca­pi­ta­lista eu­ro­peia.

Desde logo Ca­vaco Silva, aquele que de forma mais di­recta e ao longo de mais tempo teve res­pon­sa­bi­li­dades po­lí­ticas, no­me­a­da­mente ao nível do Go­verno como mi­nistro das Fi­nanças, pri­meiro-mi­nistro e ac­tu­al­mente como Pre­si­dente da Re­pú­blica. No seu «Ma­ni­festo», Ca­vaco Silva afirma, com a des­fa­çatez que se lhe re­co­nhece, que tudo correu bem até à en­trada da úl­tima dé­cada, «ti­vemos cres­ci­mento eco­nó­mico e con­ver­gência». O pior, na sua opi­nião, veio de­pois, pro­cu­rando es­ca­mo­tear ini­lu­dí­veis res­pon­sa­bi­li­dades pela ac­tual si­tu­ação. Por muito que a ver­dade custe a Ca­vaco Silva, o seu per­curso não lhe per­mite apagar o seu papel na po­lí­tica de com­par­ti­men­tação e ali­e­nação de im­por­tantes par­celas da so­be­rania na­ci­onal aos in­te­resses da UE e das suas grandes po­tên­cias com con­sequên­cias na des­truição de mi­lhares de postos de tra­balho e no au­mento do de­sem­prego, na de­gra­dação dos ser­viços pú­blicos, no de­sa­pa­re­ci­mento de mi­lhares de ex­plo­ra­ções agrí­colas, no abate de mi­lhares de em­bar­ca­ções de pesca, no des­man­te­la­mento de sec­tores es­tra­té­gicos da in­dús­tria na­ci­onal, na par­ti­ci­pação dos mi­li­tares por­tu­gueses em mis­sões ao ser­viço dos EUA e das grandes po­tên­cias da UE e da NATO, no agra­va­mento das in­jus­tiças so­ciais.

Ma­nuel Alegre por seu lado, ao vo­lante do «dois ca­valos» (PS/​BE), bem ao seu es­tilo, afirma: «as forças con­ser­va­doras e o ca­pi­ta­lismo fi­nan­ceiro des­re­gu­lado estão a apro­veitar esta crise para pôr em causa di­reitos so­ciais e des­man­telar ser­viços pú­blicos que em toda a Eu­ropa cus­taram o sa­cri­fício e a luta de muitas ge­ra­ções». Quando Alegre se re­fere às forças con­ser­va­doras es­tará a in­cluir também o seu par­tido, o PS, e os ou­tros PS no go­verno em vá­rios países da UE, no­me­a­da­mente na Grécia e em Es­panha, os co­mis­sá­rios «so­ci­a­listas», o facto de o grupo dos «so­ci­a­listas» ser o se­gundo maior Grupo no Par­la­mento Eu­ropeu? Es­tará a re­ferir-se a todas as me­didas que cá, como um pouco por toda a UE, de­gradam a pres­tação e des­man­telam ser­viços pú­blicos, no­me­a­da­mente na saúde, na edu­cação, nos trans­portes? É uma evi­dência que co­e­rência e Ma­nuel Alegre não ligam. Não se pode de­fender os ser­viços pú­blicos e a po­lí­tica de di­reita com a qual estes ac­tores estão com­pro­me­tidos ao mesmo tempo, é uma con­tra­dição in­sa­nável. Trata-se do canto da se­reia com que Alegre nos foi ha­bi­tu­ando, pro­cu­rando lu­di­briar aqueles que per­se­guem uma ver­da­deira al­ter­na­tiva de es­querda. O per­curso de Ma­nuel Alegre en­quanto mi­li­tante, di­ri­gente e de­pu­tado do PS há dé­cadas, não o iliba das res­pon­sa­bi­li­dades pela ac­tual si­tu­ação do País e pela po­lí­tica de sub­ser­vi­ência aos in­te­resses das grandes po­tên­cias da UE, que de forma al­ter­nada o seu par­tido e o PSD foram pros­se­guindo no Go­verno, como mai­oria na As­sem­bleia da Re­pú­blica ou como mai­oria dos de­pu­tados por­tu­gueses no Par­la­mento Eu­ropeu.

De­fensor Moura, não tendo a mesma no­to­ri­e­dade que o seu «ca­ma­rada», também ele foi au­tarca e ac­tu­al­mente de­pu­tado pelo PS. José Ma­nuel Co­elho é um pro­duto do anti-co­mu­nismo e da ten­ta­tiva de al­guns sec­tores mais re­tró­grados da so­ci­e­dade por­tu­guesa se fa­zerem notar. Sobre a UE não lhe co­nheço de­cla­ra­ções.

Fer­nando Nobre tem um dis­curso contra os par­tidos, os de­pu­tados, como se ele nunca ti­vesse tido uma par­ti­ci­pação po­lí­tica, no­me­a­da­mente apoi­ando Durão Bar­roso, Mário So­ares, e o BE. Sobre a UE, Nobre, não tendo até esta data pro­grama co­nhe­cido com o qual se possa com­pro­meter, afirma: «não posso deixar de as­si­nalar po­si­ti­va­mente estes 25 anos de Por­tugal na União Eu­ro­peia. Seria im­pen­sável que assim não fosse».

Como Fran­cisco Lopes tem re­pe­ti­da­mente afir­mado, a única can­di­da­tura que não está com­pro­me­tida com uma po­lí­tica que clau­dica pe­rante os in­te­resses das grandes po­tên­cias da UE e dos seus grupos eco­nó­micos é a sua (a nossa), uma can­di­da­tura do PCP, dos Verdes e de muitos ou­tros de­mo­cratas que con­nosco con­vergem para a afir­mação de uma al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda, para re­tomar o ca­minho de Abril.



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